Mais um ano, mais um Natal que se aproxima. Este ano chegou rápido, nem sei como não vi o tempo passar. É daqueles tempos que passamos a vida a querer que chegue, e quando finalmente cá está nem se dá por ele. Que ironia.
Mas, ironias e sarcasmos à parte, não te escrevo para te pedir presentes, com a desculpa de que fui extremamente bem comportada e boa menina.
Na verdade, fui a mesma cabra de sempre. Fiz asneiras, umas atrás das outras, como sempre. Não me contive a pensar que devia ser boa ou má, simplesmente fiz. Também fiz coisas boas… quer dizer, devo ter feito, mas não me lembro.
Fizeram-me coisas menos boas também, e como boa menina que pretendo ( não ) ser, não perdoei, e espero ardentemente que venha o tempo em que possa pagar na mesma moeda. Também me fizeram coisas boas, dessas, só me lembro de uma, que continuo a prezá-la do meu lado.
Por isso, não preciso de me justificar e dizer como fui boazinha, porque não é verdade, e rastejar, pedinchando presentes que já sei que toda a gente me vai dar. Não consigo ver o tamanho da estupidez de semelhante atitude, e fazer as crianças passar por isso é do mais idiota, e até cruel, que se pode fazer ; fazer penar alguém pelos supostos pecados cometidos só para, no fim, receber uns quantos presentes no sapatinho é ridículo e altamente maldoso. Ainda para mais, tendo em conta que são pequenos e que não tem exactamente a capacidade de se portarem bem a tempo inteiro. Não tenho ideia de qual será o propósito subjacente a isto, mas deve ser algum.
Muito estúpido, mas com certeza, existente.
As futilidades habituais já os suspeitos do costume mas vão dar ; de resto, não preciso de nada, obrigado. Por isso, também não preciso de me portar bem, já que sou a prova de que bom comportamento e bons presentes não andam necessariamente de mãos dadas.
Essencialmente, escrevo para te mandar pastar. Não!, para te mandar à merda, que é mais correcto para com as minhas intenções.
Porquê? O grande motivo acabei por já o explanar ; não percebo qual é a ideia de incutir em criancinhas o espírito do cinismo, da hipocrisia e do consumismo atroz, de se fazerem boas e portarem-se bem para terem mais um ou outro brinquedo que, nos dois meses a seguir às festas estará destruído, desmontado, desaparafusado, amolgado, quebrado.
Não entendo qual será o objectivo de incutir uma cultura de interesseirismo, de fazer alguma coisa para obter um bem material.
É esse o espírito do Natal? E afinal o que é o espirito natalício? Aquele que faz com que as pessoas que durante um ano inteiro se tratam mal, se violentam, se maltratam ou pura e simplesmente, se ignorem, se juntem agora na mesma mesa e comam da mesma travessa? Aquele que faz com que, por uma noite, todos finjam ser felizes, mesmo que não o sejam, nem desejem estar uns com os outros?
É para isto que há o Pai Natal? Para ensinar as futuras pessoas crescidas a tornarem-se cínicas quando chega o mês de Dezembro? É isto que se pretende, ao invocar-se e idolatrar-se, até, a figura do Pai Natal?
Parece-me que sim, que é este, de facto, o objectivo principal. Para que todos tenhamos uma época festiva feliz e despreocupada, fingimos todo ser bons, ser simpáticos e altruístas, fingimos gostar todos uns dos outros ; assim, recebemos mais presentinhos e o bacalhau cai-nos melhor.
Porque no resto do ano, não há Pai Natal. Não há bondade nenhuma, porque também não há presentes para receber. Não há simpatia nem altruísmo, porque todos se marimbam para quem se senta à mesa da Consoada. Porque, afinal, funcionamos todos como os burros, que só andam para a frente, se o homem que estiver em cima lhe puser uma cenoura à frente dos olhos, que o faz mover. Nada nos distingue.
É esta a ideia que se quer transmitir do Pai Natal? Que não passa de um velhaco que ensina trafulhices consumistas aos putos?
