Sendo, já, oficial que a terra tremeu em Lisboa, é seguro dizer que senti o abalo e não gostei lá muito.
Que é como quem diz, apanhei um susto da porra.
Uma pessoa está descansada e sente uma vibração a partir do chão que abana tudo, como se fosse uma corrente elétrica de alta voltagem a percorrer os átomos dos objetos. Estando de costas para a janela, nem vi se os pássaros levantaram voo segundos antes, como é suposto acontecer. E depois, tão depressa como começou, acabou. Dois segundos, se tanto.
Olhei em volta, esperando ouvir comentários, gritos, suspiros, coisas várias.
Nada. Aparentemente os meus colegas são imunes aos tremeliques. Ainda passei por demente até começarem a surgir mensagens, relatos e notícias a espalharem-se como urticária.
Este foi o segundo terramoto detetado pela minha pessoa. O primeiro não senti, só ouvi (coisa mais estranha, já sei). Este não o ouvi, até porque, como é sabido, sou surda que nem uma porta, mas senti a força do fenómeno.
Desde que sou gente que oiço dizer que, qualquer dia, acontece um outro terramoto nesta cidade do demo, igual ao de 1755. Durante anos, segundo parece, fizeram-se planos e estudos e teorias e adaptações da construção que, aparentemente, ninguém se lembra e ninguém põe em prática. Mais vezes se fazem simulacros de incêndios do que de terramotos. Cada vez que há um sismo, volta-se invariavelmente a falar nos planos e nos cuidados, para depois se acalmarem os ânimos e voltar-se a esquecer do assunto. O que não deixa de ser assustador.
Enfim, espuma dos dias até ao próximo abalo. Que espero não sentir.
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