terça-feira, 30 de outubro de 2007

Not Falling

O que é o perdão? O que é perdoar? Fechar os olhos, fingir que não sucedeu? Não olhar para trás, seguir em frente, não mais lembrar o que foi feito? Dormir descansadamente noites a fio, sabendo que existe algo que ainda pulsa, que ainda vive, que ainda mói? Dormir descansadamente sobre a questão ; é isso perdoar?
É perdoar dar a outra face? Esperar pacientemente que venha outro morteiro destruidor que arrase tudo o que foi feito?
O que é o perdão, o que é perdoar, afinal?
É conseguir-se fechar os olhos, não ver mais? Escolher deixar uma ponta solta, escolher confortavelmente não a ver, não a cortar, ou não lhe dar um nó, é perdoar? É deixar ir saber que continua uma cratera fumegante no chão, mas escolher não passar por ela, passar antes ao largo? É perdoar?

E esquecer? É intrínseco com o perdão? Perdoa-se, deixa-se ir. Mas esquece-se? Desmemoriza-se, de facto? É possível deixar de fixar o local onde caiu uma lágrima, onde se abriu uma chaga? Fica uma memória vazia porque não se gostou do que se foi desenvolvendo, mas porque se tem que se esquecer? É suficiente para apagar da memória só porque se perdoou?

Porque é que, se se perdoou, não se esquece? Porque é que a ideia fica sempre presente se, afinal, tudo foi apaziguado por palavras doces e lágrimas reconfortantes? Não era suposto, já que se escolheu perdoar, esquecer-se?

Então porque é que tudo surge mais claro que nunca? Porque é que o que alegadamente está perdoado vem sempre à tona quando a insónia ataca em forca? Porque é que essas imagens são mais nítidas em frente ao objecto do “perdão”? Porque é que as palavras ecoam nos ouvidos em todos os momentos, lembrando o que foi feito? Porque é que nada foi enterrado, afinal? Porque é que tudo ainda vive?

Então, porque não é possível perdoar e esquecer?
Porque pulsa o ódio, porque revolve a insónia, porque ecoam palavras, porque corre o sangue mais veloz perante a memória.
Porque rompe, rasga, dilacera, fere, corrói, aperta, persegue ; não dorme, não descansa, não morre.

Porque não foi perdoado. Ou esquecido. Porque não se dissociam os dois conceitos. Porque a insónia é prima afastada deles. Porque o ódio é pai de todos. Que não pára, não perdoa, não esquece.

O que é o perdão ; o que é perdoar?
Resposta : não odiar.
AS

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

A Carta IV

Cara Amiga :

Antes de mais, deixa-me só congratular-me pelo facto de haver almas que realmente se esforçam para tentar perceber a retórica que por aqui é escrita. Deixa-me também congratular-me pelo esforço sobre-humano que fizeram essas almas, mas que infelizmente morreram na praia, porque não chegaram perto sequer, para tentar decifrar o que reina nestas missivas. É de louvar que se preocupem tanto, que tentem realmente, mas não vale a pena ; estas actividades são coisa de gente débil e claramente mentecapta, não vale a pena tentar perceber porque simplesmente isto não tem qualquer salvação possível. Se por acharem que conhecem o destinatário e o remetente estão no bom caminho para deslindar os mistérios das mentes estúpidas que perdem tempo a escrever estas linhas, então é que lhes aconselho melhor actividade a que se possam dedicar.

Sei que tinha prometido, desta vez definitivamente, deixar-te com os teu problemas para os resolveres sozinha, mas isto de facto merece que se acabe o interregno. Isto é de tal forma meritório que vou fingir que me esqueci as asneiradas da última vez, a última argolada que inventaste. Isto vale a pena, vale mesmo, e também, embora me custe, sei reconhecer quando até fazes alguma coisa menos mal.
Enfim, rabisco umas linhas rápidas.

Não para te desancar.
Não para te encher a cabeça de insultos.
Não para te envergonhar.
É para te felicitar.
Porque finalmente, uma coisa como deve de ser saiu das tuas mãos. Algo que esperava para ser feito fica realizado, e tu dormes muito melhor. Claro que podia sempre pegar pelo aspecto de que já podias dormir bem há muito, muito tempo se não fosses sempre a mesma, mas isso já não são contas para hoje.
Hoje é só para te felicitar. Porque estou orgulhosa de ti. Porque sei o esforço que foi preciso, porque sei o que custou. Mas mesmo assim, mesmo à beira de desistir e dar o caso como perdido, foste mais longe que alguma vez pensei que conseguisses ir. Foste e voltaste, mais forte, e com sono, porque deixaste a insónia para trás, pelo menos parte dela, que a outra … bom, outras contas, outro rosário.

Só mesmo para deixar claro que te volto a escrever quando achar que é preciso, que não há mais interregno. Que até mereces umas abébias de vez em quando.
Mas só de vez em quando.

Cumprimentos,
Aquela que te atura.
AS

domingo, 28 de outubro de 2007

Escondido algures...

"É pelo trabalho que a mulher vem diminuindo a distância que a separava do homem, somente o trabalho poderá garantir-lhe uma independência concreta "

Simone de Beauvoir

SB

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Quem guarda a Horta







É suposto esperar de braços abertos que os outros voltem? É suposto saber o que se deve fazer, mesmo que ninguém volte? É suposto não se sentir cansado de estar constantemente em ânsias por quem vem a caminho, e que nunca mais chega, nunca mais acorda?



E se um dia me cansar de esperar? E se um dia virar costas e me for embora também? Se me cansar de ter os braços abertos, e os fechar? O que sucede? O que acontece se também eu não quiser mais ficar? Se me fartar de ser boazinha e partir também?



Assim como um espantalho, que cansado de estar a pasmar no meio dos prédios rústicos, fecha os braços, e vai à vida dele, deixando os pássaros comerem a horta toda. Porque podem de facto comê-la. Que interessa? Não é a horta que alimenta o espantalho. Não é pelo facto de os pássaros a comerem que o seguram.



Era o manter os braços abertos.



Agora já os fechou. Foi-se embora. Foi espalhar a palha noutras sebes, bem vivas, por sinal.



Que se lixe a horta.






AS

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

5

Gosto de ti apaixonadamente
De ti que és a vitória, a salvação,
De ti que me trouxeste pela mão
Até ao brilho desta chama quente.
A tua linda voz de água corrente
Ensinou-me a cantar … e essa canção
Foi ritmo nos meus versos de paixão,
Foi graça no meu peito de descrente.
Bordão a amparar minha cegueira,
Da noite negra o magico farol,
Cravos rubros a arder numa fogueira!
E eu, que era neste mundo uma vencida,
Ergo a cabeça ao alto, encaro o Sol!
- Águia real, apontas-me a subida!

Florbela Espanca

Por ontem, por hoje.

Por todos os dias, cada vez maior.

AS

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Marcha dos Débeis

138º, Código Civil - porque toda a gente vê um inimputável à esquina por estes dias, e é inevitavelmente impelido para ajudar os coitadinhos.
Porque os coitadinhos não se sabem governar sozinhos - e se soubessem não seriam, lá está, inimputáveis. E precisam de ajuda para atravessar a rua, e para se vestirem, e para apertarem os sapatos. E que mais? Que mais será preciso fazer para ajudar os pobrezinhos?
Que tal respeitarem a sentença de interdição? Já que se mostram incapazes de governar suas pessoas e bens, deixem-nos em paz e afastem-se, não vão eles ter alguma trabeculose contagiosa.
Deixem-nos em paz, é para isso que serve a interdição.
Deixem-nos em paz, e vão à procura de outras pessoa para enlouquecerem.
Vão à procura de outros para interditarem.
AS

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Columbano Bordalo Pinheiro

Não quero ser um bode expiatório,
Não quero estar farta,
Não quero ser diferente,
Não quero adaptar-me.
Não quero a condescendência como companheira,
Não quero ter a dose de paciência que tenho,
Não quero baixar os olhos,
Não quero calar-me,
Não quero que me entendam.
Não quero mil homens,
Não quero que me sufoquem,
Não quero estar sempre em estado de alerta
Não quero não ser dona de mim.
Não quero o ódio (muito menos o amor),
Não quero a loucura…luto contra a esquizofrenia,
Não quero o arrependimento tardio, uma cama e a Alzheimer a consumir-me.
Não quero a morte,
Não quero esta não vida,
Não quero sobreviver,


Quero uma borracha!

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Though Shit

Crianças inocentes acordam um dia e percebem que o que viram até ali não mais do que a cobertura de açúcar que esconde o verdadeiro e real mundo existente.
Petizes que até aquele momento foram felizes, são agora miseráveis por saberem finalmente que nada do que se vê na realidade existe.

