quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O Homem Moderno

Ultimamente, leia-se, nos anos recentes, toda a santa gente enche a boca para dizer que falta cavalheirismo aos homens. Enfim, os velhos gestos, o segurar a porta para a senhora passar, o abrir a porta do carro, dar passagem, pagar a conta, oferecer flores, levantar-se quando uma senhora se levanta da mesa, e todos esses gestos da antiguidade que exemplificam um verdadeiro senhor.
Parece que as mulheres esperam ardentemente que voltem a existir estas maneiras, ou, qual espera de D. Sebastião desaparecido, volte a haver, um dia, esta espécie de homem.
Pessoalmente, pugna-se para que esta mania de ser cavalheiro nunca mais conheça a luz do dia.
Não é preciso segurar a porta; ainda as mulheres têm mãos, não?
Não é preciso deixar passar a senhora; se foi o homem que chegou primeiro, qual é o sentido? A não ser que o sítio para onde se entre dê prioridade às portadoras de vagina, é igual ao litro, não?
Não é preciso abrirem a porta do carro. Mais uma vez, as gajas têm ou não têm mãos? A não ser assim, não se punha o raio da manípulo do lado de dentro da portas dos carros...
Não será necessário estarem sempre de carteira esticada a pagar a conta. Afinal, as mulheres também têm alguma independência financeira, trabalham como os homens, não são pedintes ou orfãs desvalidas que precisem de ser alimentadas.
Ai oferecem flores? Que queridos. Pois podem levá-las de volta, não são apreciadas.
E nisto consiste o cavalheirismo. Tratar as mulheres como se fossem de papel, frágeis que só elas, uma rabanada de vento e lá foram elas, coitadinhas, e ainda acharem muito bem porem-se com estas demonstrações de carinho e respeito extraviado.
Vá lá ver, as manifestações daquilo a que chamam cavalheirismo não mais que restos da forma medieval como as mulheres eram tratadas, ai que horror, o que acabaste de escrever, que coisa mais parva, pois sim, claro, antes as mulheres eram consideradas seres inferiores, era preciso mantê-las debaixo de olho, não só para que não fugissem como também para não levantarem cabelo, para não fazerem ondas, para não se tornarem demasiado espertinhas e independentes.Quando os tempos mudaram, a desculpa passou a ser a da protecção, que as mulheres são tão vulneráveis, há que proteger, pois então, que lhes pode dar uma coisinha má, e quem melhor para as proteger senão os homens?
Anos e anos de luta para a igualdade de géneros, luta que não acabou, deu que o raio do cavalheirismo fosse posto de parte, não que não se aprecie a boa educação, mas agora as mulheres recusam a tomar parte em papéis de debilidade e fragilidade emocional.
E agora querem que ele volte? A sério?
Desejam ser bajuladas, é isso?
Ah, pronto, bajule-se então à vontade; mas não com cenas medievais.
Pode ser?

Sem comentários: