sexta-feira, 30 de junho de 2017

Da Inveja Boa

Alguém, algum dia, quando não tiver nada que fazer, poderá explicar-me o fenómeno da sexta-feira: não está ninguém na rua.

Ninguém.
Ninguém na estrada.
Ninguém no metro.
Ninguém no comboio.
Ninguém no estacionamento.
Ninguém.

Onde andam as pessoas à sexta-feira?
Não vão trabalhar?

É que se não vão, digam-me lá para onde é que se manda CV para trabalhar numa empresa dessas, que eu também quero.

quinta-feira, 29 de junho de 2017

Nonsense Talking ... Nº Qualquer Coisa

Hóme: Onde está a chucha do miúdo?
Melher: Deve estar no berço.
Hóme: Não está. 
Melher: Ele adormeceu com ela. Tem de estar lá.
Hóme: Não está. 
Melher: Então deve estar caída, lá para trás do berço. Já procuraste?
Hóme: Já. Não encontro.
Melher: Já afastaste o berço? Pode estar caída mesmo por baixo e só vês se tirares o berço da frente.
Hóme: Já fiz isso e não está. Não está em lado nenhum.

Melher vai ao quarto do miúdo, afasta a porra da cama e encontra logo a porra da chucha. 
Melher ri-se muito. 
Hóme todo fodido.


Sou Só Eu Que Me Rio Destas Coisas?

Não é só a praticar advocacia de província que se encontram estas pérolas:

Hoje, naquela terra do demo, é feriado. E portanto eu, como boa preguiçosa que sou e gosto de ser, estou a morrer de inveja dos meus colegas que estão alapados, a esta hora, nas suas caminhas, enquanto eu não tenho outro remédio senão vir trabalhar, ainda por cima numa terra onde nem sequer há queijadas.


Foda-se mais a isto.

terça-feira, 27 de junho de 2017

Meanwhile in Ergástulo - Parte Primeira

Esta é uma casa esquisita, é ponto assente. Uma casa estranha, cheia de pessoas bizarras com comportamentos fora do normal, que não se encaixa em coisa alguma antes vista.

Tendo esta informação presente - e bem presente - é preciso começar por referir que o chefe da aldeia dos macacos, ele próprio um gorila muito velho, não faz nenhum.
Nada. Zero. Niente. Nicles. Ponta. De. Um. Chaveiro. Um boi. Nada, porra, mesmo nada.

Chega de manhã, anda a cirandar pelas salas de toda a gente a perguntar o que é que se está a fazer, o que é que há pendente, manda uns bitaites e depois vai para a sua salinha, onde se entretém a abrir e fechar os armários muitas vezes (aparentemente é uma actividade que faz muito bem aos ossos) e depois senta-se na sua poltrona a olhar para o vazio.


Isto é verídico, não é um queixume engraçado com umas piadas parvas cá pelo meio, como é meu apanágio. É mesmo verdade. Tenho visto isto todos os dias.
O senhor fica uma manhã, uma tarde, um dia inteiro sentado no sofá a olhar em frente, admirando a beleza da cor das paredes. Ao meio dia e dez vai almoçar, que a terceira idade não é digna desse nome se não almoçar ao meio dia e dez. Leva três ou quatro discípulos fiéis, os outros não, que a ordem não é rica e não há dinheiro para gastar em almoços para a ralé.
O seu telefone toca muitas vezes; imagino que seja a mulher a perguntar-lhe se quer sopa de feijão para o jantar. Ou a perguntar-lhe se sabe onde pôs as chaves da arrecadação que precisa de ir lá buscar o regador e não sabe onde as pôs. Ou a dizer-lhe que não se atrase que hoje quer ver a Gala da Solidariedade dos Incêndios.

Isto é só o que vejo. Faria se me pusesse a escrever sobre aquilo que sei... (tendo esse conhecimento sido adquirido na pendência de coscuvilhice fora do horário de expediente). Mais tarde, talvez.


Por agora, meditemos apenas na introdução do texto que é, no fundo, a sua conclusão: este gajo não faz um cu.
Agora que já interiorizámos isto nas nossas cabecinhas, demos um passo em frente e perguntemo-nos como é que se gere uma sociedade desta dimensão sem mexer uma palha...

Já se está mesmo a ver a resposta, não é?




Continuo Aqui

Longe do que sempre conheci, repleta de saudades de quem deixei para trás e com uma fome de queijadas que só visto.

sexta-feira, 23 de junho de 2017

Neste egástulo onde ninguém fala, ninguém se ouve e ninguém faz, por qualquer motivo, mais barulho do que aquele que seria aconselhado numa missa de velório, espirram tão alto e tão desordeiramente que mais parecem galinhas a cacarejar para pôr ovos.
E como a casa é tão grande que até parece que faz eco, fica o espirro a pairar no ar uns segundos, até desaparecerem  os átomos do som.
Continua tudo na sua vidinha como se nada fosse, como se não tivessem acabado de expelir um frondoso pinheiro pelo nariz; a ninguém parece estranho que na casa do silêncio caiam bombas nasais de quando em vez.
Pelos vistos sou a única a quem isto parece bizarro.



Lá está aquilo que vislumbrei logo nos primeiros dias: o local muda, mas a maluqueira é exactamente a mesma.
Mas depois há jantares e cafés e conversas que duram horas e que acabam tarde, fazendo com que nada, afinal, mude e que por mais dias longe as coisas não se perdem e não há afastamento.


E isto enche-me o coração.

quarta-feira, 21 de junho de 2017

"Todos os dias penso em ti e nos vários momentos fixes que passámos juntas"

É por causa destas e doutras, igualmente fofinhas e igualmente tocantes, que ainda olho todos os dias para trás e todos os dias questiono a minha escolha, perguntando-me se foi a certa, se foi para melhor, se foi pelo melhor.

Ainda não sei responder (algum dia saberei?) e, no entretanto, sofro horrores por estar longe. Não penso, obviamente na antiga entidade patronal - a bem da verdade, quero se essa se foda - mas não consigo deixar de ter, pelo menos por ora, um amargo de boca gigante e lágrimas constantemente a cair por deixar para trás uma amiga tão querida e tão importante.


Foda-se mais a isto.








Eu não disse que a hora do queixume haveria de chegar?

terça-feira, 20 de junho de 2017

Sublime

                     É o que dá quando os Maridos desta vida têm bom gosto musical: ensinam alguma coisa às Esposas.

Pedrogão Grande


Esta é capaz de ser das maiores tragédias que alguma vez assolaram este país.
Não há palavras para descrever isto.

segunda-feira, 19 de junho de 2017

Update

Por aqui, na terra das girafas em lingerie, começa-se a conhecer os cantos à casa.

Não obstante ter-me perdido duas vezes numa ida à casa de banho, até é um escritório confortável para se trabalhar.
Aqui impera essencialmente a regra do silêncio: não se faz barulho por coisa nenhuma. Até os telefones tocam baixinho e com toques do mais discreto possível.
Da primeira vez que o meu telefone tocou, ia jurar que havia uma fuga no ar condicionado, porque ouvia um assobio estanho e ininterrupto que não sabia a origem. O chão é todo alcatifado, abafando todos os passos, mesmo daquelas que calçam tamancos barulhentos. O que é óptimo para quem gosta de borregar nas redes sociais; quando se dá por isso tem-se a entidade patronal a cheirar e nem se ouviu a pessoínha entrar.

Agora que já se passaram alguns dias, começa a estranheza a ir embora e começam a criar-se laços suficientes para as conversas de café, à hora do almoço. Que é como quem diz, vamos desancar nos bodes que mandam nisto.

Percebo - não sem algum alívio - que trabalhar aqui ou naquela comarca do demónio, naquela casinha cheia de monstros civilistas - ou, a bem da verdade, noutra qualquer - acaba por ser mais ou menos a mesma coisa. A única diferença é que quem manda aqui tem mais a mania.

O que não deixa de ser engraçado.

Aguardam-se tempos de grande e bom queixume, estou a prever.

quarta-feira, 14 de junho de 2017

Assim Vai Sendo

Esta semana é óptima para quem trabalha em Lisboa e é preguiçoso, tendo em conta a proximidade de dois feriados. Tendo também em consideração que me insiro nestas duas categorias, ainda só estou há dois dias no poiso novo e ainda não tenho bem uma opinião definida.

O trabalho é bom e interessante, mas as pessoas são estranhas. Provavelmente deve-se ao facto de eu própria ser e ter aspecto de ave rara, mas a verdade é que tenho a nítida sensação que toda a gente olha para mim como se estivesse a ver uma girafa em lingerie a entrar pela casa adentro. E, de novo, provavelmente, deve-se somente à estranheza de ter passado tanto tempo num sítio onde as pessoas são assumida e patologicamente malucas e, agora que estou num local completamente novo, ser tudo deveras bizarro.

Enfim, vamos ver o que trazem estes novos tempos.

Sendo certo que, conhecendo-me como me conheço, não há de tardar nada para me estar a queixar como se não houvesse amanhã.


sexta-feira, 9 de junho de 2017

.


Isto está a custar mais do que estava à espera.
Está, a bem da verdade, a custar mais do que devia.

Estou naquela fase terrível em que já não pertenço de onde ainda nem saí e também não pertenço onde ainda não cheguei.

Faz algum sentido?

quarta-feira, 7 de junho de 2017

Acho que sofro de Síndrome de Estocolmo...

Depois de todos estes anos a levar pancada, a ouvir barbaridades, a ser ameaçada com o olho da rua e a sofrer bullying patronal, as entidades superiores desta casinha cheia de monstros civilistas fazem por parecer verdadeiramente tristes e sentidas com a minha partida.

E eu, feita estúpida, ainda penso duas vezes se será verdade ou não antes de perceber que não tenho pena nenhuma. Mas ainda tive que pensar duas vezes...

Que sentido é que isto faz?! Depois de tooooodo este tempo a sonhar com o dia da abalada, em que fantasiei variadas vezes com a hora em que pegava fogo a esta merda, ainda tenho de pensar duas vezes se vão sentir a minha falta ou não?! E ainda penso duas vezes se isso será verdade ou não, antes de decidir que não quero saber?!

Não há pachorra para mim.

segunda-feira, 5 de junho de 2017

Leituras Nº ... Qualquer Coisa Serve

 
Enternecedor.
Extremamente bem escrito.
Um afago à vista.
 
Muito bom.

Coisas que constato enquanto espero nas Finanças, com 578462 senhas à minha frente:

 - Os velhos são a razão pela qual há fila em tudo o que é repartição pública;

 - Os funcionários não têm vergonha na puta da cara e interrompem o trabalho que estão a fazer para irem beber café a meio da manhã, com 300 senhas por atender;

 - Os velhos, que poderiam ir despachar a sua vidinha num qualquer horário, entendem por bem ir logo de manhã, ao mesmo tempo que os que ainda trabalham e têm de se despachar porque estão a perder tempo de trabalho;

 - Os degraus daquele prédio estão tão gastos pelos pés das pessoas que me ia esbandalhando um cento de vezes antes de perceber porque motivo os degraus tinham bossas;

 - Os velhos que entendem por bem ir de manhã a repartições públicas só lá vão para poder usar do direito ao atendimento prioritário;

 - A população activa que aguenta que os velhos sejam atendidos em primeiro lugar deseja ardentemente que os avós desta vida morram atropelados por vacas em fúria;

 - Cheira-me que muitos dos lobotomizados portugueses estejam a trabalhar naquele Serviço de Finanças muito específico da Margem Sul, a avaliar pelo desempenho maravilhoso de todos eles quando descobrem que o assunto que ali traz o contribuinte não é, afinal, ali que deve ser tratado;

 - Estranho como não há gente que parte mais vezes e mais rapidamente para a violência quando percebe que há mais um velho a fazer-se de coxo para passar à frente;

 - A porra dos velhos insistem em contar a vida toda a toda a gente e atrasam o expediente já de si sobrecarregado, concluindo exactamente como comecei: Os velhos são a razão pela qual há fila em tudo o que é repartição pública.

quinta-feira, 1 de junho de 2017

7 Days To Say Goodbye

Trabalhar aqui é um pouco como estar numa relação em que se sofre de violência doméstica.

Estamos constantemente a apanhar na boca, a ser rebaixados e humilhados, a ser espezinhados e desrespeitados, seja à frente de quem for e pelo tempo que o agressor bem entender. Mas se depois mostramos cara feia ou descontentamento, depressa vem o tempo de bonança, de piadas, de simpatias e bonomias. Como que para nos fazer esquecer dos maus momentos, como que para darmos o nosso perdão, como que a desculpar e a pôr tudo para trás das costas.

E a vítima, como estúpida que não é mas que a querem fazer assim, fica numa situação que o agressor quer confusa, sem saber se é amada ou odiada ou se o agressor sofre de alguma perturbação involuntária do espírito, agindo sem culpa.

Tanto ou tão pouco que quando a vítima tenta escapar é inevitável que sinta um não-sei-quê de remorso por estar a abandonar uma situação que, afinal, é tão boa e ela própria é que é uma porcalhona por estar a pensar em deixar tudo para trás.

E é assim que se acaba morta, numa qualquer valeta, depois de anos e anos a levar pancada e a ser assediada, sem vontade de viver. Para depois ficar conhecida ou como a coitadinha que não pôde fugir ou então como a puta miserável que teve todas as oportunidades de sair e fugir para bem longe e nunca o quis fazer porque, no fundo, lá bem no fundinho, gostava de levar porrada e por isso não se venha cá queixar uma vez que foi ficando porque quis e bem lhe apeteceu.


Durante 7 anos, foi assim.
7 anos.
Neste tempo, ouvi coisas que não lembram a ninguém. Fizeram-me coisas que não lembram a ninguém. Aguentei desaforos, bocas ordinárias, palavreado triste, ofensivo.
Passei 7 anos a oscilar entre a profunda angústia provocada pelo insulto e a angústia ligeira dos tempos neutros em que nada acontecia.

Durante 7 anos, nas reuniões anuais, quer a actividade financeira estivesse em alta ou estivéssemos a passar por uma crise, a conversa era sempre a mesma: temos uma estrutura pesadíssima, assim não vamos lá, vai alguém embora muito em breve. Sempre, em repeat, sem nunca desviar a trajectória. Havia sempre mais alguém para pôr na rua. Cheguei cá e esta casa estava cheia de gente; agora, não sobram muitos desse tempo. Porque de facto as ameaças foram passando à prática.

A última vez que esta conversa surgiu foi em fevereiro, numa reunião animadíssima para celebrar o meu regresso depois de ter saído por ocasião do nascimento do meu rebento, em que, basicamente para matar saudades, foi repetida a conversa do vou-vos pôr na rua, complementada com asneiras e mais insultos. E, nessa ocasião, caiu-me tão bem ou tão mal que decidi que seria a última vez que alguém, aqui, se dirigia a mim naqueles termos. Depois de ter passado 7 anos a ouvir mais do mesmo, achei que seria demais ficar mais um dia sequer num local onde constantemente se dirigem aos trabalhadores com tamanha falta de respeito e consideração pelo esforço que todos os dias é empreendido nas tarefas que são distribuídas. Fiz um voto em como não deixaria que mais ninguém me pusesse os pés em cima e deixaria esta corja o mais depressa que conseguisse.


E, agora, chegou essa hora.
Não consigo contabilizar as horas que passei a sonhar com este momento. Não consigo contabilizar as vezes que fantasiei em entrar pela sala daquela abécula, atirar-lhe com a chave para cima da mesa e dizer-lhe vou à minha vida, vá-se foder. Não consigo contabilizar as vezes em que estive para fingir que tinha tido um acidente e que não podia ir trabalhar.

Não é uma despedida fácil, no entanto, e apesar de tudo o que já descrevi.
Também passei aqui bons momentos, principalmente com os Colegas. Tenho aqui grandes e bons amigos, amigos que vou levar no peito para sempre, enquanto carrego a saudade mesmo ao lado, amigos que não tenciono deixar de ver, nem de abraçar, nem de tirar horas para conversar, porque são para a vida e isso foi a melhor coisa que este lugar me deu. Parto com o coração pesado das saudades que já sinto e também pelo fardo que lhes vou deixar, aturar esta gente demente num tempo em que as coisas não estão a funcionar assim tão bem. Parto com lágrimas nos olhos porque apesar de um ambiente tão mau conseguimos sempre pôr essas coisas de lado e contarmos uns com os outros sem nunca voltarmos as costas. Parto com o coração pesado porque, e como será óbvio, não sei o que me espera e vou sozinha, sem eles, em busca do desconhecido.

Mas parto, essencialmente, com uma chama acesa dentro de mim que funciona como um talismã. Porque fui capaz de escapar a um destino quase certo e tirei-lhes o gozo de me voltarem a espezinhar. Fui capaz de me desviar da bala mesmo a tempo. Principalmente, fui capaz de os apanhar na curva, completamente desprevenidos, desprotegidos, impreparados. E deu-me um prazer selvagem e francamente primitivo poder vingar-me desta forma. E isso ninguém, absolutamente ninguém, me tira.

Grande parte da minha vida profissional foi vivida neste espaço, nesta comarca, com estas pessoas. Tudo o que sei, que não é muito, aprendi aqui. Desenvolvi aqui. A mudança, apesar de necessária, não é fácil. É, sim, facilitada. Pelo desrespeito constante, pelo desprezo constante, pelas más memórias, pelo infortúnios. O que não apaga o meu apego a esta terra, que é a minha, e a esta casa, apesar de quem a gere. Levo comigo tudo o que fui aqui, tudo o que me deram, de bom e de mau, esperando que seja bagagem suficiente para enfrentar o que aí vem.



Passaram 7 anos.
Agora tenho 7 dias para dizer adeus.
Sem olhar para trás.