Dos Incidentes, Pareceres e Vicissitudes várias. Porque "Quando a ralé se põe a pensar, está tudo perdido", lá dizia Voltaire...
quinta-feira, 29 de novembro de 2007
Hoje só lá vai assim
How does it feel
To treat me like you do
When youve laid your hands upon me
And told me who you are
I thought I was mistaken
I thought I heard your words
Tell me how do I feel
Tell me now how do I feel
Those who came before me
Lived through their vocations
From the past until completion
They will turn away no more
And I still find it so hard
To say what I need to say
But Im quite sure that youll tell me
Just how I should feel today
I see a ship in the harbor
I can and shall obey
But if it wasnt for your misfortunes
Id be a heavenly person today
And I thought I was mistaken
And I thought I heard you speak
Tell me how do I feel
Tell me now how should I feel
Now I stand here waiting
I thought I told you to leave me
While I walked down to the beach
Tell me how does it feel
When your heart grows cold
(grows cold, grows cold, grows cold)
É esquisito, mas soa bem.
Música que salva pessoas de muitas situações, melhora sempre quem a ouve.
Praticamente um clássico, por assim dizer.
( Orgy, "Blue Monday" )
AS
O que é de Direito ?
EIRL vai a um estabelecimento e pede meio quilo de firmas. O caixeiro, solicitamente, informa-o que as firmas estão esgotadas, devido ao fluxo de consumismo por causa da época festiva que se aproxima,e se não quererá antes o senhor levar antes meia dúzia de insolvências, que dão a mesma serventia.
EIRL, extremamente ofendido por ter sido confundido por um apreciador de reles insolvências, atira com uma resma de trespasses à cabeça do caixeiro, e ainda quatro ou cinco sociedades comerciais, e uns quantos consórcios que atingem na face o pobre caixeiro, e ainda o gerente, que ficam feridos na sua obrigação de não concorrência.
Acusado de espalhar a violência e a discórdia no meio comercial, EIRL quer ser ressarcido por não haver firmas disponíveis quando necessitava delas para alimentar o seu RNPC, e ainda por danos morais, uma vez que tinha uma franquia em casa à espera que não gostou da sua demora e se foi embora antes do atrito se resolver.
Quid juris?
O jurista avisado, neste caso, não responderia o célebre "depende", uma vez que, ao ter conhecimento de tal caso, teria dado um Veiga Beirão no meio dos olhos, e morrido de tédio.
Moral da história : não se pode confiar no discurso de alguém no dia em que entrou em diálogo com o mercantilismo.
AS
EIRL, extremamente ofendido por ter sido confundido por um apreciador de reles insolvências, atira com uma resma de trespasses à cabeça do caixeiro, e ainda quatro ou cinco sociedades comerciais, e uns quantos consórcios que atingem na face o pobre caixeiro, e ainda o gerente, que ficam feridos na sua obrigação de não concorrência.
Acusado de espalhar a violência e a discórdia no meio comercial, EIRL quer ser ressarcido por não haver firmas disponíveis quando necessitava delas para alimentar o seu RNPC, e ainda por danos morais, uma vez que tinha uma franquia em casa à espera que não gostou da sua demora e se foi embora antes do atrito se resolver.
Quid juris?
O jurista avisado, neste caso, não responderia o célebre "depende", uma vez que, ao ter conhecimento de tal caso, teria dado um Veiga Beirão no meio dos olhos, e morrido de tédio.
Moral da história : não se pode confiar no discurso de alguém no dia em que entrou em diálogo com o mercantilismo.
AS
terça-feira, 27 de novembro de 2007
Dedicado à Blogmate
Não consigo dominar
Este estado de ansiedade
A pressa de chegar
P'ra não chegar tarde
Não sei de que é que eu fujo
Será desta solidão
Mas porque é que eu recuso
Quem quer dar-me a mão
Vou continuar a procurar
A quem eu me quero dar
Porque até aqui eu só:
Quero quem quem eu nunca vi
Porque eu só quero quem
Quem não conheci
Porque eu só quero quem
Quem eu nunca vi
Porque eu só quero quem
Quem não conheci
Porque eu só quero quem
Quem eu nunca vi
Esta insatisfação
Não consigo compreender
Sempre esta sensação
Que estou a perder
Tenho pressa de sair
Quero sentir ao chegar
Vontade de partir
P'ra outro lugar
Vou continuar a procurar
A minha forma
O meu lugar
Porque até aqui eu só:
Estou bem aonde eu não estou
Porque eu só quero ir
Aonde eu não vou
Porque eu só estou bem
Aonde eu não estou
Porque eu só quero ir
Aonde eu não vou
Porque eu só estou bem
Aonde não estou
Estou bem aonde eu não estou
Porque eu só quero ir
Aonde eu não vou
Porque eu só estou bem
Aonde eu não estou
Porque eu só quero ir
Aonde eu não vou
Porque eu só estou bem
Aonde eu não estou
Porque eu só quero ir
Aonde eu não vou
Porque eu só estou bem
Aonde não estou
Porque eu só quero ir
Aonde eu não vou
Porque eu só estou bem
Aonde não estou
Este estado de ansiedade
A pressa de chegar
P'ra não chegar tarde
Não sei de que é que eu fujo
Será desta solidão
Mas porque é que eu recuso
Quem quer dar-me a mão
Vou continuar a procurar
A quem eu me quero dar
Porque até aqui eu só:
Quero quem quem eu nunca vi
Porque eu só quero quem
Quem não conheci
Porque eu só quero quem
Quem eu nunca vi
Porque eu só quero quem
Quem não conheci
Porque eu só quero quem
Quem eu nunca vi
Esta insatisfação
Não consigo compreender
Sempre esta sensação
Que estou a perder
Tenho pressa de sair
Quero sentir ao chegar
Vontade de partir
P'ra outro lugar
Vou continuar a procurar
A minha forma
O meu lugar
Porque até aqui eu só:
Estou bem aonde eu não estou
Porque eu só quero ir
Aonde eu não vou
Porque eu só estou bem
Aonde eu não estou
Porque eu só quero ir
Aonde eu não vou
Porque eu só estou bem
Aonde não estou
Estou bem aonde eu não estou
Porque eu só quero ir
Aonde eu não vou
Porque eu só estou bem
Aonde eu não estou
Porque eu só quero ir
Aonde eu não vou
Porque eu só estou bem
Aonde eu não estou
Porque eu só quero ir
Aonde eu não vou
Porque eu só estou bem
Aonde não estou
Porque eu só quero ir
Aonde eu não vou
Porque eu só estou bem
Aonde não estou
António Variações
AS
Racionalizar abundantemente a existência
Sentes-te sufocada pela tua própria existência.
Lidas com conflitos a toda a hora. Tens picos de ansiedade.
De querer estar com ele, o que te assola, consome, exige imediata satisfação, e negá-lo provoca-te náuseas, batimentos dessincronizados, suores frios, dor.
De querer gritar, espernear e não o poder ver à frente: pequenas palavras, gestos singelos que despoletam o ódio e lembram novamente o porquê do rancor latente. Detesta-lo com todas as tuas forças, afasta-lo, abominas a sua presença, queres apenas que ele desapareça, morra de vez.
De querer seguir em frente: belos são os dias em que a indiferença vence, envolves-te na azáfama que é a tua vida e tudo o que te rodeia, e ignora-lo.Pões uma venda nos olhos, direccionas-te para novos mundos, novas cores, novos dias. E nada funciona!
De querer apagar os ciúmes que por vezes também te consomem; ficas verde, roxa, de todas as cores. Vives todos os estados de espírito possíveis; pedes à razão, à idade, ao bom senso que julgas ter, que te acalmem as inseguranças e tragam a paz para dentro de ti. Infrutífero. Sentes-te irascível, colérica, raivosa, frustrada! E nada funciona.
O tempo cura? Não. Resulta por momentos. Impasses, humores e capricho criam o compasso, ditam o ritmo, influem na tua decisão diária. Esquecê-lo, sim. Não hoje, num amanhã...Um dia. Quando? Quando for possível. Quando vires finalmente os defeitos, quando perceberes que não vale a pena. Quando o cansaço levar a melhor.
SB
[a mater tinha saudades minhas, e eu da mater, perdão pelo interregno]
Lidas com conflitos a toda a hora. Tens picos de ansiedade.
De querer estar com ele, o que te assola, consome, exige imediata satisfação, e negá-lo provoca-te náuseas, batimentos dessincronizados, suores frios, dor.
De querer gritar, espernear e não o poder ver à frente: pequenas palavras, gestos singelos que despoletam o ódio e lembram novamente o porquê do rancor latente. Detesta-lo com todas as tuas forças, afasta-lo, abominas a sua presença, queres apenas que ele desapareça, morra de vez.
De querer seguir em frente: belos são os dias em que a indiferença vence, envolves-te na azáfama que é a tua vida e tudo o que te rodeia, e ignora-lo.Pões uma venda nos olhos, direccionas-te para novos mundos, novas cores, novos dias. E nada funciona!
