quinta-feira, 2 de agosto de 2007

...

Insónias, falta de apetite, uma dor atroz no peito, e um sentimento de incompreensão e angústia assolam-na completamente. Constantemente. Não sente o que faz, nem faz o que sente. Está sempre furiosa, tudo é vazio, tudo é incerto, nada é concreto, nada é fácil
Frenético!
Gira, Roda, Retorce, Rodopia,
E não pára!

“A vida é confusa e não melhora” – disse-lhe ele.

A demagogia foi inevitável, mas assentava que nem uma luva. Era verdade, tinha que ser verdade. A infelicidade de facto, pairava à sua volta, há tanto, tanto tempo, que desconhecia outra coisa. Nada, absolutamente nada do que fizesse parecia afastá-la disto, libertá-la dos grilhões pesados, tentar ser alguém novo, diferente...O ciclo vicioso perpetua-se: uma queda leva à outra e o choque do embate magoa uma,
Duas,
Três vezes...

Até que não magoa...simplesmente é...Instala-se a , o hábito torna-se o companheiro de todas as horas. Nada mais se espera da vida a não ser aquilo.

“Dia 66 – esta inércia corrói, o negativismo mata; rodear-me de quem me entende simplesmente porque partilhamos todos a fossa comum da pena, da dor e da raiva, não é bom. A companhia de iguais a mim não é um conforto, é um vício, e levou-me à estagnação. Tenho que parar”.

Um dia ela parou. O veneno rápido e gélido, que penetrou, entrou, se instalou e que corria em todo o seu corpo, que teimou meses e meses em não a largar, desapareceu subitamente. Qualquer outra substância intravenosa mais poderosa anulou por completo os efeitos deste. Algo de fantástico e maravilhoso e que nunca lhe tinha acontecido antes- inesperado e surpreendente.

“Acho que não venho mais, não sou capaz” – disse-lhe ela.
“Fica! Preciso de ti” – disse-lhe ele.

Por mais que quisesse, e chamasse por ela, nem toda a caridade do mundo a demoveria; nem o medo em apostar na mudança (uma vez na vida que seja!).

“Adeus”.Quem quiser que siga. Acabaram-se as longas tardes de autocomiseração. Ali naquela mesa, de tantos dias, de tantas horas, de tantos cigarros, de tanta gente, nunca houve de facto, apoio. Apenas um sentimento egoísta, um conforto em saber que:

“Não estou só!” Pior!
“Não preciso de me levantar, de mudar, de combater isto”

Ela sabia que a vida era confusa (oh, se era!)mas sabia AGORA, que afinal melhora. Tudo melhora, o ciclo não é perpétuo e facilmente se quebra. Nem que seja por prestar atenção ao que é bom...ínfimo, por vezes, mas bom...

Ele não foi com ela. Ela não insistiu. Foi sozinha. Foi feliz. Descobriu a vida. (Finalmente!)

SB

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