segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Sem Pruridos

Detesto ir à missa.
Aliás, detesto qualquer manifestação que tenha a ver, mesmo que indirectamente, com a igreja católica. Apesar de ter estudado numa escola profundamente imbuída neste contexto, desde cedo criei aversão a tudo o que rodeia a temática. Nada contra deus (um qualquer), é só o clube de fãs dele que não entendo, não suporto e não tolero. Sem prejuízo das crenças individuais de cada um.

Portanto, é sempre uma tourada desgraçada de cada vez que tenho que comparecer a eventos religiosos. Normalmente, só vou àqueles que não posso mesmo fugir, leia-se, funerais e casamentos. Desta vez, calhou-me um petisco pior: ser madrinha de crisma. Devia ter dito que não, nem pensar, que era só o que me faltava, mas não. O meu coração empedernido amoleceu, o que nunca deveria ter acontecido.

Passei uma seca descomunal, numa igreja gelada como a Sibéria, sentada ao lado da mulher mais beata do mundo, tão beata que, qualquer dia, aparece fumada, uma verdadeira nazi dos procedimentos da eucaristia, que olha de lado para qualquer um que saísse da linha de voz estabelecida para a resposta ao clamor colectivo, para qualquer um que não ajoelhasse quando era devido ou para quem se sentasse quando o senhor prior mandava levantar e vice-versa.

Já para não falar do ensaio com os crismandos e os respectivos padrinhos, que levou horas sem necessidade nenhuma, uma vez que tudo se resumia a ir ordeiramente até ao altar onde estava um bispo que besuntava a testa da pessoa com um óleo esquisito, enquanto o padrinho coloca a patinha no ombrinho do afilhado.

Foda-se mais a isto.

Também reparei na quantidade enorme de desocupados, mais conhecidos por escuteiros, que, ainda hoje, não sei o que são, nem para que servem, que ocupava a maior parte dos lugares, mas presumi que fosse ali que cozinhassem as bolachinhas para vender e que ensaiassem o procedimento para ajudar velhotas a atravessar a rua.

Vale a pena mencionar a quantidade de betinhos e tias de Cascais (apesar da igreja se situar em Sintra, as tias e tios são em tão grande número como os desempregados na fila da Segurança Social, que é mesmo ao lado), que adoram ir levar com o nosso senhor a toda a hora, muito pia é esta gente, também deve ter estado em estado de graça na hora em que votaram em massa para pôr o PSD no governo, e já se viu o belo resultado que isso deu.

Foda-se mais a isto x 2.

Maneiras que fiz o que sempre faço, desde tenra idade, é preciso dizê-lo sem medos, de cada vez que sou obrigada a assistir a ritos destes: penso em pouca vergonha, com muita força e desenfreadamente. Cada minuto naquelas circunstâncias é, na minha cabeça, um festival digno do sexyhot, pelo que sou responsável por um filme pornográfico e muito badalhoco com a duração de duas horas.


É por isso que tenho sempre um ar esgazeado nestas ocasiões; não porque o espírito do senhor baixa em mim, mas sim porque o espírito carnal está a consumir-me as entranhas.

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