terça-feira, 20 de novembro de 2007

Chá da Pérsia - Parte III

- Para quê?!
- Para os apanhados. Para aquelas partidas que dão na televisão que enganam as pessoas e …
- Eu sei o que são apanhados!- gritou o homem, completamente encolerizado- Como te atreves a duvidar assim de mim? Como te atreves a pôr em causa o que faço e a compará-lo com joguinhos idiotas?!
O fumo que os envolvia ia ficando cada vez mais escuro, deixando de ver as casas em redor.
- Pronto, pronto, não se zangue! Eu peço os tais desejos, eu acredito em si, a sério que sim …Posso pedir qualquer coisa?- atabalhoadamente, tentando acalmar a fúria do génio.- Qualquer coisa mesmo?
- Até que enfim, arre! Podes, sim.- disse o homem, menos arreliado. O fumo voltou lentamente à sua tonalidade azulada.
- Er … pois, deixe lá ver … pois, acho que sim … Desejo nunca mais ter que me preocupar com dinheiro.
- Quer isso dizer, que desejas ter muito dinheiro? Assim, muito rica?- perguntou o génio, erguendo uma sobrancelha.
- Pois, se nunca mais preciso de me preocupar com dinheiro, quer dizer que tenho tanto que não me importa onde o gasto …
- Que pedido original, não haja duvida … seja. Desejo concedido. Próximo …?
- Mas já está, como? Já sou rica?! Mas não era suposto qualquer coisa brilhar, encher-me os bolsos de moedas de ouro, ou qualquer coisa assim?
O homem fez um trejeito de puro tédio.
- Estes miúdos são mesmo estúpidos. Não, não é suposto. Isso é nos filmes da Disney, aqui não há cá nada disso, é à moda antiga e está a andar. Se não estás contente …
- Não, não, estou contente, sim! – apressou-se ela a dizer- Eu acredito em si.
- Pronto, está bem. O primeiro já está. Próximo desejo.
- Pois, sim … então … mas sou mesmo rica? Mesmo, mesmo?Fazes perguntas demais. És, porra, acabei de te dizer que sim, que já te tinha concedido o desejo. Passas ao próximo ou como é?
- Sim, sim, claro. Então … pois … desejo também nunca mais precisar de ir ao médico.
- Mau, mas isto agora é tudo assim?
- Assim como?
- Encriptado, e eu que te perceba, não? Queres o quê, saúde, é isso?
- Pois, era isso mesmo.
- Raio de miúdos sem juízo nenhum! Terás saúde, uma saúde de ferro indefinidamente, está bom assim?
- Está óptimo. Muito obrigado.
- Ok, ok, agora agradece, vejam só … Desejo concedido. Falta-te um.
Ela não respondeu. Por momentos, parecia lutar contra qualquer coisa dentro de si, até que, quando finalmente falou, a voz parecia ligeiramente embargada, mas mesmo assim, firme.
- Quero ser feliz.
AS

2 comentários:

Anónimo disse...

eu pedia mais um milhão de desejos.

Diligentia disse...

Bem pensado.
AS