De querer apagar os ciúmes que por vezes também te consomem; ficas verde, roxa, de todas as cores. Vives todos os estados de espírito possíveis; pedes à razão, à idade, ao bom senso que julgas ter, que te acalmem as inseguranças e tragam a paz para dentro de ti. Infrutífero. Sentes-te irascível, colérica, raivosa, frustrada! E nada funciona.
O tempo cura? Não. Resulta por momentos. Impasses, humores e capricho criam o compasso, ditam o ritmo, influem na tua decisão diária. Esquecê-lo, sim. Não hoje, num amanhã...Um dia. Quando? Quando for possível. Quando vires finalmente os defeitos, quando perceberes que não vale a pena. Quando o cansaço levar a melhor.
SB
[a mater tinha saudades minhas, e eu da mater, perdão pelo interregno]
segunda-feira, 26 de novembro de 2007
Sugestões Natalícias
Para quem tenha insónias e se pele por um pouco de sado-masoquismo, aconselho vivamente a leitura de Colectânea de Direito Comercial e Legislação Conexa.
Dói bastante e dá sono.
Uma boa ideia para as prendas do Natal, que se aproxima.
AS
domingo, 25 de novembro de 2007
VI
Porque nem tudo o que se declara como definitivo e claro tem de o ser exactamente nesses termos para toda a eternidade. Afinal, nem todos os dogmas que se puseram de parte para serem substituídos por outros dogmas, igualmente idiotas e desprovidos de senso como os anteriores, são tao descabidos como antes pareciam ser.
Talvez, nem sejam dogmas de todo, mas são fulcrais ; tão fulcrais, que se pergunta onde se andou para não ver a essencialidade dos mesmos.
Mesmo que sejam dogmas, ou frases feitas, ou chavões, ou factos inquestionáveis, ou simplesmente, conclusões de quem não tem mais nada que fazer senão amargurar toda uma existência, ficam de parte, o que deveria ficar retido na mente, para não mais ser esquecido.
Devem existir momentos, em alguma altura da vida, em que se esquece de onde se veio, o que se fez, onde se andou, quem se foi, para viver unicamente com um objectivo. Devem existir horas, minutos e segundos, mesmo que ilusoriamente, não se respira, nem o coração bate, apenas se vive para contemplar o objecto de adoração.
Existem esses momentos.
Existem, e não são propriamente poucos.
Para quem andou décadas a tentar eliminar o sentido do sentimento e a existência do mesmo à face da terra, esbarrar com ele, viver com ele, respirar com ele, constatar que ele vive e respira também é a melhor das constatações.
Afinal, qual é o pessimista que não gosta de ser surpreendido, frustrando as próprias projecções pela mais positiva das perspectivas?
AS
sábado, 24 de novembro de 2007
Chá da Pérsia - Parte VII
- Espere!
- O que é agora?- gritou o génio, recuperando o acesso de mau humor.
- Posso desfazer os dois primeiros desejos que me concedeu?
O homem reagiu como se tivesse levado uma pancada na cabeça.
- O quê?? Então está aqui um tipo a ser simpático, a conceder desejos a quem tropeça nas coisas porque não vê por onde anda, e vem-se-me esta tipa com estas lérias?- o mau humor regressara em força, mostrando o seu lado feio. – Não há vergonha! Nem consideração por ninguém, pelo trabalho dos outros! Quem penas tu que és para desprezares o que te é dado dessa maneira?
- Não é nada disso, tenha calma. Deixe-me explicar
- Explica-te! - ordenou o génio.
- Acho que não vou precisar dos outros desejos. Se serei feliz, como o senhor me faz crer, não precisarei de ser extraordinariamente rica, nem de ter uma saúde inesgotável. Não preciso desse dinheiro todo, posso trabalhar para ter o que comer.
- Então e a saúde inesgotável? Não precisarás dela?
Pensou uns segundos. A resposta surgiu resolutamente.
- Mesmo que morra aos 40 anos, terá valido a pena. Prefiro definhar e morrer jovem, sabendo que tive o que queria, que fiz o que queria, que fui realmente feliz, do que viver indefinidamente sem nada que me suporte, que me complete.
Por momentos, parecia que o homem iria ter um outro ataque de fúria e má disposição. Depois, os lábios rasgaram-se num enorme sorriso.
- Compreendo. Uma escolha acertada, se me perguntarem. Afinal, pode resumir-se tudo num único desejo. Tenho que comunicar ao meu patrão. Como é que ninguém se lembrou disto antes?
- Então, pode inverter o que lhe pedi antes?
- Já esta feito.
Foi a vez dela sorrir.
- Obrigado.
- Não estavas atrasada? – gritou o homem de novo. – Vai-te embora! Tenho mais que fazer!
Virou costas, deu uns passos para continuar a descer a rua, quando se lembrou. Voltou a virar costas ao destino que seguia para falar com o génio.
- Voltarei a vê-lo? - perguntou.
Mas o homem já não estava lá.
Do fumo azulado e da chaleira velha, nem sinal.
Tinham desaparecido.
- O que é agora?- gritou o génio, recuperando o acesso de mau humor.
- Posso desfazer os dois primeiros desejos que me concedeu?
O homem reagiu como se tivesse levado uma pancada na cabeça.
- O quê?? Então está aqui um tipo a ser simpático, a conceder desejos a quem tropeça nas coisas porque não vê por onde anda, e vem-se-me esta tipa com estas lérias?- o mau humor regressara em força, mostrando o seu lado feio. – Não há vergonha! Nem consideração por ninguém, pelo trabalho dos outros! Quem penas tu que és para desprezares o que te é dado dessa maneira?
- Não é nada disso, tenha calma. Deixe-me explicar
- Explica-te! - ordenou o génio.
- Acho que não vou precisar dos outros desejos. Se serei feliz, como o senhor me faz crer, não precisarei de ser extraordinariamente rica, nem de ter uma saúde inesgotável. Não preciso desse dinheiro todo, posso trabalhar para ter o que comer.
- Então e a saúde inesgotável? Não precisarás dela?
Pensou uns segundos. A resposta surgiu resolutamente.
- Mesmo que morra aos 40 anos, terá valido a pena. Prefiro definhar e morrer jovem, sabendo que tive o que queria, que fiz o que queria, que fui realmente feliz, do que viver indefinidamente sem nada que me suporte, que me complete.
Por momentos, parecia que o homem iria ter um outro ataque de fúria e má disposição. Depois, os lábios rasgaram-se num enorme sorriso.
- Compreendo. Uma escolha acertada, se me perguntarem. Afinal, pode resumir-se tudo num único desejo. Tenho que comunicar ao meu patrão. Como é que ninguém se lembrou disto antes?
- Então, pode inverter o que lhe pedi antes?
- Já esta feito.
Foi a vez dela sorrir.
- Obrigado.
- Não estavas atrasada? – gritou o homem de novo. – Vai-te embora! Tenho mais que fazer!
Virou costas, deu uns passos para continuar a descer a rua, quando se lembrou. Voltou a virar costas ao destino que seguia para falar com o génio.
- Voltarei a vê-lo? - perguntou.
Mas o homem já não estava lá.
Do fumo azulado e da chaleira velha, nem sinal.
Tinham desaparecido.
AS
sexta-feira, 23 de novembro de 2007
Chá da Pérsia - Parte VI
Era um isqueiro, branco, com letras publicitárias já gastas, e todo riscado. Surpreendida, olhava do isqueiro para o homem, sem compreender. Instintivamente, tentou acender o isqueiro repetidas vezes, mas nada aconteceu.
- Não funciona.
- Eu sei.
- Como?? Então, para que mo deu?
- Porque te concedi o desejo.
Não podia acreditar no que estava a ouvir.
- Como assim?
- Pediste-me para ser feliz. Está aí.
- O quê?
- Ouviste o que te foi dito.
- Então o meu desejo de ser feliz, aquilo pelo qual terei que pagar um preço é afinal um isqueiro que não funciona?
O homem bufou, num misto de impaciência e vontade de dar o caso como completamente perdido.
- Não, estúpida! O isqueiro não é o teu pedido de felicidade. Mas vais precisar dele.
- Para quê?
- É o começo de tudo.
- De tudo o quê, exactamente?
- Bolas, que és mesmo chata! Não disseste que acreditavas em mim? Então, pára de questionar tudo e de fazer perguntas, e aceita o que te digo ; esse isqueiro é o início de tudo. Confia em mim.
- Tenho vontade de confiar, mas não consigo quando não percebo como é que um isqueiro que não funciona me vai ajudar a ser feliz!
- Olha lá esse tom insolente!- respondeu ele, zangado - Deixa de ser desconfiada. Acredita que vais saber como usá-lo na altura devida. Eu sei que ainda não percebes!- apressou-se ele a dizer quando viu que ela se preparava para o interromper novamente.- Mas vais perceber. Brevemente, vais perceber. E já, agora, vê se te despachas.
- Para quê? Não tenho pressa.
- Mas passas a ter agora. Vê se apanhas o metro o mais rapidamente possível.
- Mas para quê?? Não estou a perceber nada!!
- Não é suposto. Já te disse que mesmo que não percebas, quando chegar a altura, saberás o que fazer.
- Eu …
- Vá, agora, não há tempo para mais interrupções e perguntas estúpidas. Tens que ir. Tens que te despachar.
