quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Consta ...

Consta por aí que andam umas imperceptibilidades e incompreenções no ar. Parece que caminham por esse mundo mal entendidos e más interpretações do que se diz, vê, e quem sabe, escreve. Surgem umas palavras que ninguém sabe de onde vieram, e gera-se o caos. Gera-se a confusão, porque parece que vêem o Adamastor dentro do texto, preparado para os esmagar com um só dedo. Oh Senhores, tragédia!, drama!, horror!, que somos almas pobres e não percebemos o que vem escrito numas linhas com letras encarrapitadas!

Eu diria que o autor é estúpido e não sabe, simplesmente, escrever, nem expressar-se convenientemente, e seria o único responsável pela perturbação que sucede. Quem não sabe escrever, não se arma naquilo que não é, e não faz asneiras. Fica quietinho no seu canto, sob pena de dar azo a tareias de meia-noite.
Também pode acontecer que, de facto, percebam o texto, mas, convencidos de que são o supra-sumo da interpretação literária, apontam as razões escondidas por trás das palavras, o que se quis realmente dizer por baixo dos véus de figuras de estilo, a verdadeira mensagem contida no que esta a vista, razões essas que acabam por ser sempre as que se aproximam menos da verdade. Curioso, e ao mesmo tempo, engraçado, quando se conseguem ouvir as teorias mais mirabolantes acerca de uma coisa tão pequena, como seja um mísero texto. Inventam, esmiuçam, teorizam, inventam mais um bocado até se convencerem a si mesmos que não podiam estar mais correctos. Era isto mesmo que queria dizer, como sou bom na caça ao tesouro!

Nesse caso, reformularia e diria que o autor deve ter um gozo tremendo ao ver as alminhas
todas em polvorosa, ao tentarem desesperadamente descortinar algo que lhes é desconhecido. Diria que se deve descascar a rir ao ver a tentativa falhada de todos de ver o que não é perceptível, nem ao próprio, e que mesmo de fora, insistem em ser seres letrados e vislumbrar os tumultuosos mistérios por trás de umas quantas linhas escritas em dias em que a visão se tolda.

Tal autor nunca gostou tanto de Fernando Pessoa, nem da sua frase “Ser compreendido é prostituir-se“.






AS

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