Prefiro pensar que não existes de todo. E por isso, mando à merda uma inexistência material.
Feliz Natal.
Mas, ironias e sarcasmos à parte, não te escrevo para te pedir presentes, com a desculpa de que fui extremamente bem comportada e boa menina.
Na verdade, fui a mesma cabra de sempre. Fiz asneiras, umas atrás das outras, como sempre. Não me contive a pensar que devia ser boa ou má, simplesmente fiz. Também fiz coisas boas… quer dizer, devo ter feito, mas não me lembro.
Fizeram-me coisas menos boas também, e como boa menina que pretendo ( não ) ser, não perdoei, e espero ardentemente que venha o tempo em que possa pagar na mesma moeda. Também me fizeram coisas boas, dessas, só me lembro de uma, que continuo a prezá-la do meu lado.
Por isso, não preciso de me justificar e dizer como fui boazinha, porque não é verdade, e rastejar, pedinchando presentes que já sei que toda a gente me vai dar. Não consigo ver o tamanho da estupidez de semelhante atitude, e fazer as crianças passar por isso é do mais idiota, e até cruel, que se pode fazer ; fazer penar alguém pelos supostos pecados cometidos só para, no fim, receber uns quantos presentes no sapatinho é ridículo e altamente maldoso. Ainda para mais, tendo em conta que são pequenos e que não tem exactamente a capacidade de se portarem bem a tempo inteiro. Não tenho ideia de qual será o propósito subjacente a isto, mas deve ser algum.
Muito estúpido, mas com certeza, existente.
As futilidades habituais já os suspeitos do costume mas vão dar ; de resto, não preciso de nada, obrigado. Por isso, também não preciso de me portar bem, já que sou a prova de que bom comportamento e bons presentes não andam necessariamente de mãos dadas.
Essencialmente, escrevo para te mandar pastar. Não!, para te mandar à merda, que é mais correcto para com as minhas intenções.
Porquê? O grande motivo acabei por já o explanar ; não percebo qual é a ideia de incutir em criancinhas o espírito do cinismo, da hipocrisia e do consumismo atroz, de se fazerem boas e portarem-se bem para terem mais um ou outro brinquedo que, nos dois meses a seguir às festas estará destruído, desmontado, desaparafusado, amolgado, quebrado.
Não entendo qual será o objectivo de incutir uma cultura de interesseirismo, de fazer alguma coisa para obter um bem material.
É esse o espírito do Natal? E afinal o que é o espirito natalício? Aquele que faz com que as pessoas que durante um ano inteiro se tratam mal, se violentam, se maltratam ou pura e simplesmente, se ignorem, se juntem agora na mesma mesa e comam da mesma travessa? Aquele que faz com que, por uma noite, todos finjam ser felizes, mesmo que não o sejam, nem desejem estar uns com os outros?
É para isto que há o Pai Natal? Para ensinar as futuras pessoas crescidas a tornarem-se cínicas quando chega o mês de Dezembro? É isto que se pretende, ao invocar-se e idolatrar-se, até, a figura do Pai Natal?
Parece-me que sim, que é este, de facto, o objectivo principal. Para que todos tenhamos uma época festiva feliz e despreocupada, fingimos todo ser bons, ser simpáticos e altruístas, fingimos gostar todos uns dos outros ; assim, recebemos mais presentinhos e o bacalhau cai-nos melhor.
Porque no resto do ano, não há Pai Natal. Não há bondade nenhuma, porque também não há presentes para receber. Não há simpatia nem altruísmo, porque todos se marimbam para quem se senta à mesa da Consoada. Porque, afinal, funcionamos todos como os burros, que só andam para a frente, se o homem que estiver em cima lhe puser uma cenoura à frente dos olhos, que o faz mover. Nada nos distingue.
É esta a ideia que se quer transmitir do Pai Natal? Que não passa de um velhaco que ensina trafulhices consumistas aos putos?
Prefiro pensar que não existes de todo. E por isso, mando à merda uma inexistência material.
Feliz Natal.
AS
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