- Mas …
- Não há tempo. Vai.
- Mas eu não …
- VAI!!
- Pronto, pronto, eu vou … er… obrigada. Creio eu ...
- Não sei porque me estás tu a agradecer, quando no fundo não acreditas mesmo que tenha feito alguma coisa por ti …
- Eu …
- Vá, vai-te lá embora. Já vais atrasada.
- Mas…
- Porra, VAI!!
Começou a andar, sempre de olhos fixos no estranho ser envolto em fumo.
Nada daquilo parecia real. Mais parecia um sonho bizarro, tirado de um filme estranho. Não podia ser verdadeiro. Tinha a sensação de que iria acordar não tardava muito. Porém, continuava a caminhar, sentindo-se tão alerta e consciente como antes. Estacou no meio da marcha, e voltou-se para trás.
- Não funciona.
- Eu sei.
- Como?? Então, para que mo deu?
- Porque te concedi o desejo.
Não podia acreditar no que estava a ouvir.
- Como assim?
- Pediste-me para ser feliz. Está aí.
- O quê?
- Ouviste o que te foi dito.
- Então o meu desejo de ser feliz, aquilo pelo qual terei que pagar um preço é afinal um isqueiro que não funciona?
O homem bufou, num misto de impaciência e vontade de dar o caso como completamente perdido.
- Não, estúpida! O isqueiro não é o teu pedido de felicidade. Mas vais precisar dele.
- Para quê?
- É o começo de tudo.
- De tudo o quê, exactamente?
- Bolas, que és mesmo chata! Não disseste que acreditavas em mim? Então, pára de questionar tudo e de fazer perguntas, e aceita o que te digo ; esse isqueiro é o início de tudo. Confia em mim.
- Tenho vontade de confiar, mas não consigo quando não percebo como é que um isqueiro que não funciona me vai ajudar a ser feliz!
- Olha lá esse tom insolente!- respondeu ele, zangado - Deixa de ser desconfiada. Acredita que vais saber como usá-lo na altura devida. Eu sei que ainda não percebes!- apressou-se ele a dizer quando viu que ela se preparava para o interromper novamente.- Mas vais perceber. Brevemente, vais perceber. E já, agora, vê se te despachas.
- Para quê? Não tenho pressa.
- Mas passas a ter agora. Vê se apanhas o metro o mais rapidamente possível.
- Mas para quê?? Não estou a perceber nada!!
- Não é suposto. Já te disse que mesmo que não percebas, quando chegar a altura, saberás o que fazer.
- Eu …
- Vá, agora, não há tempo para mais interrupções e perguntas estúpidas. Tens que ir. Tens que te despachar.
- Mas …
- Não há tempo. Vai.
- Mas eu não …
- VAI!!
- Pronto, pronto, eu vou … er… obrigada. Creio eu ...
- Não sei porque me estás tu a agradecer, quando no fundo não acreditas mesmo que tenha feito alguma coisa por ti …
- Eu …
- Vá, vai-te lá embora. Já vais atrasada.
- Mas…
- Porra, VAI!!
Começou a andar, sempre de olhos fixos no estranho ser envolto em fumo.
Nada daquilo parecia real. Mais parecia um sonho bizarro, tirado de um filme estranho. Não podia ser verdadeiro. Tinha a sensação de que iria acordar não tardava muito. Porém, continuava a caminhar, sentindo-se tão alerta e consciente como antes. Estacou no meio da marcha, e voltou-se para trás.
AS
quinta-feira, 22 de novembro de 2007
Chá da Pérsia - Parte V
- Vamos lá ver! – o homem vinda da chaleira colocou as mãos à volta da cintura, num gesto de desafio.
- Quer explicar-me? Por favor?
O homem pareceu reconsiderar, por breves instantes. Depois, fingindo que não tinha havido qualquer interrupção, prosseguiu.
- Como é realmente importante o que me pediste, terá de ter uma contrapartida, o tal preço que te disse. Exactamente por ser de extrema importância, muito acima de dinheiro e imortalidade, é que é muito mais valioso, logo tem que ser trocado por outra coisa.
- Porquê?
- Para que lhe possas dar valor. O devido valor.
Ela ficou em silêncio, tentando adivinhar o que lhe seria pedido em troca do seu desejo.
- E qual é o preço que terei de pagar?
- Há gente que não vai ficar lá muito contente com o facto de seres feliz.
- Há?
- Pois. Não vão ficar mesmo nada contentes, vão-te fazer passar um mau bocado. Não vão gostar de te ver bem, vão-te fazer mal.
- Mas como? Ciúmes, ou assim?
- Mais ou menos. Dor de corno, diria eu, mas isso já é a minha opinião. O que é certo é que não vão ficar nada contentes, nada satisfeitos com isso.
- Então, eu vou deixar de ser feliz por causa dessas pessoas? Porque elas me fazem mal, eu deixo de ser feliz?
- Não, por tu seres feliz é que te vão fazer mal. Mas tu não deixas de ser feliz, nada disso. Vais é ter que, de certa forma, arcar com esta consequência. É o preço a pagar.
- Mas então e se eu não quiser saber? Se me estiver a borrifar para que não fiquem contentes comigo, se eu me estiver as tintas?
- Não serão pessoas quaisquer que se revoltarão.
- Não?
- Não. Vai-te custar. Mas é o preço.
Remeteu-se ao silencio, à espera da resposta dela. Um segundo depois, já ela parecia pronta para lhe responder.
- Quer explicar-me? Por favor?
O homem pareceu reconsiderar, por breves instantes. Depois, fingindo que não tinha havido qualquer interrupção, prosseguiu.
- Como é realmente importante o que me pediste, terá de ter uma contrapartida, o tal preço que te disse. Exactamente por ser de extrema importância, muito acima de dinheiro e imortalidade, é que é muito mais valioso, logo tem que ser trocado por outra coisa.
- Porquê?
- Para que lhe possas dar valor. O devido valor.
Ela ficou em silêncio, tentando adivinhar o que lhe seria pedido em troca do seu desejo.
- E qual é o preço que terei de pagar?
- Há gente que não vai ficar lá muito contente com o facto de seres feliz.
- Há?
- Pois. Não vão ficar mesmo nada contentes, vão-te fazer passar um mau bocado. Não vão gostar de te ver bem, vão-te fazer mal.
- Mas como? Ciúmes, ou assim?
- Mais ou menos. Dor de corno, diria eu, mas isso já é a minha opinião. O que é certo é que não vão ficar nada contentes, nada satisfeitos com isso.
- Então, eu vou deixar de ser feliz por causa dessas pessoas? Porque elas me fazem mal, eu deixo de ser feliz?
- Não, por tu seres feliz é que te vão fazer mal. Mas tu não deixas de ser feliz, nada disso. Vais é ter que, de certa forma, arcar com esta consequência. É o preço a pagar.
- Mas então e se eu não quiser saber? Se me estiver a borrifar para que não fiquem contentes comigo, se eu me estiver as tintas?
- Não serão pessoas quaisquer que se revoltarão.
- Não?
- Não. Vai-te custar. Mas é o preço.
Remeteu-se ao silencio, à espera da resposta dela. Um segundo depois, já ela parecia pronta para lhe responder.
- Aceito.
- Aceitas? - perguntou ele, surpreendido com a rapidez da resposta.- Olha que isto não é a brincar, é mesmo muito a serio. Tens a certeza?
- Tenho. Disse-me que não serão pessoas quaisquer a ficarem descontentes, não foi? Ora, não podem ser meus superiores hierárquicos, que ainda estudo, não tenho emprego, também não tenho patrão, também não posso ficar na rua. Logo, devem ser outras pessoas próximas de mim, então. E se assim for, ainda bem que é desta forma ; é assim que se vê a verdadeira face das pessoas. Se me são próximas, mas não se alegram com a minha felicidade, então mais vale que não sejam próximas coisa nenhuma. Aí, verei com quem posso contar, poderei fazer uma escolha.
- Muito bem. – assentiu o génio, positivamente impressionado. – Gosto do raciocínio. Sabes o que está em jogo…
- Por acaso, não sei…
- Mas é como se soubesses! Miúda insolente! Enfim, se aceitas as condições, então posso conceder-te o desejo. Não será assim?
- Pode ser.
- Ok.- disse o génio. Do nada, fez surgir qualquer coisa, que fechou firmemente na mão.- Desejo concedido. E passou-lhe para as mãos o que tinha escondido nas suas.
AS
quarta-feira, 21 de novembro de 2007
Chá da Pérsia - Parte IV
O homem perscrutou-a com os seus olhos misteriosos.
- E isso significa exactamente o quê?
- Bom, ser feliz é … bom, não sei explicar, mas acho que … enfim, sabe como é … assim, tipo … feliz, mesmo feliz… está a perceber? Er …
- Se me fosse fiar no que dizes, até agora não tinha percebido nada. -disse o homem num trejeito de desdém.- Mas olha lá, os desejos que me pediste já não fazem de ti uma pessoa feliz? Tens tudo, dinheiro e saúde para o gozares, o que é que queres mais?
