Bem tentei. Fiz um esforço. Um grande esforço, diga-se. Fui lá, sentei-me e ouvi, tal com tinha prometido à minha pessoa, ouvir antes de tomar decisões, ouvir antes de gritar, ouvir antes de mandar com os pés para o ar e dizer palavrões.
Tentei, e não foi pouco. Mesmo assim, depois de ouvir, ainda fui pensar melhor, esmiuçar tudo muito bem, ponderar todos os factores, analisar os factos de cima, decidir em equidade tendo em conta o que era pedido e o que estava, afinal em causa, meu deus, que bela juiz que eu dava, como é que não pensei nisto mais cedo, uma vocação inteira à minha disposição e afinal ando aqui a desperdiçar o meu tempo.
Ouvi e pensei, em tudo. Quando achei que era suficiente, voltei a pensar melhor e recordar o que ouvi, que ponderada que saí, que é o mesmo que dizer estás mas é uma cota do piorio.
Tentei, é um facto. Até nem me saí muito mal, o ressabiamento e o rancor que vivem cá dentro tiraram férias e foram à vida deles. Tudo perdoado, tudo esquecido, o que lá vai, lá vai, não há rancor, nem pedrinha na alma de cada vez que o que se passou é lembrado. Desculpas aceites.
Mas, e tem sempre que haver um mas, ou seriamos todos uns fofinhos, uns mártires da pátria que gostam de dar a outra face, isso não é bem a minha colher de chá, cá dar a outra face, para quê, para levar porrada, ainda se fosse para ganhar dinheiro ou fazer o bem, vá, que hoje sinto-me samaritana, agora porrada, e vamos mas é retomar o que estava a ser escrito senão nem amanhã se sai daqui, mas, mesmo com a aceitação das desculpas, factores os há que também têm de ser tidos em conta. Factores esses que são capazes de pesar tanto como pesam os no hard feelings.
Esse arzinho arrogante, essa maniazinha de que se é superior aos outros, essa petulância toda numa situação de perdão e redenção são condutas que não ficam lá muito bem a quem quer ser perdoado. Porque a imagem que passa é a de que já que não há mais nada que fazer, vamos lá pedir desculpa, vamos mas é despachar isto, vamos mas é retomar do sítio onde ficámos, se queres queres, se não queres vai andando, eu tenho o feitio que tenho, quem não gosta deixa na beira do prato. Se é esta a postura de uma pessoa que pede desculpa, prefiro não imaginar que seria se voltasse zangada e com vontade de arrancar cabeças. A falta de humildade é gritante, a falta de paciência, a altivez e o orgulho com que se vem para uma coisa destas não pode ser ignorada.
E como os defeitos não são só dos outros, e por estes lados também se é arrogante ao ponto de já se ter previsto qualquer coisa neste género, é com alguma felicidade e grande vaidade que se atesta a correcção de uma teoria milabolante capaz de explicar o fenómeno de desaparição e regresso muitos meses depois; tal como previsto, alguma coisa aconteceu que despoletou esta súbita vontade de brincar às casinhas novamente. Tantas bofetadas nesse orgulho levaste durante todo este tempo, tantos abanões e pontapés nas canelas que alguma coisa teria de sair do pote, sob pena de rebentamento.
Louvável, de facto, mesmo com tanto tempo para fazer cair a moeda.
Louvável, a redenção. Vais parar ao céu, se assim continuas.
Como diria Manuel Moura dos Santos, por mim não passas.
Desculpa lá, mas não dá.
2 comentários:
Mas posso cantar uma em Inglês?
Não. Tu vais de vela, parafraseando o mesmo senhor.
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