domingo, 18 de novembro de 2007

Chá da Pérsia - Parte I

Distraída, caminhava na rua, pensando em coisa nenhuma, quando os seus pés batem nalguma coisa metálica, fazendo-a rebolar pelo chão, causando um enorme estardalhaço.
Olhou para baixo, tentando identificar o objecto que pontapeara. Parecia um bule de chá, velho e cheio de buracos, cujo cobre carcomido e gasto há muito que havia perdido o seu brilho. Pegou-lhe, decidida a colocá-lo no contentor do lixo mais próximo, para que mais nenhum transeunte incauto voltasse a assustar os gatos das proximidades com o barulho da chaleira a ser projectada rua abaixo.
Assim que os seus dedos tocam na superfície imunda do velho bule, este começou a tremer e a vibrar, emitindo um ruído semelhante a uma sirene, quando uma luz azulada lhe ofuscava os olhos. No segundo seguinte, o bule deixou de ser ver, enquanto uma espessa nuvem de fumo enchia as proximidades, envolvendo-a e ao objecto cintilante num cortina opaca.
No meio do fumo, surge um vulto de uma figura humana, que se eleva nos ares, e olha em volta. Os seus olhos escuros e oblíquos revistam-na de alto a baixo, como que à procura de provas em como tinha sido mesmo ela que teria provocado a estranha cena. Ela, aparvalhada pela surpresa e pelo absurdo da situação, tenta não tossir com o fumo à sua volta, lacrimejando,observando a medo a personagem que surge na sua frente.
Parecia-lhe um homem, jovem e forte, de expressão impassível e rígida, de nariz afilado, e olhos penetrantes ; todavia, não podia ser um homem normal uma vez que a solidez do tronco parecia esbater-se lentamente, não possuindo nem pernas nem pés, que pareciam unidos ao troco pelo mesmo fumo que os rodeava e que dava a ideia de surgir directamente do bico do bule.
- Que desejas? – perguntou ele, numa voz estranhamente límpida.
Ela olhou para todos os lados, como que há procura de testemunhas daquela aparição bizarra.
A rua estava deserta, não se via vivalma.




AS

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