Afinal, as pessoas não são todas fofinhas e amorosas , não fazem as coisas porque gostam umas das outras; não são capazes de um gesto de altruísmo ou amizade porque simplesmente, e ao fim e ao cabo, não é essa a sua natureza, e não lhes está nos genes serem boas umas para as outras.

Afinal, tudo o que se puder fazer para sacanear, sabotar e trapacear os outros é o mínimo que se pode fazer para sobreviver ; tudo o que se faça não tem um único laivo de bondade, tem como traço característico a velhaquice e a maldade, intrínsecos no ser humano ; não há vontade de fazer nada de bom, o que há é a vontade insaciável de pisar, destruir e arrancar à força o que já está feito. É insustentável pensar-se, sequer, em deixar fazer o que quer que seja, porque já foi feito pelos outros, e não por estes, que se divertem a arruinar tudo porque não suportam que alguém seja melhor.

Descobrem, as puras criancinhas, que a movimentação da terra se faz não pelo que deveria ser bom, mas por aquilo de bom que os outros poderão fazer e que é preciso destruir à força toda, sob pena de estar demasiado bem feito, demasiado bom, que é insustentável para quem é fraco e não consegue fazer melhor.

Já que o problema é serem todos uma cambada de incompetentes, acéfalos e idiotas, o que se faz para superar os outros?
Fazer melhor?
Não!, quais quê!
Arruinar o que está feito, para se poder sentir gente capaz. Ser estúpido e ininputável é requisito para ser pessoa, logo o que se deve fazer não é viver como se quer, mas sim, empregar todos os esforços para se mostrar que se é capaz de ser um atraso psíquico e mandar às urtigas a consideração por terceiros que habitem o mundo.
Há que justificar com todos os fundamentos possíveis as razões da interdição, para que ninguém pense que a Judicatura anda a brincar com as tropas.

Crianças que acordam, um dia de manhã, e descobrem a terrível verdade sobre o mundo, a quem se destroem todas as ilusões fofinhas sobre a conjuntura global.

Temos pena.
AS

Adore

Oh Laura- Release Me
A minha música preferida neste momento.
Dedicada a um scandinavian geek...amigo e guru musical. Que me fez ver além da MTV1.

SB

sábado, 20 de outubro de 2007

A Cor da Coisa

O que dá cor à coisa é o facto de nunca ser igual, em todos os dias que passem. O que lhe confere a cor é saber que há-de haver sempre alguma coisa que estrague o que existe. Mas que a seguir seja reparada, de uma maneira ou de outra. O que dá piada à coisa é saber que, apesar de todas as intempéries que possam surgir, de todas as tempestades e tufões que varrem e destroem tudo a sua passagem, é que a seguir vem um sol brilhante, quente e acolhedor que, mesmo que não limpe os destroços, dá-lhes uma luz nova e, de repente, não é tão mau assim.
O que dá cor à coisa não é o conflito, nem os gritos, nem as lágrimas, nem os insultos. O que dá cor à coisa é saber que pode tudo voltar ao que antes era como se, afinal, não tivesse havido catástrofe nenhuma.
É acreditar que pode de facto tudo ficar bem quando acaba bem, como nas histórias de encantar.
Mesmo que não fique.
O que dá cor à coisa é o acreditar idiota, a esperança vazia, a crença de um mundo melhor quando nada mais há para ocupar o espaço que ficou vazio. É acreditar que amanhã vem mais qualquer coisa e que tudo fica melhor.
Mesmo que não fique. O que é bom é acreditar. Mesmo em vão.
Porque o vazio ocupa muito espaço. E quando se enche o espaço vazio com alguma coisa, mesmo que não seja coisa nenhuma, é o momento de brincar as casinhas e fingir que se pôs algo no lugar.
O que dá cor á coisa é fingir.
AS

Love



Elephant Gun- Beirut


If I was young, I'd flee this town
I'd bury my dreams underground
As did I, we drink to die, we drink tonight

Far from home, elephant gun
Let's take them down one by one
We'll lay it down, it's not been found, it's not around

Let the seasons begin - it rolls right on
Let the seasons begin - take the big king down

Let the seasons begin - it rolls right on
Let the seasons begin - take the big king down

And it rips through the silence of our camp at night
And it rips through the night

And it rips through the silence of our camp at night
And it rips through the silence, all that is left is all that i hide




Ao fim de uma época....ao início de outra.

SB

Must

protecção em cabedal para os Moleskines...






SB

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Dos dias que passam...

O calor no ar engana. Diz que é Verão.
Verão camuflado, porque a noite, essa, desce mais cedo.
Ainda assim há tempo para tudo...
Pelo menos parece-me.

SB

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Sex and Candy

A fazer lembrar a indolência e o doce que é recostar e ouvir.


AS

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

A Carta III

Cara Amiga :

ÉS UMA ESTÚPIDA! Não tens outro nome. Não tens outra classificação tão merecedora de ti. Não há palavra que te descreva melhor.
ESTÚPIDA!
Não aprendes nada, não fazes nada certo, metes nojo com essa presunção toda e afinal falhas tanto como um burro de palas nos olhos!

Onde é que te enfiaste o tempo todo da tua vida? Onde estiveste quando devias ter estado atenta, quando devias estar alerta, para que estas coisas não sucedessem? Onde estavas quando devias ter aprendido a lição? Onde estavas quando deverias ter agido atempadamente?

Não serves para nada. Não viste nem ouviste nada do que te ensinei. Para que sirvo eu, afinal, se não me escutas e voltas a fazer as mesmas asneiradas de sempre?

Sente nojo de ti.
Sente repulsa.
Odeia-te.
Hoje mereces. Hoje não te ajudo, não te estendo a mão, não te salvo.
Chafurda na tua miséria. Parabéns, chegaste ao cúmulo da indignidade. És um nojo.

Devias ter reconhecido os sinais, devias ter previsto a chegada disto. Devias ter ponderado que isto voltaria a acontecer, para te poderes preparar para uma qualquer eventualidade. E não ficar impávida e serena à espera que as coisas se resolvam por si. Não posso andar contigo ao colo o tempo inteiro. Já és crescida, sabes isso??

Não viste, não tiveste discernimento, mas como se ainda não bastasse, o que fazes tu?! Pisas outra mina! Estendes a mão ao inimigo que te apunhala pelas costas! Voltas a cometer o mesmo erro, e não contente com isso, ainda esticas a mão à espera de esmola, como um mendigo ranhoso. Não tens vergonha nem dignidade. Nojo de ti …

ESTÚPIDA!
Infantil.
Idiota.
Tansa.
Não serves para nada. Décadas de acumular de vivências a fazer pó numa estante. Não a usas. Não sabes o que vale. Para que serves tu, afinal?

És sempre a mesma merda. Não mudas.
Não há esperança para ti.
Não contes mais comigo para te aparar os golpes.
Não és diferente daqueles que se mostram incapazes de governar suas pessoas e seus bens.

Cumprimentos,
Aquela que te Atura.
AS

domingo, 14 de outubro de 2007

Pai, Pai, porque me abandonaste?

Prostrada, de joelhos na terra fria, olha para a frente no vazio. Nada ao seu redor. Nem sinal de coisa alguma. Silêncio. Nada.

Olha para o céu, como uma prece. Nada vem, não obtém resposta. Resposta que, de alguma forma, não era esperada. Mas, mesmo assim, não deixa de tentar olhar ; pode ser que se engane e caia alguma coisa que venha em seu auxílio. Não se enganara. O céu plúmbeo devolve-lhe o olhar, inexpressivo, altivo e distante como em todos os dias da sua existência.

Olha para trás, para o tempo em que olhar para as alturas era sempre sinal de esperança. Em que o conforto quente, mesmo que frágil, estava sempre presente e perfeitamente audível, palpável, bom. E, mesmo ilusório, como era doce a segurança transmitida, como era bom saber que não dependia só de si, como era bom ser obediente, como não tomava muito do seu esforço e do seu tempo fazer o que lhe diziam, calar o que não deveria dizer, simplesmente baixar a cabeça e obedecer. Como é duro não ter quem guie, não ter onde se agarrar, não mais sentir o calor da mentira, tão conveniente, tão confortável! Como é árduo o esforço de caminhar sozinha, como dói ser perfurada, dia após dia, por pontas de facas ferrugentas que deixam na carne cicatrizes negras e purulentas … Como é duro saber que se está sozinho, saber que nada desce das alturas para estender misericordiosamente a mão, que as vozes dos anjos não se fazem ouvir quando o perigo é iminente. Como é duro não mais acreditar. Como é doloroso o vazio que isso deixa.

