O egoísmo é uma coisa terrível. Devia ser considerado pecado capital – agora que está na moda inventar novas formas de prevaricação, deviam pensar em incluir este – se é que não está já no elenco pretendido.
É o mesmo que ter só um olho, um olho que vê para dentro. Juntamente com o egoísmo vem sempre alegremente de mãos dadas uma superior moral que a todos faz sombra. Fazer e acontecer sem olhar a meios e no fim ainda levantar a cabeça e discursar fortemente à moral e bons costumes é algo de extraordinário que muito poucos conseguem.
Ter o telhado da própria propriedade todo em vidro brilhante e, mesmo assim, fazer batalhas de calhaus é de uma atroz inteligência. Seria a conclusão a retirar à primeira vista.
Talvez não. Pode ver-se de outro prisma. Aqui não impera a mania da superioridade moral ou, em português como é falado todos os dias, a grande lata de andar a pregar aos peixinhos tudo o que afinal, não se faz nem tão pouco se respeita o que se diz. O egoísmo leva a uma atitude assim. Porque? Como o único olho disponível é o que se encontra voltado para dentro, não há grande coisa que se possa ver para além da própria magnitude, valor e virtude. Não há que sobressaia para além do que é próprio, não há nada que sobreviva ao olhar atento do mérito do mesmo, e nada mais sobressai. Engraçado ...
O egoísmo também provoca, quanto mais não seja, surdez. Temporariamente incapacitado para usar o pavilhão auditivo, tanto o que se diz como o que é dito, e logo incapacitado de se perceber se o que se diz não é , afinal, a maior das barbaridades.
Não dá para perceber porque se é surdo. E para quem já é cego, ser surdo ou não ser, qual é a diferença?
AS
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