sábado, 20 de outubro de 2007

A Cor da Coisa

O que dá cor à coisa é o facto de nunca ser igual, em todos os dias que passem. O que lhe confere a cor é saber que há-de haver sempre alguma coisa que estrague o que existe. Mas que a seguir seja reparada, de uma maneira ou de outra. O que dá piada à coisa é saber que, apesar de todas as intempéries que possam surgir, de todas as tempestades e tufões que varrem e destroem tudo a sua passagem, é que a seguir vem um sol brilhante, quente e acolhedor que, mesmo que não limpe os destroços, dá-lhes uma luz nova e, de repente, não é tão mau assim.
O que dá cor à coisa não é o conflito, nem os gritos, nem as lágrimas, nem os insultos. O que dá cor à coisa é saber que pode tudo voltar ao que antes era como se, afinal, não tivesse havido catástrofe nenhuma.
É acreditar que pode de facto tudo ficar bem quando acaba bem, como nas histórias de encantar.
Mesmo que não fique.
O que dá cor à coisa é o acreditar idiota, a esperança vazia, a crença de um mundo melhor quando nada mais há para ocupar o espaço que ficou vazio. É acreditar que amanhã vem mais qualquer coisa e que tudo fica melhor.
Mesmo que não fique. O que é bom é acreditar. Mesmo em vão.
Porque o vazio ocupa muito espaço. E quando se enche o espaço vazio com alguma coisa, mesmo que não seja coisa nenhuma, é o momento de brincar as casinhas e fingir que se pôs algo no lugar.
O que dá cor á coisa é fingir.
AS

3 comentários:

Лев Давидович disse...

O que não dá piada à coisa é chamar-lhe "coisa"

Diligentia disse...

o que dá cor à coisa é fingir...nem mais. Mas só isso é que nos faz aguentar as tempestades.

SB

Diligentia disse...

O que dá piada à coisa é que ninguem sabe do que fala e mesmo assim opina.
AS