- Bem, são boas pretensões, e acho que fiz bem em pensar nelas primeira, - disse, um pouco a medo, receando que o génio do mau feitio lhe retirasse as benesses que dizia ter-lhe concedido. – Mas há outras coisas, outros aspectos que faltam. Gostava de completá-los.
- Estou a ver.- disse o homem, bufando mais uma vez – E isso consiste em quê?
- Er … estava a pensar em realização pessoal, mas …
- Já percebi o que queres dizer, porra!
- Já? Então?
- Sim, já. Já sei o que pretendes.
- Consegue ler pensamentos?
- Obviamente, se assim não fosse, da maneira que formulaste os dois primeiros desejos terias as tuas pretensões de forma completamente idiota.
- E percebe o que quero dizer com ser feliz?
- Sim, percebo, já te disse que sim. Mas tenho que avisar-te de antemão que este desejo tem um preço.
- Um preço? Como assim, um preço?
- Concedo-te o desejo, mas terás de dar algo em troca.
- E isso significa exactamente o quê?
- Bom, ser feliz é … bom, não sei explicar, mas acho que … enfim, sabe como é … assim, tipo … feliz, mesmo feliz… está a perceber? Er …
- Se me fosse fiar no que dizes, até agora não tinha percebido nada. -disse o homem num trejeito de desdém.- Mas olha lá, os desejos que me pediste já não fazem de ti uma pessoa feliz? Tens tudo, dinheiro e saúde para o gozares, o que é que queres mais?
- Bem, são boas pretensões, e acho que fiz bem em pensar nelas primeira, - disse, um pouco a medo, receando que o génio do mau feitio lhe retirasse as benesses que dizia ter-lhe concedido. – Mas há outras coisas, outros aspectos que faltam. Gostava de completá-los.
- Estou a ver.- disse o homem, bufando mais uma vez – E isso consiste em quê?
- Er … estava a pensar em realização pessoal, mas …
- Já percebi o que queres dizer, porra!
- Já? Então?
- Sim, já. Já sei o que pretendes.
- Consegue ler pensamentos?
- Obviamente, se assim não fosse, da maneira que formulaste os dois primeiros desejos terias as tuas pretensões de forma completamente idiota.
- E percebe o que quero dizer com ser feliz?
- Sim, percebo, já te disse que sim. Mas tenho que avisar-te de antemão que este desejo tem um preço.
- Um preço? Como assim, um preço?
- Concedo-te o desejo, mas terás de dar algo em troca.
- E porque não funcionou assim para os outros desejos que pedi?- perguntou ela desconfiada.
- Porque este é diferente, não funciona como os desejos normais, por assim dizer.
- Normais? Mas este que agora pedi é especial?
- É, de certo modo, é. Tendo em conta que eu sei o que de facto pretendes com ser feliz, terá um preço que terás que pagar.
- E se eu não quiser pagar esse preço?
- Então escolhes outra coisa, que isto aqui não é da Joana. Quem dita as regras aqui sou eu!
- Desculpe, só estava a tentar perceber …
- Não há nada para perceber, ou queres assim, ou não queres, escolhes outra coisa e vais a tua vida!
- Desculpe, mas é que …
- Tanta pergunta faz o raio da miúda! Eu explico tudo, só para não ter que te ouvir perguntar mais nada! Este não é um desejo qualquer, se reparares nada tem a ver com os dois primeiros que formulaste.
- Mas o senhor disse que com eles que já poderia ser feliz, não acaba por ser uma mesma coisa o …
- Não me interrompas!
- Queira desculpar.
- Pfff.. bom, onde ia eu? Ahh, sim! Este desejo que agora fizeste é diferente dos outros, porque está muito além dos bens materiais que de certa forma pediste anteriormente.
- Mas a saúde não é um bem material.
- Se me voltas a interromper …
- Desculpe, desculpe! Não se torna a repetir.
- Pfff… bom … o pedido de ser feliz que me fizeste não tem nada que ver com o que anteriormente foi feito, porque nada tem que ver com materialidade. O dinheiro que me pediste, que agora é teu, e não se esgota, é uma futilidade que a esmagadora maioria das pessoas que me encontra pede imediatamente. Assim como outro pedido que me é feito frequentemente é a vida eterna, que tu acabas por me pedir também, só que camuflado de outra maneira. Se tens saúde, vais viver longamente, acaba por ser uma espécie de eternidade. Isto para a maioria das pessoas, é a noção de felicidade. Têm dinheiro e saúde, são felizes. Mas mesmo assim, isso não chega para ti, queres ir mais longe. Crês, mesmo tendo pedido as futilidades que toda a gente pede nestas circunstâncias, que a felicidade vai muito além disso. Porém, o facto de ir mais além tem um preço.
- Mas porquê? Isso não é lá muito justo, pois não?
- O mundo não é justo.
- Porque este é diferente, não funciona como os desejos normais, por assim dizer.
- Normais? Mas este que agora pedi é especial?
- É, de certo modo, é. Tendo em conta que eu sei o que de facto pretendes com ser feliz, terá um preço que terás que pagar.
- E se eu não quiser pagar esse preço?
- Então escolhes outra coisa, que isto aqui não é da Joana. Quem dita as regras aqui sou eu!
- Desculpe, só estava a tentar perceber …
- Não há nada para perceber, ou queres assim, ou não queres, escolhes outra coisa e vais a tua vida!
- Desculpe, mas é que …
- Tanta pergunta faz o raio da miúda! Eu explico tudo, só para não ter que te ouvir perguntar mais nada! Este não é um desejo qualquer, se reparares nada tem a ver com os dois primeiros que formulaste.
- Mas o senhor disse que com eles que já poderia ser feliz, não acaba por ser uma mesma coisa o …
- Não me interrompas!
- Queira desculpar.
- Pfff.. bom, onde ia eu? Ahh, sim! Este desejo que agora fizeste é diferente dos outros, porque está muito além dos bens materiais que de certa forma pediste anteriormente.
- Mas a saúde não é um bem material.
- Se me voltas a interromper …
- Desculpe, desculpe! Não se torna a repetir.
- Pfff… bom … o pedido de ser feliz que me fizeste não tem nada que ver com o que anteriormente foi feito, porque nada tem que ver com materialidade. O dinheiro que me pediste, que agora é teu, e não se esgota, é uma futilidade que a esmagadora maioria das pessoas que me encontra pede imediatamente. Assim como outro pedido que me é feito frequentemente é a vida eterna, que tu acabas por me pedir também, só que camuflado de outra maneira. Se tens saúde, vais viver longamente, acaba por ser uma espécie de eternidade. Isto para a maioria das pessoas, é a noção de felicidade. Têm dinheiro e saúde, são felizes. Mas mesmo assim, isso não chega para ti, queres ir mais longe. Crês, mesmo tendo pedido as futilidades que toda a gente pede nestas circunstâncias, que a felicidade vai muito além disso. Porém, o facto de ir mais além tem um preço.
- Mas porquê? Isso não é lá muito justo, pois não?
- O mundo não é justo.
- Então, premeia-se a futilidade, como disse, e faz-me pagar preços de algo que é realmente importante?
- Não queres assim, podes ir andando.
- Não queres assim, podes ir andando.
- Não é isso! Só queria mesmo perceber, sabe? Não ando todos os dias a encontrar gente que sai de chaleiras na rua! – parecia que o mau feitio era contagioso.
AS
terça-feira, 20 de novembro de 2007
Chá da Pérsia - Parte III
- Para quê?!
- Para os apanhados. Para aquelas partidas que dão na televisão que enganam as pessoas e …
- Eu sei o que são apanhados!- gritou o homem, completamente encolerizado- Como te atreves a duvidar assim de mim? Como te atreves a pôr em causa o que faço e a compará-lo com joguinhos idiotas?!
O fumo que os envolvia ia ficando cada vez mais escuro, deixando de ver as casas em redor.
- Pronto, pronto, não se zangue! Eu peço os tais desejos, eu acredito em si, a sério que sim …Posso pedir qualquer coisa?- atabalhoadamente, tentando acalmar a fúria do génio.- Qualquer coisa mesmo?
- Até que enfim, arre! Podes, sim.- disse o homem, menos arreliado. O fumo voltou lentamente à sua tonalidade azulada.
- Er … pois, deixe lá ver … pois, acho que sim … Desejo nunca mais ter que me preocupar com dinheiro.
- Quer isso dizer, que desejas ter muito dinheiro? Assim, muito rica?- perguntou o génio, erguendo uma sobrancelha.
- Pois, se nunca mais preciso de me preocupar com dinheiro, quer dizer que tenho tanto que não me importa onde o gasto …
- Que pedido original, não haja duvida … seja. Desejo concedido. Próximo …?
- Mas já está, como? Já sou rica?! Mas não era suposto qualquer coisa brilhar, encher-me os bolsos de moedas de ouro, ou qualquer coisa assim?
O homem fez um trejeito de puro tédio.
- Estes miúdos são mesmo estúpidos. Não, não é suposto. Isso é nos filmes da Disney, aqui não há cá nada disso, é à moda antiga e está a andar. Se não estás contente …
- Não, não, estou contente, sim! – apressou-se ela a dizer- Eu acredito em si.
- Pronto, está bem. O primeiro já está. Próximo desejo.
