quinta-feira, 12 de junho de 2014

Tempo de Adeus

Havia dito, talvez há muitos anos, talvez há poucos dias, que o dia da sua despedida seria diferente. Não haveria tristeza, nem mágoa, nem lágrimas; haveria vinho branco e pastéis de bacalhau. Daquelas coisas que toda a gente diz naquelas horas felizes e que ninguém liga, sem pensar que esse dia efectivamente chega, e essa é a grande ironia da vida, estamos vivos e nem sabemos.

Mas chegou. Cedo demais. E veio a morte, com suas asas imensas e gadanha em riste, e tocou-o, levando-o para longe.

E os amigos, que também sentiram dentro de si aquilo que o levou, lembrando-se das palavras que um dia proferiu, na hora da despedida, trouxeram vinho branco e pastéis para todos, com verbos de amizade, de amor, de afecto, recordando-o como se estivesse ali, no meio deles, com a sua gargalhada rouca.

Ergueram os copos em memória do homem que não queria lágrimas na sua despedida, que queria alegria e boa disposição e beberam em memória do amigo que era contra as tristezas em momentos tristes.
Falharam porque não retiveram as lágrimas, porque a dor e a miséria da perda foram mais fortes e arrastaram tudo à sua passagem. A força da ideia e a memória, porém, pervaleceram.




E nunca um copo de vinho tão bom me soube tão mal.

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