segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Daquilo Que Não Se Escolhe

As festividades provocam em mim um sentimento terrível de ódio. E raiva.
Não porque não goste do Natal e das festas que a ele vêm acopladas, mas porque sou obrigada a conviver com a família que me calhou em sorte. Família essa que seria maravilhosa não fossem dois elementos que, simplesmente, não suporto.
Não se sabe se é da mentalidade desta terra, se é da génese do ser humano no geral, há sempre um certo pudor em falar mal ou, tão simplesmente, não gostar de elementos que compõem a família. Tem-se sempre um certo receio de demonstrar que há uma ou outra pessoa que não enche as medidas, que era dispensável existir, que podia tão bem ir à vidinha, mas não, continua ali a melgar, a estragar festividades e convívio que podia ser saudável e feliz.
Aquelas duas pessoas estragam tudo o que de bom aquele aglomerado de restantes tem. Estragam o conjunto, estragam a harmonia, estragam a coesão.
Portanto, quando penso que há ajuntamento e que aquelas duas alminhas estarão necessariamente por perto, sinto uma onda de calor a invadir-me as entranhas, calor que se espalha pelo resto do corpo, toldando-me a ideia, enchendo-me de pensamentos sangrentos e fantasias tórridas em que, de repente, tenho à mão uma espada e não tenho sossego enquanto aquelas cabeças não rolarem pelo chão.
E assim se passam dois ou três dias em que o sangue me ferve nas veias e vejo tudo vermelho quando aquelas duas pessoínhas estão por perto.
Até podia ser daquelas coisas que uma pessoa podia ignorar, fingir que não via nem ouvia o que era dito, mas não. Os dois serem fazem questão de passear a sua estupidez crónica, fazem questão de exibir o quão idiotas são, fazem questão de destoar no meio da gente boa; fazem questão de ser uma merda, constante e perene, fazendo ponto de honra em destabilizar o núcleo familiar fofinho e confortável.
Os restante, fingem que não as ouvem, dizendo que sim com a cabeça para não dar azo a estupidez maior. Não consigo fazer tal, é um ultragem ao meu mau feitio deixar passar uma oportunidade de mandar à merda pessoas tais que se esforçam ao máximo para estragar a vida a toda a gente.
Não percebo o fundamento de não se poder não gostar de membros alguns da família; afinal, é ponto assente que a família em si, embora importante, não é mais que uma imposição, pela natureza da coisa. Não será portanto obrigatório gostar de toda a gente. Até porque há gente que nem merece que se goste nem fazem por isso; parece que o objectivo é precisamente o contrário.
O que é que se ganha com isso, não sei.
Qual o propósito, também não faço ideia.
O que se sabe é que seria um nada mais feliz se soubesse as razões; podia em nada solucionar, porém, vivia com o saber, que não ocupa lugar nenhum.
E assim se passa um Natal, tempo de paz e amor, a pensar em lança-chamas e catanas a cortar membros.

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