- Para os apanhados. Para aquelas partidas que dão na televisão que enganam as pessoas e …
- Eu sei o que são apanhados!- gritou o homem, completamente encolerizado- Como te atreves a duvidar assim de mim? Como te atreves a pôr em causa o que faço e a compará-lo com joguinhos idiotas?!
O fumo que os envolvia ia ficando cada vez mais escuro, deixando de ver as casas em redor.
- Pronto, pronto, não se zangue! Eu peço os tais desejos, eu acredito em si, a sério que sim …Posso pedir qualquer coisa?- atabalhoadamente, tentando acalmar a fúria do génio.- Qualquer coisa mesmo?
- Até que enfim, arre! Podes, sim.- disse o homem, menos arreliado. O fumo voltou lentamente à sua tonalidade azulada.
- Er … pois, deixe lá ver … pois, acho que sim … Desejo nunca mais ter que me preocupar com dinheiro.
- Quer isso dizer, que desejas ter muito dinheiro? Assim, muito rica?- perguntou o génio, erguendo uma sobrancelha.
- Pois, se nunca mais preciso de me preocupar com dinheiro, quer dizer que tenho tanto que não me importa onde o gasto …
- Que pedido original, não haja duvida … seja. Desejo concedido. Próximo …?
- Mas já está, como? Já sou rica?! Mas não era suposto qualquer coisa brilhar, encher-me os bolsos de moedas de ouro, ou qualquer coisa assim?
O homem fez um trejeito de puro tédio.
- Estes miúdos são mesmo estúpidos. Não, não é suposto. Isso é nos filmes da Disney, aqui não há cá nada disso, é à moda antiga e está a andar. Se não estás contente …
- Não, não, estou contente, sim! – apressou-se ela a dizer- Eu acredito em si.
- Pronto, está bem. O primeiro já está. Próximo desejo.
- Pois, sim … então … mas sou mesmo rica? Mesmo, mesmo?Fazes perguntas demais. És, porra, acabei de te dizer que sim, que já te tinha concedido o desejo. Passas ao próximo ou como é?
- Sim, sim, claro. Então … pois … desejo também nunca mais precisar de ir ao médico.
- Mau, mas isto agora é tudo assim?
- Assim como?
- Encriptado, e eu que te perceba, não? Queres o quê, saúde, é isso?
- Pois, era isso mesmo.
- Raio de miúdos sem juízo nenhum! Terás saúde, uma saúde de ferro indefinidamente, está bom assim?
- Está óptimo. Muito obrigado.
- Ok, ok, agora agradece, vejam só … Desejo concedido. Falta-te um.
Ela não respondeu. Por momentos, parecia lutar contra qualquer coisa dentro de si, até que, quando finalmente falou, a voz parecia ligeiramente embargada, mas mesmo assim, firme.
- Quero ser feliz.
- Mau, mas isto agora é tudo assim?
- Assim como?
- Encriptado, e eu que te perceba, não? Queres o quê, saúde, é isso?
- Pois, era isso mesmo.
- Raio de miúdos sem juízo nenhum! Terás saúde, uma saúde de ferro indefinidamente, está bom assim?
- Está óptimo. Muito obrigado.
- Ok, ok, agora agradece, vejam só … Desejo concedido. Falta-te um.
Ela não respondeu. Por momentos, parecia lutar contra qualquer coisa dentro de si, até que, quando finalmente falou, a voz parecia ligeiramente embargada, mas mesmo assim, firme.
- Quero ser feliz.
AS
Retrato
Eu sei que tu sabes, aquilo que nós sabemos.
Eu sei que sabes. Porque eu também sei.
Sei que o inexplicável também acontece aos mortais, que se guiam durante anos por falsos deuses até que um dia vêem a luz.
Sei que aquilo que não se explica atravessa mais que as teias do tempo, e que se une aquilo que nos completa.
Tu sabes que eu sei ; aquilo que nós sabemos.
Eu sei que sabes. Porque eu também sei.
Sei que o inexplicável também acontece aos mortais, que se guiam durante anos por falsos deuses até que um dia vêem a luz.
Sei que aquilo que não se explica atravessa mais que as teias do tempo, e que se une aquilo que nos completa.
Tu sabes que eu sei ; aquilo que nós sabemos.
AS
segunda-feira, 19 de novembro de 2007
Chá da Pérsia - Parte II
- Eu? Nada. - respondeu, a medo.
- Então, para que me chamaste?- a voz do homem parecia agora francamente irritada.
- Eu não chamei ninguém. Ia a passar quando tropecei no bule e surgiu esta fumarada toda. Não tive culpa.- virava a cabeça de um lado para o outro, quase num acto de desespero, procurando outras pessoas que pudessem passar na rua, e a quem aquele estranho ser se pudesse estar a dirigir, alguém que não ela.
O homem suspirou desdenhosamente, como se fosse um grande enfado ter que dar explicações.
- Pegaste na chaleira. Invocaste-me. Quando me invocam, normalmente apareço, sabes? É uma das características de se morar numa chaleira encantada.
- O quê? Que história vem a ser essa? Eu não invoquei nada. Limitei-me a tirar essa coisa do caminho!
- Pois, sim, é o que dizem todos. Vamos lá a ver, quais são?
- Quais são o que?
- Os desejos.
- Mas quais desejos??- não havia memória duma conversa tão estranha.
O homem bufou de impaciência. Revirou os olhos antes de responder.
- Minha cara, esfregas o bule, vem o génio e pedes 3 desejos. Não te contaram a historia quando eras miúda?
- Mas isso são historias, não existem. São só contos para fazer dormir as crianças. Como é que isso é verdade? - guinchou ela.- Você só pode estar a brincar comigo!
- Se eu estou aqui, não é …
- Olhe, se isto é um assalto, leve-me o telemóvel, leve-me os trocos, até lhe entrego o meu cartão multibanco e lhe digo o código. Pode também levar-me o relógio. Mas tenha paciência, não insulte a minha inteligência, não me venha com historias, sim?- disse ela, metendo a mão no bolso e estendendo-a ao homem, com um pequeno telefone azul brilhante fechado nela.
O homem parecia estarrecido com semelhante discurso. Bufou repetidas vezes, praguejou entredentes, e depois de ter dito uns quantos impropérios acerca de já não haver respeito nenhum pelas tradições, cruzou os braços à frente do peito e virou a cabeça de lado, altivamente, em gesto de amuo, falando para ninguém em particular.
- Gostava de saber o que se há-de fazer com estas gentes. Vidas inteiras a queixarem-se de que nada lhes acontece, que é só desgraças e afins, e quando surge a oportunidade, acham que é tanga, que é um assalto! Um assalto! E ainda me dá o raio do telefone! Francamente, que isto já não é nada como no meu tempo! Onde é que isto já se viu?!
Esperava alguma reacção da parte dela, mas não vendo mais que um olhar de incredulidade e surpresa, bufou mais uma vez e continuou o discurso.
- Enfim, não vale a pena. Minha cara, nem todas as lendas são fantasia. Algumas existem mesmo. Eu estou aqui, tu consegues ver-me, viste como eu saí da chaleira. E estou aqui porque me chamaste … pronto, acidentalmente, invocaste-me, mas mesmo assim continuas a ter direito a que eu te realize 3 desejos que me peças. Tal como na historia de encantar. 3 desejos, qualquer coisa, pede-me e terás.
- Juro que é a ultima vez que fumo daquilo que dá para rir … – sussurrou ela, quase em jeito de desabafo.
- Quais fumo, quais quê, miúda! Estou mesmo aqui! Bolas, porque é que nunca ninguém acredita à primeira?
- Isto é para os apanhados?- perguntou ela, semicerrando os olhos, como que à espera de ver qualquer gesto no homem que o denunciasse.
- Então, para que me chamaste?- a voz do homem parecia agora francamente irritada.
- Eu não chamei ninguém. Ia a passar quando tropecei no bule e surgiu esta fumarada toda. Não tive culpa.- virava a cabeça de um lado para o outro, quase num acto de desespero, procurando outras pessoas que pudessem passar na rua, e a quem aquele estranho ser se pudesse estar a dirigir, alguém que não ela.
O homem suspirou desdenhosamente, como se fosse um grande enfado ter que dar explicações.
- Pegaste na chaleira. Invocaste-me. Quando me invocam, normalmente apareço, sabes? É uma das características de se morar numa chaleira encantada.
- O quê? Que história vem a ser essa? Eu não invoquei nada. Limitei-me a tirar essa coisa do caminho!
- Pois, sim, é o que dizem todos. Vamos lá a ver, quais são?
- Quais são o que?
- Os desejos.
- Mas quais desejos??- não havia memória duma conversa tão estranha.
O homem bufou de impaciência. Revirou os olhos antes de responder.
- Minha cara, esfregas o bule, vem o génio e pedes 3 desejos. Não te contaram a historia quando eras miúda?
- Mas isso são historias, não existem. São só contos para fazer dormir as crianças. Como é que isso é verdade? - guinchou ela.- Você só pode estar a brincar comigo!
