quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Clarividências

Vejo um dia de inverno, vejo o vento que bate na janela e faz os vidros dançarem nos caixilhos. Vejo o frio que ataca as pessoas na rua, que as faz andar completamente cobertas com cobertores de calor. Vejo o sol, tímido, que espreita entre as nuvens escuras.
Vejo vidas que correm na minha frente. Umas que se acabam, outras que começam. Outras ainda que simplesmente, estagnam ; e ali ficam. Ficam quietas, sossegadas, imóveis ; vêem outras vidas passar, sem notarem, sem preocupação, sem mágoa ou mácula. Não se mexem, não morrem. Mas também não vivem. Simplesmente existem.
Vejo o que não se mexe, inerte, amorfo, quieto no seu canto à espera que a vida aconteça. Vejo o que se gasta e se consome, que se destrói e amargura por causas perdidas, por coisas perdidas, por experiências já vividas.
Vejo quem não consegue lutar sozinho, se arrasta na corrente, que não tem força para se levantar e correr.
Vejo quem se afoga sozinho, com o frio a invadir-lhe os pulmões, a perfurar-lhe a carne, a apodrecer o último laivo de esperança.
E a seguir morrem. Sozinhos. Tristes. Abandonados.
Vejo tudo isto pela janela, num dia de inverno.
Janela que não mostra o meu reflexo.





AS

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