segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Gato ou Gata

O altruísmo é um sentimento nobre. Também será um sentimento e um fenómeno, como se costuma dizer, danado.

Porquê?, pergunta-se.

Responderá alguém mais sábio, que nem aquilo que é bom por natureza é simples de explicar, ou tem sequer uma explicação, plausível pelo menos.
Altruísta será aquele que pensa nos outros primeiramente, que dá a mão para ajudar seja em que circunstância for, que tudo fará para ajudar, dispondo de muitos ou poucos meios. Por contraposição ao egoísmo, obviamente, que não gostará de mais ninguém a não ser de si próprio, e tudo o que vier por arrasto é para próprio proveito.

E se o altruísmo, como sentimento nobre que com toda a certeza é, também fosse uma forma de egoísmo? E se se for altruísta para camuflar o egoísmo que se traz dentro da barriga? Não será o próprio egoísmo que salta de dentro dos corações quando se protegem as acções com amor ao próximo?

Não será líquido, mas é uma explicação.
Ser humano não seria completo se não pusesse em marcha um planozinho qualquer que lixasse o próximo e beneficiasse o próprio. E por que não ir ajudar o próximo com intuito, não de conseguir angariar proveitos directos para o agente, mas de alguma forma aplacar um qualquer sentimento interno que paira no coração, e que incomoda de tal maneira, que se é compelido a fazer-se qualquer coisa, a pôr a mão por baixo, a querer auxiliar de alguma maneira? Que tal, em vez de se tirar partido porcamente da situação de penúria do outro, ir lá, sim senhor, cumprir dever e ajudar, mas e correr para lá porque se sentiu o coração apertado, não de pena, não de compaixão, mas de algo muito mais ... humano. A velha e eterna questão, que assalta o espírito e que faz despertar a mente para outras realidades, outros medos, outras frustrações : e se fosse comigo? Se fosse eu a sentir aquela dor, aquele pesar, aquela mágoa, aquele sofrer, que faria, que iria sentir, quem me valeria na minha hora de susto? E o que possa parecer o maior gesto de altruísmo, colocar-se no lugar da pessoa, sentir as suas dores e ser capaz de ser bom o suficiente para ir oferecer a sua ajuda, não passa, ele mesmo, de uma demonstração de egoísmo? Não será o sentir, na pele, com o que se vê mesmo ao lado, que tudo pode ficar mais difícil, não será egoísmo?

Quem me valerá na minha hora de treva? Será melhor trilhar caminho, fazer aos outros para criar uma espécie de obrigação natural que terão de cumprir um dia mais tarde, quando chegar a minha hora.

E tudo se transforma num grande tubarão de barbatana na bocarra. Egoísmo ou altruísmo, o que faz mover a mão estendida? Por amor ao próximo ou para aplacar as exigências do ego?
O que é bom não tem que ser explicável.

2 comentários:

Лев Давидович disse...

Foram só umas fotocopias...

Diligentia disse...

Quem?!