- Se eu estou aqui, não é …
- Olhe, se isto é um assalto, leve-me o telemóvel, leve-me os trocos, até lhe entrego o meu cartão multibanco e lhe digo o código. Pode também levar-me o relógio. Mas tenha paciência, não insulte a minha inteligência, não me venha com historias, sim?- disse ela, metendo a mão no bolso e estendendo-a ao homem, com um pequeno telefone azul brilhante fechado nela.
O homem parecia estarrecido com semelhante discurso. Bufou repetidas vezes, praguejou entredentes, e depois de ter dito uns quantos impropérios acerca de já não haver respeito nenhum pelas tradições, cruzou os braços à frente do peito e virou a cabeça de lado, altivamente, em gesto de amuo, falando para ninguém em particular.
- Gostava de saber o que se há-de fazer com estas gentes. Vidas inteiras a queixarem-se de que nada lhes acontece, que é só desgraças e afins, e quando surge a oportunidade, acham que é tanga, que é um assalto! Um assalto! E ainda me dá o raio do telefone! Francamente, que isto já não é nada como no meu tempo! Onde é que isto já se viu?!
Esperava alguma reacção da parte dela, mas não vendo mais que um olhar de incredulidade e surpresa, bufou mais uma vez e continuou o discurso.
- Enfim, não vale a pena. Minha cara, nem todas as lendas são fantasia. Algumas existem mesmo. Eu estou aqui, tu consegues ver-me, viste como eu saí da chaleira. E estou aqui porque me chamaste … pronto, acidentalmente, invocaste-me, mas mesmo assim continuas a ter direito a que eu te realize 3 desejos que me peças. Tal como na historia de encantar. 3 desejos, qualquer coisa, pede-me e terás.
- Juro que é a ultima vez que fumo daquilo que dá para rir … – sussurrou ela, quase em jeito de desabafo.
- Quais fumo, quais quê, miúda! Estou mesmo aqui! Bolas, porque é que nunca ninguém acredita à primeira?
- Isto é para os apanhados?- perguntou ela, semicerrando os olhos, como que à espera de ver qualquer gesto no homem que o denunciasse.
O homem pestanejou.
AS
domingo, 18 de novembro de 2007
Chá da Pérsia - Parte I
Distraída, caminhava na rua, pensando em coisa nenhuma, quando os seus pés batem nalguma coisa metálica, fazendo-a rebolar pelo chão, causando um enorme estardalhaço.
Olhou para baixo, tentando identificar o objecto que pontapeara. Parecia um bule de chá, velho e cheio de buracos, cujo cobre carcomido e gasto há muito que havia perdido o seu brilho. Pegou-lhe, decidida a colocá-lo no contentor do lixo mais próximo, para que mais nenhum transeunte incauto voltasse a assustar os gatos das proximidades com o barulho da chaleira a ser projectada rua abaixo.
Olhou para baixo, tentando identificar o objecto que pontapeara. Parecia um bule de chá, velho e cheio de buracos, cujo cobre carcomido e gasto há muito que havia perdido o seu brilho. Pegou-lhe, decidida a colocá-lo no contentor do lixo mais próximo, para que mais nenhum transeunte incauto voltasse a assustar os gatos das proximidades com o barulho da chaleira a ser projectada rua abaixo.
Assim que os seus dedos tocam na superfície imunda do velho bule, este começou a tremer e a vibrar, emitindo um ruído semelhante a uma sirene, quando uma luz azulada lhe ofuscava os olhos. No segundo seguinte, o bule deixou de ser ver, enquanto uma espessa nuvem de fumo enchia as proximidades, envolvendo-a e ao objecto cintilante num cortina opaca.
No meio do fumo, surge um vulto de uma figura humana, que se eleva nos ares, e olha em volta. Os seus olhos escuros e oblíquos revistam-na de alto a baixo, como que à procura de provas em como tinha sido mesmo ela que teria provocado a estranha cena. Ela, aparvalhada pela surpresa e pelo absurdo da situação, tenta não tossir com o fumo à sua volta, lacrimejando,observando a medo a personagem que surge na sua frente.
No meio do fumo, surge um vulto de uma figura humana, que se eleva nos ares, e olha em volta. Os seus olhos escuros e oblíquos revistam-na de alto a baixo, como que à procura de provas em como tinha sido mesmo ela que teria provocado a estranha cena. Ela, aparvalhada pela surpresa e pelo absurdo da situação, tenta não tossir com o fumo à sua volta, lacrimejando,observando a medo a personagem que surge na sua frente.
Parecia-lhe um homem, jovem e forte, de expressão impassível e rígida, de nariz afilado, e olhos penetrantes ; todavia, não podia ser um homem normal uma vez que a solidez do tronco parecia esbater-se lentamente, não possuindo nem pernas nem pés, que pareciam unidos ao troco pelo mesmo fumo que os rodeava e que dava a ideia de surgir directamente do bico do bule.
- Que desejas? – perguntou ele, numa voz estranhamente límpida.
Ela olhou para todos os lados, como que há procura de testemunhas daquela aparição bizarra.
A rua estava deserta, não se via vivalma.
AS
- Que desejas? – perguntou ele, numa voz estranhamente límpida.
Ela olhou para todos os lados, como que há procura de testemunhas daquela aparição bizarra.
A rua estava deserta, não se via vivalma.
AS
sexta-feira, 16 de novembro de 2007
Mr. Potter
quarta-feira, 14 de novembro de 2007
A Preto e Branco
Duas décadas e 365 dias à espera de poder pronunciar :
My fall will be for you, my love will be in you, if you'll be the one to cut, i'll bleed forever.
Hora de dizer que chega finalmente o first of them true love.
AS
My fall will be for you, my love will be in you, if you'll be the one to cut, i'll bleed forever.
Hora de dizer que chega finalmente o first of them true love.
AS
terça-feira, 13 de novembro de 2007
Inverdade
Há coisas que não enganam ninguém. Há coisas que não dão para esconder.
Ou que não querem ser escondidas? Continuam, mesmo assim, a não enganarem quem esteja atento.
O olhar revelador que se fecha, as mãos que se contorcem no colo, a meias palavras caladas no meio do fluído do discurso ; tudo o que não passa despercebido mas que, mesmo assim, é feito, camuflando o que já se sabe mas não se quer que os outros saibam.
E saber o quê, afinal? O óbvio, pois claro. Aquilo que está na frente dos olhos, que se faz questão de mostrar, mas em que se insiste em manter a pose e a cobertura de açúcar da imagem plácida e doce de pessoas que não o são. Mentir com quantos dentes se tem, os de leite e os definitivos.
Para que se mente, afinal? Para não dar parte de fraco? Para ficar com alguma carta na manga, uma jogada que mais tarde poderá ser útil? Para não dizer aquilo que se sabe? Mas não deveria ser mentido como deve de ser, com firmeza e convicção, para dar credibilidade à coisa? Qual é o sentido de mostrar que se mente? Poder-se-iam fazer as coisas de maneira discreta, para fingir pelo menos que quem o diz parecesse convencido das palavras que pronuncia.
Nem isso. Para quê mentir se já se sabe de antemão que a inverdade salta à vista? Mente-se para esconder outra coisa, outro segredo, em que ninguém tem que meter o bedelho e fussar ; então, qual é a utilidade de mentir descaradamente? Estar à espera que sejam todos crédulos e estúpidos, que caiam e acreditem sem pestanejar?
Mente-se, então, para dar um ar polido, de quem não quer conflitos nem confusões, de que só se quer o bem alheio, e que criar atrito entre quem quer que seja é a última coisa que se deseja. Mente-se para se ficar bem visto perante todos, com uma imagem santificada de quem sofre pelo bem comum, e prefere ficar mal a ser responsável por um pé de vento. Mente-se para salvação da pele alheia? Sacrifica-se a verdade, as palavras certas na hora correcta, pela amizade eterna de alguém que não lhe dá valor?
Também não.
Mente-se em proveito próprio. Para ficar bem em frente aos outros, mas não para proteger ninguém. Apenas para dar a imagem correcta em frente de quem interessa, para poder continuar no papel de duende bonzinho e continuar a construir a armadilha que o que vem a seguir há-de pisar.
Mente-se, para no segundo a seguir não dizer mais verdades e poder continuar a encher a tina de veneno que há muito se armazena.
Mente-se porque sim. Porque é bom, não salvar as boas relações, mas salvar a própria pele, para ninguém mais ver que não existe diplomacia, nem diligência alguma, mas para esconder dos mais desatentos que o que afinal se salva é a imagem exterior do mentiroso, que fica a salvo para continuar a faltar à verdade.
AS
Ou que não querem ser escondidas? Continuam, mesmo assim, a não enganarem quem esteja atento.
O olhar revelador que se fecha, as mãos que se contorcem no colo, a meias palavras caladas no meio do fluído do discurso ; tudo o que não passa despercebido mas que, mesmo assim, é feito, camuflando o que já se sabe mas não se quer que os outros saibam.
E saber o quê, afinal? O óbvio, pois claro. Aquilo que está na frente dos olhos, que se faz questão de mostrar, mas em que se insiste em manter a pose e a cobertura de açúcar da imagem plácida e doce de pessoas que não o são. Mentir com quantos dentes se tem, os de leite e os definitivos.
