segunda-feira, 30 de junho de 2014

O Aviãozinho

Lembro aqueles dias ensolarados, a casa a cheirar a maçãs e o sofá velhinho que rangia quando alguém se sentava, era aos quadradinhos pretos e cremes, o sofá e cabia sempre mais um.

Lembro a máquina de costura ao pé da janela, para aproveitar a luz, da gaveta cheia de botões, tantos botões, milhares de botões, de mil e uma cores, de tantos formatos, o armário dos trapos onde Ela guardava todos os bocados de tecido que alguma vez lhe passaram pelas mãos, uma vez fez-me uma colcha e dois almofadões e um travesseiro só com os bocados de tecido desirmanados e nunca o meu quarto teve tanta graça.

Lembro o gato, que gato, um gato, havia sempre um gato naquela casa, a dormir em qualquer esquina ou a roubar um queijo da despensa, lembro da hora do lanche, daquele pão estaladiço e de côdea dura, a manteiga fresca, o leite quentinho.

Lembro-me Dele a dormir na poltrona, de boca aberta e, quando percebia que o sono era profundo, atirava-lhe sempre um almofada à cabeça. E Ele ria-se.

Lembro aquelas tardes, quase todas, em que Ela me punha a dormir a sesta, que fazia bem, que depois ficas mais fresquinha e esperta para ir brincar, e então deitava-me no sofá, com um cobertor fofinho e tapava a janela com aquela cortina laranja horrível que transformava a sala num aquário silencioso em que toda a atmosfera era laranja, os móveis, as paredes, a televisão. E não tinha vontade nenhuma de dormir, o cobertor picava e fazia calor, queria mexer no gato, mas era hora de dormir.

E lá fora passava sempre um aviãozinho, àquela hora, daqueles que faziam um barulhinho à moda da II Guerra, e prolongava a volta que dava à volta da base aérea e passava por cima da aldeia tantas vezes, e que tinha vontade de ir com o aviãozinho, que me fazia lembrar o sol que estava lá fora, e que podia ir brincar com os outros miúdos na rua, ou ver bonecos na televisão, mas não podia porque era hora da sesta. Tinha, então, uma dor no peito, que na altura não sabia o que era, e tinha vontade de ir brincar, desobedecer, fazer o que queria, queria ser grande para fazer só o que me apetecesse. Uma vez, disse-Lhe, daqui a um mês faço 7 anos e aí já não vais mandar em mim. E Ela riu-se, riu-se tanto que lhe vieram as lágrimas aos olhos, a sua menina tinha sangue na guelra, saía a Ela.

Mas o aviãozinho teimava em passar por cima da casa, todos os dias, àquela hora e eu queria estar em todo o lado menos no sofá a fingir que dormia a sesta, queria ir lá para fora, queria e não podia, quem me dera ser adulta e fazer o que quero, nunca mais vou dormir a sesta.

O avião finalmente aterrou. Anos passaram. 20, 25 anos.
Sou adulta. Faço o que quero.
Eles estão mortos, a casa está fechada, já não há cortina na janela, não há sesta para ninguém.

Hoje passou por aqui um outro aviãozinho, igual àquele de há tantos anos, se calhar ainda era o mesmo. E lembrei-me de todas aquelas tardes em que quis que o tempo andasse mais depressa, só para, depois, me arrepender desses dias que não voltam, que o tempo não pára, só eu estou presa no mesmo momento.

E todas as perdas que sofro me lembram, Dele e Dela, e do aviãozinho que passava por cima da casa onde estava uma miúda que não queria dormir.




'Só Escolhes Música de M*rda'

Quão difícil pode ser escolher uma puta de uma música para, acabada a cerimónia de casamento em si, ficarem os noivos a receber parabéns e demais felicitações das pessoas?

Esta era boa, ó:

Wedding Arrangements - Parte 13

Bonecos parvos para pôr no bolo, maneira muito esperta de gastar uma nota preta em merdas, ainda por cima para umas tretas que de certeza absoluta que alguém me vai roubar e nunca mais os vejo - check!

Cinema Nº ... Coiso

Extremamente fiel ao livro, tem um argumento razoável e interpretações boazinhas, apesar de lhe faltar um elemento fulcral: o outro não é só uma pessoa parecida fisicamente com o personagem principal; é ele. São a mesma pessoa e isso não passa para quem vê o filme, a quem tudo parece desproporcionado e excessivamente melodramático por causa disso.

Excepto para quem leu o livro.

Que foi o meu caso.

E que gostei bastante.

E por causa disso, digo que está engraçado.

E era só isto.

Respirando fundo, que a vida segue, mais pobre e mais vazia.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

'All The Ones That I Have Loved'

 - I will never forget you.
 - That's what being immortal truly means.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Season Finale - O Rescaldo

Sim senhor, muito bom episódio, muito bem feito, estamos muito bem, antevê-se uma temporada 5 para lá de espectacular.

Só um pequeno reparo, acerca da bulha entre a Brianne of Tarth e Sandor Clegane...

DESDE QUANDO, SEUS BODES?, desde quando é que estes dois alguma vez se cruzam?!

E era só isto.

Ai Sim?

