sexta-feira, 21 de novembro de 2008

6 Meses Sem Ela

A enfermidade terá as suas vantagens. Muito poucas, mas terá algumas. Umas delas será o sossego para poder ouvir o que ao redor se passa. Quando não se pode falar, porque os bichos que andam no ar acham aprazível viver em garganta alheia, ouve-se melhor e pensa-se mais profundamente quando o barulho da própria voz não perturba o andamento do pensamento.

Percebe-se que está tudo em movimento e que as mentes fervilham alegremente, e que os corpos animados atarefam-se em volta das costumeirices mundanas.

Alguém vai à televisão e diz que o que seria necessário seriam 6 meses sem Democracia, que depois desse tempo, regressaria, para colocar tudo nos eixos.
As mentes fervilham e abrem a boca para dizer asneiras. E os corpos animados atarefam-se em volta das trivialidades e ninguém dá conta que uma alarvidade é dita em frente ao país das formigas ocupadas.

Sempre se ouviu dizer, aqui em terras a 23 minutos de Lisboa, que a idade tudo traz. Será a senilidade a justificação para declarações anti-democráticas? Estará a própria Democracia a dormir, descansadinha, com uma máscara exfoliante e pepinos nos olhos e por isso não pode sentir-se atacada ou ofendida com o sucedido?

Ah, não, esperem lá!

Afinal, era uma crítica, velada por certo, e irónica, sem sombra alguma de dúvida, aos que governam e que esses sim, os malandros que gozam com a Sra. Democracia, que fazem dela um monstro cheio de borbulhas e olheiras, que pode ser afastada durante 6 meses sem que nada o impeça ou alguém dê por isso. Era só uma crítica, uma maneira irónica de dizer mal, forma sarcástica. Ah, então assim já pode ser, pronto, nem se fala mais nisso, foi um engano, era uma crítica e não um ataque à democracia. Claro como é que não se percebeu antes?

A azáfama diária dá cabo das formigas. O Natal que se aproxima também não deve ajudar muito a manter a sanidade. Então, diz-se para todos ouvirem que a Democracia teria de ser afastada por 6 meses e depois espera-se que todos acreditem que de uma ironia se tratou?

Não há resposta para isto? Não há indignação? Não há revolta? Tivemos tanto trabalho a pôr cá uma Democracia a morar, todos os anos andamos no mesmo dia andamos de cravo ao peito, só para enfeitar com certeza, porque quando se ataca as fundações do que se vive todos os dias, todos fazem orelhas moucas porque se trata de uma crítica e tal, e pode-se e é assim. Falta também a ideia do fora de contexto, fica sempre bem.

Algumas pessoas, quando ficam velhas, gostam de apelar ao velhos tempos, à doçura de Salazar, à moral e aos bons costumes, à pureza daquele tempo.

Outros crêem que trazer do novo o Salazar e a sua corja será o remédio para todas as maleitas da Democracia, essa leviana que trouxe a liberdade e a igualdade.

E outros os há ainda que crêem que umas férias para a dita Senhora seriam o indicado.





Qual é a diferença entre as duas últimas premissas?

Sem comentários: