segunda-feira, 13 de abril de 2009

Sapateado

Ia apressadamente a descer a rua quando os viu numa montra.

Eram lindos.

Vermelhos, brilhantes, de formas perfeitas, de salto magnífico, eram sapatos de sonho.
Entrou na loja, pediu o seu número no modelo fantástico, pagou e saiu com eles nos pés, deixando num caixote do lixo qualquer o que antes lhe revestia as extremidades.


E caminhava feliz, pela rua fora, com os novos sapatos, olhando em todas as direcções para se certificar que todos reparavam na sua nova aquisição.

Eram pesados, os sapatos maravilhosos. Com solas revestidas de chumbo, faziam cada passo pesar toneladas, arrastado o andar, fazendo penoso e doloroso o caminhar antes livre.
A cada passo que dava, mais os sapatos ficavam pesados e apertados, mitigando os passos, tomando controlo dos pés, levando para um caminho autónomo, tomando controlo da direcção a seguir.


E não mais foi senhora do seu destino, agora comandada pelos lindos sapatos que controlavam tudo e todos, que controlavam o cérebro, impedido de traçar o destino, contente de não mais tomar decisões.

E não mais quis saber de outros calçado inferior, que não a mandava para onde não queria ir, que não decidiam por ela o que fazer.

Vermelhos, brilhantes, de formas perfeitas e solas de chumbo, a cada passo dado era mais que certo o destino.

Traçado, escrito à séculos.
Aquilo e mais nada.


Sic.

1 comentário:

Лев Давидович disse...

Há mais sapatos.