quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Chá da Pérsia - Parte V

- Vamos lá ver! – o homem vinda da chaleira colocou as mãos à volta da cintura, num gesto de desafio.
- Quer explicar-me? Por favor?
O homem pareceu reconsiderar, por breves instantes. Depois, fingindo que não tinha havido qualquer interrupção, prosseguiu.
- Como é realmente importante o que me pediste, terá de ter uma contrapartida, o tal preço que te disse. Exactamente por ser de extrema importância, muito acima de dinheiro e imortalidade, é que é muito mais valioso, logo tem que ser trocado por outra coisa.
- Porquê?
- Para que lhe possas dar valor. O devido valor.

Ela ficou em silêncio, tentando adivinhar o que lhe seria pedido em troca do seu desejo.
- E qual é o preço que terei de pagar?
- Há gente que não vai ficar lá muito contente com o facto de seres feliz.
- Há?
- Pois. Não vão ficar mesmo nada contentes, vão-te fazer passar um mau bocado. Não vão gostar de te ver bem, vão-te fazer mal.
- Mas como? Ciúmes, ou assim?
- Mais ou menos. Dor de corno, diria eu, mas isso já é a minha opinião. O que é certo é que não vão ficar nada contentes, nada satisfeitos com isso.
- Então, eu vou deixar de ser feliz por causa dessas pessoas? Porque elas me fazem mal, eu deixo de ser feliz?
- Não, por tu seres feliz é que te vão fazer mal. Mas tu não deixas de ser feliz, nada disso. Vais é ter que, de certa forma, arcar com esta consequência. É o preço a pagar.
- Mas então e se eu não quiser saber? Se me estiver a borrifar para que não fiquem contentes comigo, se eu me estiver as tintas?
- Não serão pessoas quaisquer que se revoltarão.
- Não?
- Não. Vai-te custar. Mas é o preço.
Remeteu-se ao silencio, à espera da resposta dela. Um segundo depois, já ela parecia pronta para lhe responder.

- Aceito.
- Aceitas? - perguntou ele, surpreendido com a rapidez da resposta.- Olha que isto não é a brincar, é mesmo muito a serio. Tens a certeza?
- Tenho. Disse-me que não serão pessoas quaisquer a ficarem descontentes, não foi? Ora, não podem ser meus superiores hierárquicos, que ainda estudo, não tenho emprego, também não tenho patrão, também não posso ficar na rua. Logo, devem ser outras pessoas próximas de mim, então. E se assim for, ainda bem que é desta forma ; é assim que se vê a verdadeira face das pessoas. Se me são próximas, mas não se alegram com a minha felicidade, então mais vale que não sejam próximas coisa nenhuma. Aí, verei com quem posso contar, poderei fazer uma escolha.
- Muito bem. – assentiu o génio, positivamente impressionado. – Gosto do raciocínio. Sabes o que está em jogo…
- Por acaso, não sei…
- Mas é como se soubesses! Miúda insolente! Enfim, se aceitas as condições, então posso conceder-te o desejo. Não será assim?
- Pode ser.
- Ok.- disse o génio. Do nada, fez surgir qualquer coisa, que fechou firmemente na mão.- Desejo concedido. E passou-lhe para as mãos o que tinha escondido nas suas.
AS

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