quinta-feira, 6 de julho de 2017

Não É Por Falta de Vontade

Tenho andado um bocado atarantada com a nova vida, essa é a verdade.

Se antes podia chegar tarde mas tinha que, necessária e obrigatoriamente, sair tarde, agora chego cedo e saio igualmente cedo (pelo menos por enquanto), mas no entretanto não há tempo para grandes pausas.

Pausas nenhumas, a bem da verdade.

Aqui, não se pára para comer um lanchinho a meio da manhã ou tão pouco a meio da tarde. No outro lado, era um regabofe nesse aspecto, se quisermos ser abonadores da verdade, havendo, claro!, o reverso da medalha: ficar a trabalhar pela noite dentro e ouvir bocas do patronato sobre a quantidade de comida que consumíamos (que nem sequer era do escritório, era nossa) e em como esse facto influenciava as contas da água por causa das vezes que íamos, a seguir, à casa de banho. Bolas, ao escrever isto é que me apercebo das enormidades que ouvi ao longo destes anos todos... Enfim, adiante.

Não se vai para a sala uns dos outros alapar o cu e conversar. Quer dizer, até se vai, mas é de fugida porque há sempre alguém a passar e a ouvir a conversa, ainda para mais, e porque o chão é todo alcatifado, não se ouvem os passos, maneiras que estar a falar mal do patrão ou a conspirar para tomar esta porra de assalto e estar quem manda mesmo atrás é o pão nosso de cada dia. No outro lado, também, agora que me lembro disso... A única vantagem era que o chão era de madeira e quando se ouviam passos era ver-nos a fugir como as baratas da chuva.

Não há cá pausas para cigarros, a não ser que se queira levar com trombas do patrão o resto da semana. Esta, confesso, foi uma facada no meu coração. Muito bom para a minha saúde, claro, mas muito mau para o meu vício. Não há janelas abertas porque simplesmente não se abrem as janelas no centro de Lisboa, como fizeram questão de me dizer logo no primeiro dia, por causa dos pombos, que gostam de entrar pelas casas dentro e espalhar a sua peçonha onde tocam. Num escritório tão grande, em que há mais do que uma sala vazia, ninguém se lembrou de fazer de uma delas uma bela sala de chuto, só para fumadores. A bem da verdade, só para mim, que sou a única que fuma. Já percebi porque é que não há sala de fumo, tudo bem.

Maneiras que o pessoal aqui trabalha ininterruptamente, sem levantar a cabeça, sem se desviar do objectivo e sem se distrair com coisa alguma. O que é bom. Acho que nunca fui tão produtiva. (quer dizer, agora não estou a produzir, mas é só porque estamos sem sistema informático)


Nem tudo é mau, portanto.

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