quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Já Que Toda A Gente Fala Nisto, Também Quero

Nunca perceberei muito bem qual é o problema com o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Não consigo perceber onde está a polémica, onde está o entrave, onde reside o cerne de tanta confusão que anda por aí à volta desta questão.
Anda meio mundo a fazer trafulhices e a cometer crimes, e o resto do mundo indigna-se com a possibilidade de pessoas do mesmo sexo quererem casar.

Sim, e depois?
Qual é o grande problema, afinal?

Ah e tal, mas se dois homens ou duas mulheres casarem isso já não tem nada a ver com a concepção tradicional do casamento.
Sim, e o casamento foi sempre tradicional, não querem lá ver?
Sim, porque a verdadeira acepção de tradicionalismo material do casamento sempre houve, não é? Nunca se ouviu falar em divórcio, bigamia, nem abandono do lar e dos filhos, nem de gente que bate na mulher/homem, ou de quem vai comprar cigarros ou despejar o lixo e nunca mais volta. Isto também é tradicional, verdadeiramente. Duas pessoas que nem chateiam ninguém que querem casar e só porque são dois homens/mulheres já não podem porque já não é tradicional. Pois.

Ah e tal, o casamento homossexual não se enquadra na figura jurídica de casamento que temos no ordenamento jurídico português; vai contra o estipulado no artigo 1577ºCC que pressupõe casamento como união entre duas pessoas de sexo diferente, e depois o 1628ºCC que prevê a inexistência do casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Digo eu, quando não há vontade todas as desculpas valem para não se fazer. Pois, onde é que já se viu revogar artigos do CC? Ou criar uma nova figura jurídica que abranja esta realidade?ah, dá trabalho, não é? E mexe com o poder instalado. Pois, já se está a ver.

Tudo serve de desculpa para não mudar o que já esta feito. Quando não interessa, a desculpa é que a lei não deixa. Mas mudar alguma coisa da lei para que todo o direito se adapte à realidade da sociedade, está quieto. É o direito que de adapta aos homens e não necessariamente o contrário. Que se saiba a sociedade, conforme as necessidades, regula o direito de forma a assegurar a vivência em comunidade; mas quando não se quer fazer nada, não vale a pena. A preguiça e o poder do comodismo ganham sempre.

Já agora, também me apraz dizer que tais disposições do CC são inconstitucionais porque violadoras do principio da igualdade, o direito a casar e a livre autodeterminação da personalidade. Pois, e então?

Ah, mas se toda a gente casa com outros do mesmo sexo não há procriação.
Exacto. Que político é que isto me faz lembrar?
O casamento serve só para fazer filhos, toda a gente sabe. E as mulheres são vacas parideiras, pois. E o homem coça a barriga enquanto a mulher faz o jantar. E arreia-lhe quando entende. Porque casaram só para dar filhos à terra, o resto é paisagem.

Se este é o fundamento do casamento e uniões similares, já agora propunha que se fizesse um registo das pessoas que querem unir as suas vidas para fazerem testes de fertilidade; às pessoas que tivessem problemas era-lhes vedado o casamento. As que já estão casadas ou unidas por via similar e que ainda não têm filhos, pagam uma coima e o casamento é considerado inexistente. Que tal, hã? Democrático, não?
Ai que exagero. Não. É até onde vai essa premissa da procissão e do casamento.

Ah, mas se deixarmos casar, como não podem ter filhos, querem adoptar. E as criancinhas não têm ambiente para crescer saudavelmente, vão sair todas tortas.
Até posso concordar que as crianças precisem de uma figura paterna e outra materna, mas concordemos também que já há uns anos valentes que as coisas não se passam bem assim. Quantas famílias monoparentais existiram ao longo dos séculos? Quantas existem agora?Quantas pessoas são criadas por outras pessoas sem ser os pais? Quantas foram criadas em instituições?
São todos tortos e mentalmente perturbados?
Quantas crianças têm os pais divorciados e passam a vida entre cá e lá, na casa de um e outro?Quantas pessoas foram abandonadas por um dos pais, pelos dois? São psicopatas? Doentes?
Quantas crianças vivem com os pais mas têm vidas miseráveis por tantas razões? São todas delinquentes, malucas, gandins?

Parece que terão de arranjar provas científicas de que ser criado por homossexuais é prejudicial. Se calhar acham que as criancinhas ficam gay também...

Ah e tal, mas tem algum jeito um homem com um homem e uma mulher com uma mulher?
Curem-se .
Já é altura de as pessoas não discriminarem as outras pessoas ( da mesma espécie, 'tão a ver?) por causa das escolhas de cada um. Os homens ( leia-se humanidade) são livres e esclarecidos.Já é tempo de respeitar a diferença e deixarem de fazer figuras tristes a julgar o que os outros fazem na intimidade.

Ai o preconceito, o preconceito...

Proposta de solução para a questão:

- perceber que é uma de igualdade
- perceber que é uma questão de escolha, a que todos têm direito
- perceber que cada um faz o que lhe apetece e que ninguém tem nada a ver com isso, a não ser que chateiem terceiros; não parece que seja o caso.

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