sexta-feira, 31 de agosto de 2007

E agora?!...

Cai agora chuva límpida e cristalina como nunca viste, e de repente um pano escuro desce sobre ti...

Nada vês...

E no entanto tudo parece lúcido; mais que lúcido, vivíssimo! A realidade altera-se, o espaço que te circunda expande-se, tudo cresce, tudo se modifica, nada é estável, e a espiral que emerge dentro de ti transforma-se à medida em que as coisas à tua volta se tornam cada vez mais ininteligíveis. Abismo. Dissipa-se o sentido de tudo aquilo que conhecias, o caos instala-se, está tudo escuro, verdadeira babel. Desapareceu o norte, e o sol, pelo qual sempre te guiaste, perdeu todo o seu préstimo porque a viagem é inaudita, é inédita. Nada do outrora te poderá ajudar porque o desconhecido implantou-se.

E no meio do aturdimento em que te encontras apercebes-te que paraste.

Pões as mãos à cabeça e furiosamente puxas cabelos, arranhas-te, feres a própria pele e com toda a violência arrancas as roupas que tens no corpo; já não te pertencem, não são tuas, nem tão pouco te dizem nada. Não te reconheces.

Quando finalmente arranjas forças para inspirar sofregamente uma lufada de ar, eis que vomitas! Sentes necessidade de o fazer, apenas porque sim. Como que se de um ritual se tratasse, algo que tens de praticar para expelir tudo de mau e errado que conspurcaste durante décadas e que sem notares te corroeu por dentro, e que te desviou de ti mesmo. Pus acre e fétido.

Parabéns! Desligaste-te dos dogmas, quebraste os grilhões que lá estiveram sempre mas que nunca te apercebeste. Ou melhor, apercebeste-te. Tinhas mesmo que o fazer, sob pena do marasmo em que vivias te levar trágica e inevitavelmente à morte. Até seres peso morto, traste sadicozinho errante.

Estiveste em transe. Nasce agora como rebento novo, tábua rasa ávida de saber e de ser finalmente alguém. Percebe que o crepúsculo foi só um passo e que te cabe a ti construir um mundo novo.

A chuva parou. O sol aparece...diferente.
SB

Sem comentários: