Às vezes, quando estou no meio de um qualquer afazer, lembro-me daquele dia na escola primária, algures na 1ª classe, em que levei um tabefe no rabo da senhora professora.
Já não era tempo de réguadas, ou orelhas de burro ou coças de meia-noite na escola, mas ainda não se estava nos tempos áureos de hoje em dia, em que uma coisa destas dava direito a pendurarem a senhora professora pelos pés num poste, sem roupa e com ferros em brasa a serem-lhe enfiados pelos orifícios corporais sem pausa para almoço. Como está bom de ver, devia estar a fazer qualquer coisa que me mandaram e a gaja, como déspota que era, resolveu fazer tábua rasa dos direitos adquiridos no 25 de Abril e enfardou-me um estaladão pelas nalgas dentro.
Naquele tempo, e agora parece que recuámos ao tempo em que o messias dos outros ainda caminhava pela terra, a minha Avó ia esperar-me ao portão da escola, juntamente com outras mães e avós desta vida que, sem nada para fazer, iam zelar pela segurança dos seus mais-que-queridos no caminho escola-casa.
Já não sei o que terá fundamentado tal conduta, se não achei grande graça ao tabefe que levei (provável) ou se tinha medo que a senhora professora se adiantasse e fosse dizer à temível Avó o que tinha feito (muito provável), o que é certo é que assim que pus o pé fora da porta do edifício e assim que avisto aquela cabeleira toda branca, dou um grito: "Ó Avó, hoje apanhei!".
Gargalhada geral, está visto.
A pobre mulher, com o rosto escondido dentro de uma mão, ria-se de perdida. Mas deu algum resultado: acabou por achar alguma graça e, daquela vez, não ouvi ralhar.
Às vezes, lembro-me disto, e de outras histórias da minha longínqua infância. Normalmente quando estou a conduzir em fila e a polícia está mesmo ao lado ou então quando vou ao cabeleireiro e me estão a lavar a cabeça, que o riso tem um sentido de oportunidade tremendo.
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