terça-feira, 14 de setembro de 2010

Vamos Lá Ver Quantas Asneiras Consigo Escrever Num Reles Texto; Ou Será Num Texto Reles?

Quando andava na escola, tempos aureos do ensino básico, houve uma rapariga que ficou grávida. Que merda.
Um descuido, um azar, um acidente, qual coelha ficou logo cheia na primeira cambalhota suada. Num estabelecimento dirigido por padrecas, esses pilares na formação moral de uma pessoa, foi um escândalo e uma vergonha, uma rapariga que teve o desplante de pinar com um qualquer e como se não bastasse, ainda ficou prenhe, qual prenhe, qual quê, na minha terra diz-se prenha, que a voz e palavreado do povo não será necessariamente a voz de deus, porém se falarmos correctamente, como consta no dicionário, acontece que ninguém percebe, fale-se, pois, como ouvimos os ascendentes falarem, que é assim que nos entendemos.

Ficou a miúda em estado de graça, ainda nem tinha chegado ao ensino obrigatório, que na altura era o 9º ano, belos tempos que já lá vão, e foi um vendaval de pouca vergonha, pais chamados à escola, reuniões extraordinárias de direcção para ser instituido um regime ditatorial de vigilância constante, nada de namoros, nada de andar de mãos dadas, nada de contacto labial, nada de proximidade com o sexo oposto que já se sabe que quando se juntam no mesmo espaço rapazes e raparigas dá sempre asneira e as gajas aparecem sempre de barriga, que esta gente não se sabe controlar e vá de foder a torto e a direito, onde é que já se viu, foder, que é isso, é mas é pecado, ninguém fode antes de casar, estes paizinhos não ensinam nada aos filhos, e a escola é que tem de ser responsável por esconder a porca que ficou cheia e que se passeia na escola como se nada fosse, esconder que é como quem diz, convidá-la a completar o ensino básico numa outra escola que a nossa é uma escola de valores, não é para andarmos aqui com alunas de barriga a mostrar aos outros que é fixe foder antes dos 25 e que ficar com um puto no bucho é um boa ideia.

E o regime ditatorial levou a encarregados, chamados contínuos, a passearem-se nos corredores e espaços de lazer nos intervalos e não só, sempre a vigiar quem andava em cima de quem, quem dava beijinhos a quem e a levá-los por uma orelha ao gabinete do director por terem dado a mão a uma gaja. Trouxe também as enfermeiras de um centro de saúde qualquer a dar formação aos inimputáveis sobre sexualidade, e desenganem-se se pensam que era educação sexual, era mais uma ladaínha de moral judaico-cristã sobre os malefícios do sexo. Cabrões.

O pior é que o regime passou para as hostes caseiras e não podia andar uma gaja à vontade do corpo, como se costuma dizer, a brincar às bonecas e ao elástico, ou a fazer corridas com os rapazes que havia logo quem a puxasse por um braço porque era feio as meninas andarem em brincadeiras de rapazes. Ao mínimo sintoma de dor de barriga ou má disposição, era uma gaja arrastada para o centro hospitalar mais próximo de modo a descansar os paizinhos, que as suas meninas não andavam por aí a abrir as pernas e a carregar fardos não desejados.

Com 12 ou 13 anos, quando a idade ainda não permite ter mais preocupações que lanchar e brincar, isto acabou por ser mais um devaneio das pessoas adultas que, coitadas, não têm mais o que fazer senão ralar-se com os filhos, e acham que com aquela idade vêm logo os instintos animais e toca de andar aí a esfregar as partes baixas nas partes baixas de seus pares do sexo oposto, claro que a preocupação dos pais nunca morre, será assim até serem crescidos, com barbas e rugas, mas mesmo assim, há que estar atento e ver se não dá aos miúdos a parvoeira cedo demais.

Naquela altura, lembro-me de ter desejado que aquela puta que teve a infeliz ideia de se deixar emprenhar (ou empranhar) fosse morar para outra freguesia ou que fosse atropelada por uma tractor desgovernado; por causa dela, andámos todas de quarentena, sempre em cima de nós a ver o que fazíamos, onde íamos e com quem estávamos, já para não falar do interrogatório cerrado sobre os rapazes que eram nossos amigos, que brincavam connosco, mais a mania de volta e meia andar no médico para controlar o aparelho reprodutor das chavalas às quais ainda faltavam dentes definitivos.

Puta que pariu. Por causa de uma, pagam logo as outras. A sugestão, na cabeça de gente estúpida, é um factor poderoso para fazer a carruagem descarrilar para os meandros da paranóia e da loucura. E porque a outra fez, nós também podiamos fazer, éramos tão putas como ela, tão cadelas e sem vergonha como ela foi, não há desvio, têm que ser controladas. Nem conhecia o raio da miúda e já a odiava de morte por tanto controlo desnecessário à volta.

Ah, mas os tempos são outros, agora está tudo informado, a formação é de raiz, não vale a pena tanto controlo, é preciso é informação, e também as novas gerações de pais e circundantes já são diferentes, já não têm uma mentalidade tão apertadinha como um cu de um gato.

Pois sim, o caralho.
Basta aparecer alguém com alguma coisa, nem que seja um corno azul no meio da testa, que durante o próximo ano a contar do aparecimento do dito corno, anda tudo alvoraçado a mínimo sinal de dor de cabeça, toda a gente sabe que é o primeiro sintoma de aparecimento de corninhos na testa, há que enfiar o dorido num pote de diagnóstico até se ver o que ele tem. E enquanto todas as pessoas num raio de 50 km não forem enfiadas no dito pote para ver se sai de lá alguma coisa, meu deus, ai que me dá uma coisa má, ai que estou tão aflita, ai que horror, ninguém tem sossego.
Foda-se mais esta merda, puta de sorte a minha que estes gajos não têm o que fazer, em vez de irem trabalhar ficam a melgar os outros com minudências! Não há por aí terra para cavar, lixo para apanhar, qualquer coisa de útil que possam fazer?? Caralho mais esta corja.

E não, caros, não há diferença nenhuma entre paranóia da nova geração e a mentalidade padreca dos tempos do básico.

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