quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Pêra, Uva, Tangerina, Ananás

Quem não se lembra dos tempos da escola primária, em que passar o tempo a chamar isto uns aos outros era o pão nosso de cada dia? Quem não se recorda de correr atrás dos matulões mais velhos, porque nos chamavam isto, e era uma ofensa da pior espécie?
Parece que não saiu de cena, só a nomenclatura mudou um pouco.
Toda a santa gente enche a boca para chamar puta à outra gente pecadora. Ninguém se cansa de juntar estas quatro letras e anunciar um julgamento em praça pública, seja de quem for.
E não só para censurar terceiros ; também para as mais variadas situações do dia a dia, o insulto fashion é sempre este.
Perdeu o autocarro? “Olha que puta de sorte!”
Foi ultrapassado pela direita? “Que filho da puta!”
Alguém vestiu uma camisola foleira até dizer chega? “Olhem só como aquela puta vai vestida!”
Moda nacional! Encher a boca e dizer puta serve para tudo, para definir o que não tem definição possível, para expressar desagrado, ou, como em aldeias perdidas nos confins do país, como conheço uma ou duas, puta é tudo o que mexe.
Isto já para não mencionar a típica interpretação tuga da expressão, no que concerne denominações de via maternal, em que parte tudo para a tareia porque se ofendeu mortalmente a progenitora. Força de expressão, é-vos familiar, alminhas do senhor? Já que é tão up to date designar a abreviatura de prostituta na sua forma mais vulgar para tudo o que vêem, e já que banalizam tanto o adjectivo, porque insistem em oferecer porrada quando ouvem o famigerado : “Oh seu filho da puta!”?
Sabem, o intuito da expressão é ofender directamente o agente, e não a matriarca da família! Por isso, se querem partir para a pancadaria, façam-no porque vos insulta, e não porque chama nomes à mãezinha querida.
“Chamar nomes” é uma actividade um tanto ou quanto divertida ( quando há razões para isso ), e limitar isto a uma única expressão, quando há tantas outras que se podem usar, é no mínimo pouco original. Há tantos palavrões giros e que dão vontade de rir, porquê ficar só num?
Em vez de correr atrás de um puto no recreio, ou em vez de esmurrar as ventas de algum cidadão porque foram proferidas palavras profanas sobre a mãe, há que puxar pelo melhor do vocabulário, e vá de empregar da melhor maneira a nossa língua, duma forma despreocupada e divertida.
Muito melhor do que vulgarizar a expressão “olha que filho de uma grande puta” quando alguém se lembra de passar com o carro por cima de uma poça de água e molhar o transeunte que vai descansadinho no passeio.

AS

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