Olha à sua volta. Negro, vazio, cheiro a sangue e a lágrimas. Cheiro do pior dos pecados, aquele que dilacera a alma, que rasga o ventre, que corrói as entranhas, que fede da carne apodrecida. Nada, nada mais.

O céu, impassível, já nem devolve o olhar. Fechou-se. Acabou.
Está sozinha, rosto molhado pelas lagrimas que já não vêm. Em seu redor, o que vê não é diferente do que está por cima.
Nenhum dos mundos a acolhe, nenhum deles lhe responde ; são iguais. Um, agride-a, fere-a, mata-a. O outro, assiste sem levantar objecções.

Um passo para o precipício à sua frente.
O silêncio ouve-se acima de todos os gritos de medo dentro de si.

Pai, Pai, porque me abandonaste?

O passo em frente.
O fim.
AS

Coisas que melhoram o dia

Your heart is broken,
and you don’t seem to mind

I guess it happened a little too many times, too many times

You tried and you got tired,
those long a brighten stories

You weald a fire right under the snow
They don’t they don’t

How could they really know

They don’t

They don’t know how it really feels

They’re just here on holidays
Like dummies filling landscapes
How could they see you cry?

Do you remember me?

I was the one that held you through
I held a spot light when
you did that crazy dance

Dance with you I felt like superstars do
Me and you
We're just like superstars
I was around you
You couldn’t really tell I held you close while
While you drove, you just drove into hell

You know! A kind of hurt that burns
A light that loves you blind
And while your feet go

They go deeper in the sand
You wave and drown
You rave to the crown that says






David Fonseca
Superstars II


SB

sábado, 13 de outubro de 2007

Nós. Eu, tu e as circunstâncias.

A teia de aranha adensa-se e eu não consigo escapar.
Os filamentos enrolados como uma corda pelas fiadeiras, formaram fios pegajosos, viscosos e ao mesmo tempo imaculados. Cada um deles foi tratado com aprumo. Recebeu amor, carinho e muito, muito trabalho. A teia é agora um labirinto: círculos concêntricos de complexidade e variedade moldam a armadilha, dão-lhe cor, fazem dela o meu leito de morte.
Snap! E num ápice prendeu-me. Os filamentos de teia mais fortes que aço, dificilmente se partiriam, por mais que esperneasse. O engodo foi muito bem preparado, o sol quente de Verão distraiu-me, desviou-me do caminho sem eu sequer me aperceber e aí fiquei. Só. Indefesa.

As vibrações do meu medo denunciaram a minha presença e ela começou a deslocar-se, velozmente, na sofreguidão insaciável de me devorar.

O sol pôs-se. Ecos vívidos e chocantes dos gritos de dor, da lenta tortura e do dilacerar da carne encheram a atmosfera. Que comece a dança numa noite obscura ao som de cânticos macabros.

Ao longe entoa-se levemente

“Mosquinha tonta, eu avisei-te”

SB

Analogia do Pecado

Há outro conceito que pode seguir os critérios do pecado.
Diz-se que se peca por pensamento, palavras, actos e omissões. Há outra noção que cabe aqui, e é preenchida em todos estes âmbitos.
Também se trai por pensamento, palavras, actos e omissões. A traição cabe nas formas de pecar. Em todas elas.

Trai-se por pensamento quando o que vem a mente é negro, sujo, sem sentimento, cheio de velhaquice e mesquinhez. Trai-se por pensamento quando o ódio que flui nas veias tolda a vista e se deixa levar na torrente quente das lágrimas e do sangue pulsante. Trai-se por pensamento quando não há maneira de impedir que o veneno se espalhe, minando o que antes era, arrasando com tudo, acabando com a réstia de esperança.
Do pensamento à palavra, um passo. Porque nada com uma força destas fica preso muito tempo. E da escuridão do pensamento passa-se à violência do verbo. E porque a mesquinhez também não fica sozinha muito tempo, isolada no pensamento, tem que saltar cá para fora de alguma maneira, mesmo que fira e corroa tudo a passagem.

Palavras são actos, ao fim e ao cabo. As palavras pronunciam-se pelos movimentos dos lábios, com conjunto com o aparelho fonético inteiro a trabalhar, por isso também é agir. Acto de passar a palavra. Não precisam sequer de falar. Gritar, bater, esmurrar, partir tudo a volta, também serve. Também é agir.

