quinta-feira, 23 de agosto de 2007

A Carta

Cara amiga :

Lamento não ter dado noticias ultimamente. Tenho andado ocupada, muito trabalho, demasiados afazeres, não tenho tido tempo para me ocupar de ti e da tua estupidez flutuante. Até pensei que estavas bem sem mim, que não precisarias tanto da minha ajuda e dos meus conselhos neste momento, mas já percebi que não me posso fiar na tua capacidade de te aguentares sozinha sem fazeres asneiras. Tal como uma criancinha de 5 anos, não se te pode deixar sem vigilância, que arranjas logo maneira de partir 3 ou 4 vasos, comer a terra, e ainda te cortares nos cacos. Estava mesmo para te mandar pastar, e tirar umas férias, ir até à praia, apanhar sol, cultivar o bronze, e deixar-te às aranhas com as tuas paranóias.

Mas, também eu tenho consciência – oh sim, não és só tu! – e de facto não consigo voltar costas e ir para as Maldivas estando tu cheia de macaquinhos no sótão.
Vou ser amiguinha e dizer-te palavras doces, limpar-te as lágrimas, fazer-te festinhas nesta hora difícil de mais uma parvoíce inventada por esse cérebro luminoso. Vou ser o mais querida possível, simpática e medida nas palavras para não magoar o teu coraçãozinho e a tua susceptibilidade cor de rosa.

Não, não vou. Deixo isso para quem goste de te bajular, para os teus amigos bêbedos e acéfalos. Não te vou passar a mão pelo pêlo, não vou ser fofinha, nem dizer aquilo que queres ouvir. Não gosto assim tanto de ti, não faço questão da tua companhia, não tenho porque te mentir ou ser simpática.
Mais uma vez, admiro profundamente a tua capacidade de inventares castelos no ar aos quais não podes chegar e depois ainda teres o descaramento de te sentires deprimida por não o conseguires fazer. Acorda, põe os pés na terra, estas a fazer claramente um Dean num copo de shot.
Sabes, não te custa muito seres minimamente razoável. Basta usares os neurónios que te restam das viagens ao mundo dos fumos que dão para rir. Não perdes nada, não te cai nenhum pedaço, não és menos pessoa por causa disso, por pensares um pouco nas coisas, e porque não, dizê-las de uma vez, em vez de ficares a remoe-las tempos sem fim. Para quem apregoa que gosta tanto de dizer tudo e mais alguma coisa na cara de toda a gente, e que gosta tanto de não guardar nada para si, estás a fazer uma figura muito estúpida. Abre a boca de uma vez.
Duas palavras, cara amiga, duas palavras apenas.
Mudam tudo e tiram-te o peso de cima, um peso que criaste e que não precisava de existir. Mas já que assim quiseste, não é assim tão difícil livrares-te dele. Basta abrir a boca e falar. Só duas palavras. Nada mais.
Ninguém morre, tu deixas-me ir de férias em paz, e tens mais anos sem risco de doenças coronárias.
Diz de uma vez.
Estou farta das tuas lamúrias, cansada das tuas pieguices, saturada da choradeira. Na escola primária ensinaram-te a juntar as letras, basta pronunciá-las agora.
Deixa-me ir de férias, sê um adulto responsável e diz, que não é por isso que alguém te respeita menos.
E para a próxima, não me incomodes com coisinhas tão estúpidas. Já que fazes tantos disparates sem me consultares, também não deves precisar assim tanto de ouvir aquilo que te digo.
Duas palavras.
Cumprimentos,
Aquela que te atura.
AS

2 comentários:

Diligentia disse...

também sei de mais gente com macaquinhos no sotão...

SB

Diligentia disse...

essa foi directamente po ceu, que é como quem diz para um deus que eu ca sei
AS