As aulas de preparação para o parto são aquele fenómeno que, por volta das 25/30 semanas de gestação, atingem as futuras mães em cheio nas trombas e que as mergulha em oceanos de angústia e profundo sofrimento.
Deverei fazer estas benditas aulas? Servirão para alguma coisa? Há algum local mais apropriado que outro para tomar estas lições?
Por via das dúvidas, e apesar de ter lido tudo e mais um par de botas acerca do tema, achei por bem frequentar um curso desses, só para que não olhasse, um dia, para trás e me arrependesse amargamente de conhecimento que deveria ter adquirido e, em vez disso, fiquei em casa a enfardar chocolate.
Sim, as aulas de preparação são boas e ensinam de facto muita coisa acerca de cuidados dos rebentos, de potenciais perigos e coisas que temos que passar a fazer, de acções de emergência que possamos ser obrigados a tomar.
Sim, um qualquer centro de saúde de um qualquer grande centro urbano tem um curso muito decente de preparação para o parto. O mesmo não se diga das pessoas que o frequentam, mas isso fica para outro post, que tenho muito que dizer acerca do tema.
Sim, as aulas de preparação para o preparam efectivamente para o momento do parto, com explicações detalhadas sobre as técnicas de respiração e relaxamento. E exercícios sobre o tema. Muitos, muitos exercícios. Exercícios em grupo, a solo, com o pai, com o canário e com o presidente da República. Tudo muito lindo, muito bem ensinado e muito bem aprendido.
Uma gaja, assim que domina a técnica, pensa: "Ya, que ça foda esta merda, afinal isto é fácil. Se a minha avó pariu e casa, eu, com toda esta performance espectacular, vou fazer um brilharete e parir o puto em cinco minutos."
Sou a maior e a mim não me vai acontecer nada de mal. Certo?
Errado.
O maior perigo das aulas de preparação para o parto é o excesso de confiança que transmite à grávida. Faz com que tudo pareça fácil, com que tudo dependa, afinal, da concentração, do esforço mental, da vontade. Faz com que uma pessoa acredite, de facto, que as dores de parto são uma coisa relativa, que não são assim tão fortes quanto isso e que se, afinal de contas, uma pessoa sente mais dor que aquela que é capaz de suportar, é porque não se está a concentrar devidamente e está a respirar mal.
Ora, com a licença da mesa, o caralho, é o que é.
Quem frequenta estas aulas leva também uma lavagem cerebral sobre os benefícios do parto normal (faz parte) e fazem com que tudo pareça tão cor-de-rosa e tão simples que 1) parece que nunca, em tempos idos mas não tão longínquos quanto isso, as mulheres morriam no parto; 2) as mulheres de hoje em dia são umas mariquinhas mimadas sem vergonha nenhuma que não aguentam uma dorzinha de nada no pipi.
E isto, meus caros, é o maior engodo que estas aulas oferecem.
Transparecem e vendem a ideia de que o parto é sempre, e em qualquer circunstância exequível, desde que a mulher esteja a fazer tudo bem, a respirar melhor ainda e a concentrar-se devidamente em fazer descer o bezerro pela coisa abaixo.
Esqueçam. Sim, as aulas ajudam bastante e ensinam muitas coisas que livro nenhum ensina, mas na hora em que a dor é excruciante e absolutamente paralizante, em que já se está para lá de qualquer reforço de epidural, a concentração e a respiração vão direitinhas para o caralhinho que as foda porque, meus caros amigos, poucas dores haverão piores que as dores de parto (principalmente se forem como as desta boa mãe de família, que se alojaram no fundo das costas).
E contra isto, batatinhas.
Tirando isso, ter filhos é porreiro e tal.
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