Trair é isso mesmo. Acto. Puro e duro. Nada mais senão acto.

Omissões. O que é isso, afinal? O que se esconde, afinal? O que não se faz? O que não se diz? O que ficou por fazer? O olhar que se troca, o gesto que não se fez mas que se teve vontade de exprimir. O que fica por dizer mas acaba por ser dito pelas frases meias feitas, meias acabadas ; pelo olhar ressentido, pelas palavras que tem vontade de saltar furiosamente cá para fora mas que ficam encarceradas debaixo da língua sem autorização para sair porque se tem demasiado medo. Também se trai por omissão?
Também se faltam aos deveres no que ficou por dizer e no que deveria ter sido feito. Também se falta ao dever reciproco de respeito, de fidelidade ao não dizer o que deveria ter sido dito e feito.
Trai-se porque não se faz. Trai-se porque se frustra o que era esperado. Não é só ao reprimir que falha alguma coisa.
É o que essa repressão traz que de alguma forma frustra grandemente o outro lado da traição, vulgarmente conhecido como o corno.
E ao pobre do corno falha tudo. Falham os pensamentos, não exprimidos, falham as palavras, os actos, falha, essencialmente, a lacuna que fica pela mão da omissão.
E se os pecados podem ser perdoados e absolvidos, e dessa forma, conduzir as almas à vida eterna, o mesmo não acontece com a traição, e a analogia acaba aqui.
Só serve para aplicação dos mesmos critérios. Porque o pecado tem perdão. A traição não. Nem absolvição.
Guia as almas, é certo, mas não para um lugar de vida e alegria eterna. Para um lugar mais reles e menos limpo, talvez.
AS

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Qualquer coisa inicial

Dizia um grande poeta que existe o espanto inicial.
Provavelmente não sabia, mas também existe a estupidez inicial. Não só a inicial como a subsequente.
Acontece a todos, a bem da verdade.
No início, não era o verbo, mas era tudo estúpido e altamente espantado. Depois, o espanto desaparece, que não há cá pão para malucos de andar sempre a cair nos mesmos buracos, e fica só a estupidez.
Alguns têm a sorte, livram-se dela, ficam simplesmente espantados e idiotamente inocentes o resto da vida. Outros, ficam estúpidos, e nem o espanto os safa.

Devem ter faltado àquela aula, na escola preparatória, ou quem sabe, mesmo escola primária, em que se explicava a diferença entre a burrice e a cegueira. Porque não sabem distinguir o óbvio daquilo que está à frente dos olhos, ou seja, a mesma coisa, e por isso não há esperança nenhuma.
Também devem ter faltado à aula em que se explicava o que são figuras de estilo, cada uma com um conceito e definição diferentes, logo, não há maneira de saberem ler sem alvitrarem umas calinadas acerca da literatura dos outros sem parecerem os tansos da vida.
Deve ser o espírito tuga que toma conta de semelhantes alminhas ; dizem que em cada português há pelo menos um treinador de bancada, um médico, um criminalista, um jurista, um sem número de bitolas por onde julgar sem saber muito bem o que se está a dizer. Deve ser esse espírito que baixa sobre estas cabecinhas que se acham tão pensadoras que abrem a boca para dizer alarvidades.
A estupidez inicial está presente em todos os momentos. Para quem não se soube livrar dela. Ou para quem não pode livrar-se dela, porque simplesmente está tão entranhado que não sai.
Como as nódoas de fruta na toalha de Natal da mãezinha. Como o treinador de bancada/médico/jurista/criminalista também não sai do tuga, por muito que se esfregue.
É inato.
AS

terça-feira, 9 de outubro de 2007

40 Anos Depois



9 de Outubro de 1967

El Comandante tomba perante uma rajada de metralhadora.

Morre o homem, mas não morre nem o mito nem o ideal subjancente.

Hasta la vitoria, siempre.

AS

Oh well

Não sei se o cansaço da minha alma
justifica a inexistência do fogo que habitualmente ardia
e outrora iluminava a minha
consciência.
Tudo era claro, tudo era óbvio
Nada o é agora.
Estou envolta num mar de cepticismo
em risco iminente de me afogar.
Recuso-me a nadar para me salvar.
Para quê?
Perdi a vontade
Adormeceram-se os sentidos
Tudo é insípido,
inodoro
Inaudível.
O olhar vítreo, baço e esgotado desistiu de tentar.
Foi-se para sempre a sede de
mais.
O espanto inicial.
E cansa-me muito, mesmo muito tornar a procurá-lo.
Encontrá-lo.
Resigno-me sorumbática ao meu vazio incurável.
Não sou infeliz. Sou não feliz.
Vou vivendo.

