quarta-feira, 9 de abril de 2008

Os Filhos da Mãe

Teve um filho, mas não o queria.
Tentou por diversas vezes livrar-se dele, mas nunca conseguiu. Tentou abandoná-lo, numa rua qualquer, desconhecida, suja e fria, num qualquer caixote do lixo ; mas depois lembrou-se dele, lá sozinho, triste e choroso e voltou para o ir buscar. Tentou mutilá-lo, rasgá-lo, dilacerá-lo, fazê-lo em pedaços, mas em todas as vezes que o fez, tratou-lhe as feridas, ajudou a curar, tratou dele como se fosse importante.
Tentou matá-lo, no meio do desespero de não o querer, de não poder olhar para ele, de sentir que não era mais que um peso morto numa vida que poderia ser plena se ele não existisse. Mas até aí se compadeceu, chorou com ele, pela dor, pela raiva surda, pelo desgosto de ter uma mãe que não gostava dele.
Por mais que o odiasse, por mais que o quisesse morto, nunca se conseguia verdadeiramente desfazer dele, não havia, de facto, nada que a pudesse separar dele. Não o queria, mas tambem não o queria longe. Não gostava dele, mas não queria que se fosse embora. Era um mal necessário à sobrevivencia. Mas estava lá, e não ia embora.
De cada vez que prometia a si mesma que era a última vez, que não aguentava mais, que se ia embora, e o deixava num canto, havia sempre maneira de voltar atrás com a decisão. E voltava tudo ao mesmo.


Moral da história : matar o bicho de raiz para não ficar a agonizar a vida toda. É o que dá não saber nem querer mais nada da vida senão a Judicatura. Os filhos que daí nascem nunca mais morrem.





AS

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