domingo, 16 de setembro de 2007

A Conversa

“Às vezes penso que tudo é um sonho e que não tarda nada volto a acordar. Com aquela nítida sensação, de tontura e confusão, de quem esta a ver algo que sabe que não pode ser real. A desejar só mais uns minutos de sono antes do despertar agudo do relógio. E aproveitando até ao derradeiro segundo todos os momentos do belo sonho.
Continuo a achar que daqui a nada vou estar deitada na cama, de olhos fixos no tecto, com um peso no peito, e a certeza de que não passou de um sonho, não podia nunca ser real. Não era para mim, foi só um sonho. Só um sonho, nada mais.
Mas não. Não foi fruto de imaginação adormecida, nem inconsciente superactivo. É mesmo real. Está aqui. É tudo verdade. Nada pode ser mais verdade que isto. Não há mais certeza nenhuma com a forca disto.
E se for só imaginação? E se imaginei tudo? E se o imaginei, e se me imaginei nesta situação? E se houver ainda a possibilidade de nada disto ser real? Se nada for verdadeiro? Sou o quê? Sou o quê no meio disto tudo?
Nada. Não sou nada sem isto.”


- Muito bem, minha senhora. Vai continuar com a medicação prescrita e amanhã volto para conversar consigo, está bem? Se continuar assim, a fazer progressos, talvez possa ir passar o Natal em casa, que lhe parece?
AS

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