SB

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

O que quer que se abençoe, afinal

Alguém abençoe o miúdo, se faz favor. Não há mais por hoje. Só a ligeira esperança de que mais um pesadelo que se avizinha não se prolongue demasiado...

AS

domingo, 7 de outubro de 2007

(Not so) Pale October...


Já cheira a castanhas no ar....


O fumo quente e doce que o carrinho sempre posicionado por detrás da paragem emana, está em simbiose perfeita com o fumo dos táxis e dos autocarros que se empurram, que param e que saem novamente apressados. Numa junção entre o crepitar do fogo, o amachucar dos jornais velhos cuidadosamente dobrados e o cheiro das gentes.... a azáfama do dia, o corropio de Outono, de quem por vezes evita os pequenos aguaceiros, frios, ou tenta aproveitar os restos do Verão que se despede presenteando-nos por vezes com um sol baixo, quente, acolhedor.


E é neste ritmo, nesta roda viva, neste ciclo que todos os anos por esta altura se repete, que o meu espirito se apazigua; entra em reboot,e parece que começa tudo outra vez. E é óptima. A sensação de alívio...


Com o cheiro das castanhas no ar...é um sinal de que tudo se comporá...novamente.








SB

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

SENTIR QUE SOMOS DOIS, MAS QUE JUNTOS SOMOS MAIS

Tiago Bettencourt & Mantha (João Lencastre e Tiago Maio) n'O Jardim.

Desengane-se quem acha que não há quaisquer semelhanças com Esquissos e Segundo, (tudo óptimos álbums dos Toranja). Nem que seja pelo facto das letras e das músicas dos Toranja serem na verdade letras e músicas de Tiago Bettencourt.

Desengane-se também quem acha que isto não é mais do que o "terceiro álbum dos Toranja". Não é! A voz inconfundível e sensibilidade de Tiago Bettencourt estão lá, claro, e ainda bem, mas o ambiente intimista e cúmplice que é criado convida quase à simbiose entre nós e os instrumentos que foram magistralmente captados. E tudo em bom português.

Dos Toranja, num futuro próximo, nem vê-los. Mas também não precisamos. Tiago Bettencourt e Mantha não desiludem nada...pelo menos não a mim.

SB

Canção Simples

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Away

Quando a Parvónia chama, não se pode faltar.
Quando casam mais duas alminhas campónias, não se pode perder o evento.
Poder até pode, mas a ira do poder paternal é terrível, e não há quem queira sofrer represálias à conta de dois parvalhões que não podiam escolher pior altura para juntar trapinhos e ir morar numa cabana qualquer.
Dias de ausência. Poucos, que parecem muitos.
Leva-se mais um peso no peito.
3 dias. Demais.



AS

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Pergunta 9

Quando é que iam começar a pôr aquelas imagens de mau gosto nos maços de tabaco como nados-mortos ressequidos ou pulmões sem salvação possível?

R: Não devem pôr, simplesmente porque não resulta. O que resulta é espalhar cartazes com o Diogo Infante de phones nos ouvidos a dizer que "deixou mesmo de fumar sem dramas". Para que é que isto serve? Será que todos os homens querem ser o Diogo Infante e todas as mulheres querem um homem como o Diogo Infante? E se sim, o que é que isso tem a ver com deixar de fumar? Chegou a era da publicidade non-sense (conceito inventado que em si também não faz sentido absolutamente nenhum).

SB

Descubram as Diferenças

Qual é a diferença entre apatia e comodismo?
Nenhuma, se se vir bem.

É-se comodista, porque se é apático.
Porque se está apático, é-se necessariamente comodista.

Porque a apatia é uma patologia grave, que ataca as mentes fracas e desprotegidas, e as deixa ainda mais fracas e estúpidas do que originalmente eram.

Quem nada sente, também não tem o que esperar.
Quem nada espera, não tem nada a que se agarrar, por isso agarra-se ao que há, mesmo que isso não sirva para nada.

