terça-feira, 9 de julho de 2019

Meanwhile in Ergástulo - Parte Vigésima Segunda

Neste antro do senhor onde exerço a digna profissão de patrocínio forense de capitalistas e outros pobres de espírito que tais, existe, como em muitos estabelecimentos da estirpe, a regra oficiosa que à sexta-feira o traje pode ser mais descontraído, desconsiderando, apenas por um dia, a vestimenta fato-e-gravata e outros formalismos parecidos.

Ora, toda a santa sexta é vê-los com os bracinhos de fora das camisas, com calças de ganga, com blazers coloridos, com sapatos de atacadores.
Toda a gente respeita muitíssimo este costume e apenas o quebram quando sucede terem diligências judiciais ou reuniões com clientes novos porque, com os antigos, está-se tudo positivamente a cagar e vão como estão e mai nada.

Perguntando o moço estagiário ao seu ilustre patrono se poderia também aderir a esta onda descontraída que às sextas-feiras bate nas cabeças destas nabiças, foi-lhe respondido, categórica e terminantemente, que não, não senhor, não podia. Que essa regra só se aplicava aos advogados.  Que ele tinha de manter a postura. Que poderia aparecer aqui um cliente de repente e sem aviso e que ele não poderia estar descomposto. E que, portanto, tirasse daí o sentido, que só os crescidos é que podem brincar.


Escusado será dizer que achei isto a cúmulo da pouca vergonha.

Quer dizer, todas as sextas-feiras desta vida sou obrigada a levar com o mau gosto desta gente, que não sabe fazer combinações de absolutamente peça de roupa NENHUMA que não seja uma camisa às riscas com uma gravata às pintas, que veste SEMPRE as mesmas calças de ganga, que não sabe que um blazer cor de cagalhão NÃO FICA BEM COM NADA, mas não posso levar com um puto vestido sem gravata porque, deus nos livre, parece mal.

Todas as benditas sextas-feiras sou forçada a ter que levar pelos olhos dentro com os pelinhos do peito destes gajos porque têm as camisas abertas até ao umbigo e a ter de suportar os pelinhos dos bracinhos a apanhar sol, mesmo que não vejam sol desde 1974, mas, cruzes credo!, não posso ver o miúdo nos mesmos propósitos porque é preciso ter postura.

Todas as sextas-feiras sou coagida a passar por esta gente, que se trata entre si como se fossem duques de qualquer coisa e vivessem na corte do Rei Sol, vestida como se estivessem em casa a coçar a micose e a tirar as cuecas do rêgo, mas o miúdo não pode porque cenas.

Vale a pena dizer mais alguma coisa?






Foi aqui que vim parar.

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