Para que se mente, afinal? Para não dar parte de fraco? Para ficar com alguma carta na manga, uma jogada que mais tarde poderá ser útil? Para não dizer aquilo que se sabe? Mas não deveria ser mentido como deve de ser, com firmeza e convicção, para dar credibilidade à coisa? Qual é o sentido de mostrar que se mente? Poder-se-iam fazer as coisas de maneira discreta, para fingir pelo menos que quem o diz parecesse convencido das palavras que pronuncia.
Nem isso. Para quê mentir se já se sabe de antemão que a inverdade salta à vista? Mente-se para esconder outra coisa, outro segredo, em que ninguém tem que meter o bedelho e fussar ; então, qual é a utilidade de mentir descaradamente? Estar à espera que sejam todos crédulos e estúpidos, que caiam e acreditem sem pestanejar?
Mente-se, então, para dar um ar polido, de quem não quer conflitos nem confusões, de que só se quer o bem alheio, e que criar atrito entre quem quer que seja é a última coisa que se deseja. Mente-se para se ficar bem visto perante todos, com uma imagem santificada de quem sofre pelo bem comum, e prefere ficar mal a ser responsável por um pé de vento. Mente-se para salvação da pele alheia? Sacrifica-se a verdade, as palavras certas na hora correcta, pela amizade eterna de alguém que não lhe dá valor?
Também não.
Mente-se em proveito próprio. Para ficar bem em frente aos outros, mas não para proteger ninguém. Apenas para dar a imagem correcta em frente de quem interessa, para poder continuar no papel de duende bonzinho e continuar a construir a armadilha que o que vem a seguir há-de pisar.
Mente-se, para no segundo a seguir não dizer mais verdades e poder continuar a encher a tina de veneno que há muito se armazena.
Mente-se porque sim. Porque é bom, não salvar as boas relações, mas salvar a própria pele, para ninguém mais ver que não existe diplomacia, nem diligência alguma, mas para esconder dos mais desatentos que o que afinal se salva é a imagem exterior do mentiroso, que fica a salvo para continuar a faltar à verdade.
AS
segunda-feira, 12 de novembro de 2007
Dia Verde
I walk a lonely road
The only one that I have ever known
Don't know where it goes
But it's home to me and I walk alone
I walk this empty street
On the Boulevard of Broken Dreams
Where the city sleeps
and I'm the only one and I walk alone
I walk alone
I walk alone
I walk alone
I walk a...
My shadow's the only one that walks beside me
My shallow heart's the only thing that's beating
Sometimes I wish someone out there will find me
'Til then I walk alone
Ah-ah, Ah-ah, Ah-ah, Aaah-ah,
Ah-ah, Ah-ah, Ah-ah
I'm walking down the line
That divides me somewhere in my mind
On the border line
Of the edge and where I walk alone
Read between the lines
What's fucked up and everything's alright
Check my vital signs
To know I'm still alive and I walk alone
I walk alone
I walk alone
I walk alone
I walk a...
My shadow's the only one that walks beside me
My shallow heart's the only thing that's beating
Sometimes I wish someone out there will find me
'Til then I walk alone
Ah-ah, Ah-ah, Ah-ah, Aaah-ah
Ah-ah, Ah-ah
I walk alone
I walk a...
I walk this empty street
On the Boulevard of Broken Dreams
Where the city sleeps
And I'm the only one and I walk a...
My shadow's the only one that walks beside me
My shallow heart's the only thing that's beating
Sometimes I wish someone out there will find me
'Til then I walk alone...
Hoje apetece-me ouvir esta música.
Não sei bem porquê, mas como também não sei explicar, fico-me pela partilha da melodia.
Daquelas músicas que nos fazem ver as bandas para além do passado musical dúbio e de um vocalista giro.
AS
domingo, 11 de novembro de 2007
E hoje é dia de ...
S. Martinho ficaria deveras surpreendido se fosse nos dias que correm que o seu milagre tivesse lugar.
Não só o pobre seria o próprio S. Martinho, porque só dar a capa não chegaria, teria que ficar nu no meio do povoado para conseguir dar uma ajuda significativa, como o pobre ainda lhe diria que só roupa não chega, que isto está mau para todos, e que assim não pode ser, pedindo-lhe também uns trocos para o café e se não lhe orientava um cigarrinho, e lume também, se fizer favor.
Já ninguém pede abrigo. Simplesmente dorme ao relento.
Também ninguém dá a capa, nem o que quer que seja. Está-se tudo borrifando.
Deste dia, só restam as castanhas e o vinho.
AS
O que diz o rádio
Uma ruela solitária, a única que alguma vez conheceu. Não sabe para onde vai, que destino tomar, mas parece-lhe familiar, e continua a caminhar sozinho
Uma rua deserta, a avenida dos sonhos despidos. A cidade adormece, os corvos acordam. O único que vive caminha sozinho.
Sozinho.
Sombras que o acompanham, as únicas a seu lado. Coração vazio, parasitado, demente, o único que bate, que pulsa, que vive.
Sozinho.
O que divide alguma coisa dentro de si, linha de fronteira entre a loucura e a sanidade, afinal não existe. E caminha sozinho.
Caminha entre a escuridão, o que é podre, sem uso nem brilho, e o que é são, e limpo, e puro, e bom.
Sinais vitais existem.
Continua vivo.
E caminha sozinho.
AS
Uma rua deserta, a avenida dos sonhos despidos. A cidade adormece, os corvos acordam. O único que vive caminha sozinho.
Sozinho.
Sombras que o acompanham, as únicas a seu lado. Coração vazio, parasitado, demente, o único que bate, que pulsa, que vive.
Sozinho.
O que divide alguma coisa dentro de si, linha de fronteira entre a loucura e a sanidade, afinal não existe. E caminha sozinho.
Caminha entre a escuridão, o que é podre, sem uso nem brilho, e o que é são, e limpo, e puro, e bom.
Sinais vitais existem.
Continua vivo.
E caminha sozinho.
AS
sábado, 10 de novembro de 2007
Interrogacões Existenciais III
Alguém já se terá dado ao trabalho de verificar se as redes de telecomunicações móveis nacionais são conformes à Constituição?
Em que parte da Lei Fundamental está previsto que se pode chular desenfreadamente o consumidor?
Será o chupismo, ele próprio, inconstitucional?
AS
Em que parte da Lei Fundamental está previsto que se pode chular desenfreadamente o consumidor?
Será o chupismo, ele próprio, inconstitucional?
AS
Alcoólicos e Equiparados
Fenómeno do dia : a esperteza saloia. Não basta ser-se esperto , há-que ser também saloio.
Porque ser-se esperto é pouco original, está muito visto. Quem se interessa pelo jogo de cintura, pelo savoir faire tão necessário todos os dias para sobreviver, quem quer saber de ser esperto? Ninguém. A esperteza já não encanta ninguém.
Agora, se acoplada à esperteza vier outro fenómeno, mesmo que tão batido e tão pouco original como o primeiro, as coisas já se passam de maneira diferente.
Porque um comportamento espertalhão não é nada de especial se atrás dele não vier a saloiada. O fazer as coisas porque sim, sem melhor explicação aparente ; o cochichar como uma beata de aldeia sobre quem passa ; a eterna mania que se é melhor mesmo sem mostrar obra feita, só porque se parou no tempo e ainda se usa o mesmo penteado 2002/2003, mostrando a perpetuidade da moda, a eternidade da superioridade ( inexistente ) , a estupidez periclitante de ter a pretensão de ser embirrante e empurrar pessoas na rua só porque elas estão no caminho.
Isto, caros amigos, não é esperteza, longe disso, que a esperteza, além de não servir para nada a não ser para enfeitar mais uma linha no dicionário, não existe.
Já a esperteza saloia, em que se junta o típico hábito do típico tuga de fazer as coisas à marosca, à última da hora e dar miraculosamente certo, à parvoíce estupidamente tacanha, aliada à vontade de continuar a querer parecer tão jovem como no 9º ano, aos risinhos e palhaçadinhas, tão incapaz como se era na altura.
Evolução. Fenómeno : deixar a esperteza dita tradicional de lado e juntar a um conceito tão gasto e obsoleto uma nova ideia, que com toda a certeza trará ao mundo grandes espertinhos e gigantescas saloíces.
AS
Porque ser-se esperto é pouco original, está muito visto. Quem se interessa pelo jogo de cintura, pelo savoir faire tão necessário todos os dias para sobreviver, quem quer saber de ser esperto? Ninguém. A esperteza já não encanta ninguém.
Agora, se acoplada à esperteza vier outro fenómeno, mesmo que tão batido e tão pouco original como o primeiro, as coisas já se passam de maneira diferente.
Porque um comportamento espertalhão não é nada de especial se atrás dele não vier a saloiada. O fazer as coisas porque sim, sem melhor explicação aparente ; o cochichar como uma beata de aldeia sobre quem passa ; a eterna mania que se é melhor mesmo sem mostrar obra feita, só porque se parou no tempo e ainda se usa o mesmo penteado 2002/2003, mostrando a perpetuidade da moda, a eternidade da superioridade ( inexistente ) , a estupidez periclitante de ter a pretensão de ser embirrante e empurrar pessoas na rua só porque elas estão no caminho.