Logo, comodismo e apatia, andam de mãos dadas, em todas as circunstâncias. Quem é estúpido, é-o sempre, seja comodista ou apático, o que vai dar mais ou menos à mesma coisa. Porque só se é comodista, só se é apologista de não se esforçar minimamente, e de se encostar ao que já foi feito, é porque também não tem muito por onde esperar do futuro. Se não se tem nada que esperar, também não se sente nada. E paira-se. Paira-se por aí, pelo ar, pela vida.

Há quem assim seja.
Também há quem tenha visto mais luz para além disso. Quem tenha visto que há mais vida para além do chupismo do sentimento, do parasitismo existencial.

Há quem tenha sido assim. Quem não o seja mais.
Faz tudo parte.
De alguma coisa.
Errada, sem dúvida. Mas deve fazer.





AS

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Típico V

Apetece-me gritar e mandar vir com meio mundo.

Apetece-me espancar o outro meio que sobra.

Apetece-me arrancar cabelo ( dos outros ) e ter uma shotgun à mão. Não para matar pessoas, mas para caçar Gorilas, que é nestas alturas que me lembro mais da existência desses seres, vá-se lá saber porquê.

Já agora, apetece-me pegar fogo àquela casinha cheia de monstros civilistas, que insiste em fazer vida negra a quem tenta manter a cabeça fora de água, nem que seja por uns minutos.

Anedota jurídica?

Com certeza.

Há quanto tempo já foi ultrapassada essa barreira?




AS

Hardcore sick of it all!!!

O uso diário de phones desgastou por completo o meu ouvido interno.
Estou a ficar surda, portanto.
Na tentativa (inútil) de tentar reverter a situação e não gastar dinheiro (tão cedo) num aparelho auditivo decidi desfrutar da música apenas no aconchego do meu lar.
Não uso phones na rua, portanto.
A bem da mudança para um estilo de vida mais saudável também me comecei a levantar cedo.
Sem música e sem dormir, portanto.
Infelizmente troquei os autocarros prazenteiros e calmos da uma da tarde, pelas atafulhadíssimas, caóticas, malcheirosas e infestadas carripanas das SETE DA MANHÃ! que (sorte a minha) vêm com um bónus: música ao vivo! Dois brasileiros felicíssimos presenteiam todos os dias, toda a gente, com um forrózinho “legáu” que sai alegremente do telemóvel; a MESMA música, vezes e vezes seguidas, para animar o dia deles e arruinar completamente o início do meu.
Malditos telemóveis com MP3, portanto.
Detesto gente feliz, detesto forró, funk, kizombas, reggaeton e toda uma panóplia de música ridiculamente oca que apela a coisa nenhuma. Detesto quem não respeita o espaço dos outros. Correcção (egoísta claro) quem não respeita o meu espaço e acha legítimo imiscuir-se simplesmente porque sim.
De bom grado voltaria á boa e velha surdez; a música era melhor, o tempo passava mais depressa. Prefiro perder o ouvido interno à pouca sanidade que ainda me resta.
Isso ou mudar de autocarro, portanto.
SB

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

A verdade sobre as verdades

O que diz uma pessoa num estado ébrio total?
Aquilo que normalmente não diz, o que normalmente fica mal dizer, o que ninguém se lembra de dizer ou fazer em estado normal.
Ou seja, dizer verdades.

Verdades.

Mas quais verdades?
As do Oráculo de Delfos?
Aquelas que todos esperam para resolver as suas vidas?
Aquelas que toda a gente precisa de ouvir?

Não.Qual quê. Isso dá muito trabalho, e depois ainda dava lugar a ressarcimento em caso de erro na declaração ouvida.

Aquelas verdades em que o que se bebeu toma conta da boca, língua e cordas vocais e saem opiniões em todas as direcções.
Aquelas escondidas, que a vergonha guarda, que o medo não deixa sair, aquelas que não saem senão num estado em que o corpo se funde com a alma, e a alma com o álcool, e o álcool com o sentimento, e o sentimento é a tal verdade que sai.

Um dia destes, saem todas as verdades que têm que sair, de uma vez. E dizer tudo de uma assentada, o que tem que ser dito, e aquilo que não precisa de sair, também sai.
Que há coisas que não podem ficar presas.
Que há gente que precisa de ouvir, e de saber tudo o que significa.
E mais além.

Verdades.
Venham elas.
Pena que seja só em estado ébrio.
Mas isso já é outra batalha.






AS