O meu ilustre patrão ganhou uma nova mania: em cada email que me envia, a parte final tem um abraço lá escarrapachado.

Podia ser cumprimentos, cordialmente, faça esta merda já, você só faz asneiras ou ainda, muito frequente, diga-se, o que é isto?, que merda vem a ser esta?, quem é este gajo?, mas não.

Um abraço...

Um abraço para si também.


E você?



terça-feira, 17 de junho de 2014

Season Finale


Sempre estou para ver a merdice que vai haver...

Desabafo

Irritam-me um bocado as espeluncas virtuais onde gostava de ir de vez em quando ler uns disparates, apanhar sarna e outras sidoses e contrair cancro da alma fecharem as portas, assim, de um momento para o outro, sem aviso, sem notificações prévias, sem merda nenhuma que o fizesse prever.

É o que dá andar em espeluncas; nunca se pode confiar em sítios duvidosos geridos por pessoas para lá de sinistras.

Acerca do Jogo de Ontem


Cinema Nº ... Coiso

Não esperava tanto cagaço numa história tão banal.
Muito bom!

Leituras ... Qualquer Coisa Serve

Confesso que esperava outra coisa... Contos de ficção científica não são bem a minha colher de chá.
Porém, escrito pela mão de Martin tem, de facto, algum encanto. Martin sabe mesmo como cativar o leitor, mesmo quando a história não interessa ponta de um corno.
Uma experiência diferente.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Amostra de Gato IV

Não havia mais bibelôs (como dizem as belhas) na loja do chinês da esquina, por isso, arranjei o gato para enfeitar os espaços vazios.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Wedding Arrangements - Parte 13

E parece que já há bolo ou o caraças.

Tempo de Adeus

Havia dito, talvez há muitos anos, talvez há poucos dias, que o dia da sua despedida seria diferente. Não haveria tristeza, nem mágoa, nem lágrimas; haveria vinho branco e pastéis de bacalhau. Daquelas coisas que toda a gente diz naquelas horas felizes e que ninguém liga, sem pensar que esse dia efectivamente chega, e essa é a grande ironia da vida, estamos vivos e nem sabemos.

Mas chegou. Cedo demais. E veio a morte, com suas asas imensas e gadanha em riste, e tocou-o, levando-o para longe.

E os amigos, que também sentiram dentro de si aquilo que o levou, lembrando-se das palavras que um dia proferiu, na hora da despedida, trouxeram vinho branco e pastéis para todos, com verbos de amizade, de amor, de afecto, recordando-o como se estivesse ali, no meio deles, com a sua gargalhada rouca.

Ergueram os copos em memória do homem que não queria lágrimas na sua despedida, que queria alegria e boa disposição e beberam em memória do amigo que era contra as tristezas em momentos tristes.
Falharam porque não retiveram as lágrimas, porque a dor e a miséria da perda foram mais fortes e arrastaram tudo à sua passagem. A força da ideia e a memória, porém, pervaleceram.




E nunca um copo de vinho tão bom me soube tão mal.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Coisas Que Acontecem


Não me devia rir.

Mas rio na mesma.

Pobre Cavaco, que já não se aguenta nas canetas...

Apetece-me Grandemente Ser Porca # 47

Já percebi porque é que os advogados têm fama (talvez merecida) de serem malcriados, arrogantes e mal dispostos para toda a gente.

É directamente proporcional ao tamanho do desprezo, despeito e desrespeito que os restantes operadores judiciais lhes merecem.

Principalmente a polícia.

E os funcionários judiciais. Alguns.

Mas é mais a polícia.

Polícia, pois.

Wedding Arrangements - Parte 12

5785495 horas depois, estão as putas das ementas todas enroladas, enfeitadas, depenadas, extravasadas e outros adjectivos terminadas em adas, tais como foda-se esta merda toda.

Cinema Nº ... Coiso

Por acaso, está bastante engraçado e proporciona grandes e boas gargalhadas.
Já percebi que o truque está em ir ver as coisas de Mr. Macfarlane sem qualquer expectativa; acaba por ser sempre uma boa surpresa.

Amostra de Gato - III



O meu estúpido gato está nesta estúpida fase.

Não sei se é do ar da Margem Sul, se é da coca que lhe tenho dado a snifar às escondidas, se é da mania que agora apanhou de beber água do bidé, mas não sei o que isto é.

Qualquer semelhança com o Lenine não será pura coincidência.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Amostra de Gato II


 
Como não tenho mais nada para fazer, espreito, diz ele.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Nonsense Talking Nº ... Qualquer Coisa

 - Para que é isto?
 - É para corrigires.
 - E porque é que eu tenho de corrigir os teus requerimentos?
 - Porque assim sinto-me mais segura.
 - Segura? Segura é com a Evax, pá!. Acaso tenho cara de penso higiénico?
 - ...

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Ai Sim?

O meu ilustre patrão foi ali à loja da esquina comprar um quilo de maçãs e um quilo de bananas.

Para matar a fome durante a tarde, diz ele.

Não contente com a façanha, foi à cozinha buscar a maior travessa que encontrou e dispôs artisticamente a fruta na travessa, que colocou em cima da mesa dele.



E você?