Isto, caros amigos, não é esperteza, longe disso, que a esperteza, além de não servir para nada a não ser para enfeitar mais uma linha no dicionário, não existe.
Já a esperteza saloia, em que se junta o típico hábito do típico tuga de fazer as coisas à marosca, à última da hora e dar miraculosamente certo, à parvoíce estupidamente tacanha, aliada à vontade de continuar a querer parecer tão jovem como no 9º ano, aos risinhos e palhaçadinhas, tão incapaz como se era na altura.
Evolução. Fenómeno : deixar a esperteza dita tradicional de lado e juntar a um conceito tão gasto e obsoleto uma nova ideia, que com toda a certeza trará ao mundo grandes espertinhos e gigantescas saloíces.
AS
quinta-feira, 8 de novembro de 2007
132º/1, e) Código Penal
Coisinha está de volta, mas desta vez decide deixar os Gorilas em paz, já não há cá visitas ao Zoo para ninguém.
Desta vez, Coisinha vai a passear na rua quando Alguém se oferece para lhe mudar o óleo ao cabelo.
Coisinha sente-se extremamente ofendida, pensava que era fashion andar toda badalhoca na rua, e não indo de modas, dá um tiro nesse Alguém, que tão prestavelmente a quis ajudar, não sem antes lhe dar dois coices e três dentadas, ficando o Alguém sem orelhas, e com os tintins em brasa.
Estes estragos no pobre do Alguém só foram relevantes quando o juiz condenou Coisinha a 3 anos de prisão, considerando que o "Alguém ia morrer de qualquer maneira com o tiro, por isso, vou fingir que não vejo o relatório da autopsia que diz que o homem ficou sem orelhas e francamente danificado nas áreas sensíveis".
O juiz esqueceu-se que Coisinha é inimputável.
Quid Juris?
AS
Desta vez, Coisinha vai a passear na rua quando Alguém se oferece para lhe mudar o óleo ao cabelo.
Coisinha sente-se extremamente ofendida, pensava que era fashion andar toda badalhoca na rua, e não indo de modas, dá um tiro nesse Alguém, que tão prestavelmente a quis ajudar, não sem antes lhe dar dois coices e três dentadas, ficando o Alguém sem orelhas, e com os tintins em brasa.
Estes estragos no pobre do Alguém só foram relevantes quando o juiz condenou Coisinha a 3 anos de prisão, considerando que o "Alguém ia morrer de qualquer maneira com o tiro, por isso, vou fingir que não vejo o relatório da autopsia que diz que o homem ficou sem orelhas e francamente danificado nas áreas sensíveis".
O juiz esqueceu-se que Coisinha é inimputável.
Quid Juris?
AS
quarta-feira, 7 de novembro de 2007
Memorial Historial
Era uma vez uma personalidade jurídica perdida nos meandros da Judicatura.
Era uma vez a luz que provinha muito para além de um ordenamento pobre e sem vida.
Era uma vez o que nasceu, sem forma, sem tamanho, sem descrição, sem precedentes, sem nada que se lhe possa comparar.
Era uma vez o que vem daí e se prolonga indefinidamente no tempo.
Era uma vez.
AS
Era uma vez a luz que provinha muito para além de um ordenamento pobre e sem vida.
Era uma vez o que nasceu, sem forma, sem tamanho, sem descrição, sem precedentes, sem nada que se lhe possa comparar.
Era uma vez o que vem daí e se prolonga indefinidamente no tempo.
Era uma vez.
AS
terça-feira, 6 de novembro de 2007
Reunidos Geramos Atrito
Há quem esteja furioso com o estado de coisas, provavelmente com muita razão, mas qué isto e tal, onde é que estamos, mas é assim as coisas?
Vai-se para um reunião tentar perceber o que se pode fazer por uma faculdade que tantas vezes se esquece dos alunos, que medidas podem ser tomadas para resolver uma “crise académica”, o que há a fazer perante as dificuldades que surgem em processos tão complexos como os de adaptação a novos métodos e visões.
Vai-se para lá a pensar que é desta que se muda o mundo académico, que juntos solucionaremos todos os problemas, que 500 e tal cabecinhas têm muitos mais ideias luminosas do que 20, que com a força que se reúne à volta destes acontecimentos somos imbatíveis.
Só não será bem assim.
Aproveita-se a ocasião para exibir um pouco as qualidades políticas dos oradores, perder tempo em divagações das quais ninguém se vai lembrar assim que transpuser a porta, enquanto se trocam galhardetes e se lava todo um estendal político, de rivalidades pouco ou nada resolvidas, em frente a toda a gente.
Quem é apanhado no fogo cruzado acaba por não perceber bem como é que um plenário que era suposto tentar solucionar as dificuldades que têm surgido vai de repente parar a outra temática que não seja o diz que disse, e o fiz e tu não fizeste.
Uma coisa boa é de salientar no meio de tanta confusão : ninguém fica indiferente ao que, de facto, se passa dentro de um edifício que afinal acaba por ser a nossa vida. Mesmo com todos os atritos e querelas criadas aqui e ali, ninguém fica indiferente, nem deixa passar em branco o facto de existirem actos que são prejudiciais, e que requerem medidas para os contestar.
Enquanto se enche um riacho de espuma branca do sabão que é usado para lavar toda a roupa possível e imaginária, as pessoas movimentam-se à volta do que é crucial.
É isto que é de louvar.
AS
Vai-se para um reunião tentar perceber o que se pode fazer por uma faculdade que tantas vezes se esquece dos alunos, que medidas podem ser tomadas para resolver uma “crise académica”, o que há a fazer perante as dificuldades que surgem em processos tão complexos como os de adaptação a novos métodos e visões.
Vai-se para lá a pensar que é desta que se muda o mundo académico, que juntos solucionaremos todos os problemas, que 500 e tal cabecinhas têm muitos mais ideias luminosas do que 20, que com a força que se reúne à volta destes acontecimentos somos imbatíveis.
Só não será bem assim.
Aproveita-se a ocasião para exibir um pouco as qualidades políticas dos oradores, perder tempo em divagações das quais ninguém se vai lembrar assim que transpuser a porta, enquanto se trocam galhardetes e se lava todo um estendal político, de rivalidades pouco ou nada resolvidas, em frente a toda a gente.
Quem é apanhado no fogo cruzado acaba por não perceber bem como é que um plenário que era suposto tentar solucionar as dificuldades que têm surgido vai de repente parar a outra temática que não seja o diz que disse, e o fiz e tu não fizeste.
Uma coisa boa é de salientar no meio de tanta confusão : ninguém fica indiferente ao que, de facto, se passa dentro de um edifício que afinal acaba por ser a nossa vida. Mesmo com todos os atritos e querelas criadas aqui e ali, ninguém fica indiferente, nem deixa passar em branco o facto de existirem actos que são prejudiciais, e que requerem medidas para os contestar.
Enquanto se enche um riacho de espuma branca do sabão que é usado para lavar toda a roupa possível e imaginária, as pessoas movimentam-se à volta do que é crucial.
É isto que é de louvar.
AS
segunda-feira, 5 de novembro de 2007
sábado, 3 de novembro de 2007
A Song To Remember
The days were brighter
Gardens more blooming
The nights had more hope
In their silence
The wild was calling
Wishes were whispering
The time was there
But without a meaning
Away, away in time
Every dream's a journey away
Away to a home away from care
Everywhere's just a journey away
The days departed
Gardens deserted
This frail world
My only rest?
The wild calls no more
Wishes so hollow
The Barefoot Boy
weeping in an empty night
Cherish the moment
Tower the skies
Don't let the dreamer
fade to grey like grass
No falling for life
A gain for every loss
Time gathered me
But kept me flying
"For this gift of dream I must pay the price with the loss of life's pleasures"
Tuomas Holopainen, in Nightwish "Away"
AS
Gardens more blooming
The nights had more hope
In their silence
The wild was calling
Wishes were whispering
The time was there
But without a meaning
Away, away in time
Every dream's a journey away
Away to a home away from care
Everywhere's just a journey away
The days departed
Gardens deserted
This frail world
My only rest?
The wild calls no more
Wishes so hollow
The Barefoot Boy
weeping in an empty night
Cherish the moment
Tower the skies
Don't let the dreamer
fade to grey like grass
No falling for life
A gain for every loss
Time gathered me
But kept me flying
"For this gift of dream I must pay the price with the loss of life's pleasures"
Tuomas Holopainen, in Nightwish "Away"
AS
quinta-feira, 1 de novembro de 2007
Mais do Mesmo
Quem pensa que sabe muito, normalmente anda a pé. Porque se esquece de contar com a esperteza dos outros, que chega para dar três voltas ao quarteirão do bairro caroucho mais próximo.
Não queria ser forçada a usar sempre a mesma metáfora, mas não tenho outro remédio ; quem conta com o ovo no dito da galinha, normalmente fica com as mãos sujas, porque o mais certo é o ovo não constar.
Logo, não se cansem que não vale a pena.
O melhor mesmo é começarem a poupar para um carrinho, para não terem que andar tantas vezes a pé.
Porque com o mal dos outros, estão os outros bem.
AS
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