quinta-feira, 17 de junho de 2010

Factos Revisitados

Não se sabe se será da azia ou de não ter mais que fazer, ou ainda de ter dormido mal e porcamente, mas há qualquer coisa nas pessoas que exerce um fascínio estrondoso.

Nomeadamente, a estupidez que irradia os seus cérebros, quais raios de sol incandescentes.

E outras coisas, como o ressabiamento, mas não tendo bem a certeza que tal palavra exista, fica como pessoas-que-não-têm-mais-nada-com-que-ocupar-o-tempo-e-teimam-em-ficar-apegados-às-coisas-que-já-se-passaram-há-pelo-menos-quinhentos-anos.

E com isto não se quer mencionar rancores e ódios antigos, que isso todos têm, de uma forma ou de outra.

Coisas parvas que têm barbas de velho, que serviram de pretexto para cortar com relações igualmente idosas. Apenas pretextos, nada mais, que agora renascem e ficam a pairar, como se os factos que lhes deram origem fossem frescos como o leite do dia. Factos que, se fossem analisados, nem teriam força para cancelamento do que quer que seja. Não passam de desculpas, de pretextos, de bodes expiatórios, qualquer coisa que serve de mote a que se fique mortalmente ofendido por coisa nenhuma.

Assim é, às vezes acontece, uma coisinha de nada despoleta uma tempestade e um vendaval tamanhos que é muito difícil reparar os estragos. Mesmo que não se perceba, aceita-se, tudo tem um fim, porque não um assim?

O problema surge quando os motivos voltam a renascer, assombrando quem alegadamente os cometeu, sim porque toda a gente sabe que isto dos motivos e factos que levam a não sei quê são uma espécie de fantasminhas que vêm chatear os vivos quando já ninguém se lembra deles ou quando não conseguem descansar em paz, renascem milagrosamente e caminham por aí, importunando uns e outros, como se fosse uma alegre parada.

E quem não tem nada a ver com o assunto, mas que indirectamente até está implicado, já não sei como é que funciona aquela coisa do autor mediato em Penal, à laia das máfias e tal, mas deve ser assim uma coisa parecida, e subitamente, lá vamos nós outra vez arranjar caldinhos a torto e a direito, e a falar no diz-que-disse, e a encontrar conhecidos na rua e desatar a falar mal, tanto e de tal forma que, quando se tenta vislumbrar um fio condutor, este não existe porque já está entranhado nos meandros do Polvo, esse vasto animal em que se tornam as pessoas quando se reúnem.

Fingindo que se tratavam de pessoas minimamente razoáveis, a solução era um encontro de razões, em que tudo se poria em pratos limpos, uma lavagem de roupa suja, vá, uma sujidade entranhada há anos, que se recusará a sair, mas enfim, sempre se dirá que em nome da concórdia tudo se fará, e que se nada for feito correr-se-á o risco de o Polvo estender os seus tentáculos muito além da maldade habitual, ou seja, um pretexto qualquer, a juntar aos outros, para que haja a não resolução das questões pendentes.

A gaita toda, que é mesmo assim, que é para não dizer merda, se bem que não se entenda bem porque raio se terá de usar um eufemismo se a vontade e a verdade é dizer merda, enfim, diga-se merda que também não é por isso que o gato vai ao bofe, a merda toda é que esta base instrutória tem muitos quesitos, todos eles complexos, todos eles de difícil prova e resposta. Remontam os factos a datas longínquas e não há ninguém vivo para os recordar, envolvem sentimentos e podres de terceiros, envolvem verdades que não se querem ditas, envolvem orgulhos feridos e feitios dificeis que não se sabem por no seu devido lugar. E isto é extramamente complicado para ser resolvido.

Quer dizer, resolver até se resolve, mas mais numa cena de porrada à Van Dame do que numa normal conversa de crescidos.
Porque ninguém é crescido, mesmo que tentem fingir o contrário.

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