quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Salty As Fuck - 11

Tenho um problema com a desonestidade intelectual.
Estou profundamente convicta que esta figura anda de mãos dadas com a inveja latente.
De mãos dadas... andam a comer-se forte e feio, é o que é, numa jarvardice pegada, repleta de badalhoquice e sado-maso.

Há uns tempos, fiz um julgamento de um crime de burla agravada.
A matéria em causa era confusa, muito intrincada e até para se perceber a mecânica da alegada burla era preciso um considerável esforço de concentração, sob pena de não se perceber um boi daquilo que estava ali a ser discutido.

Escusado será dizer que, na qualidade de defensora de um dos arguidos, fiz os possíveis para me valer da confusão inerente à própria situação e dificultar a prova ao máximo, coisa que, diga-se, fiz brilhantemente em conluio com o Colega, defensor do co-arguido. Saiu tão bem, mas tão bem que não se fez prova nenhuma, o que enfureceu deveras o magistrado do Ministério Público.

Estava tão fulo, o moço, coitadinho. Todo ele era frustração, o pobre. E todo ele era filha-da-putice, pois que, furioso de não poder ver mais não sei quantos gandins na pildra, que é essa a sua missão de vida, livrar a sociedade da escumalha que comete crimes e cenas, em alegações finais, não vai de modas e resolve dar um ar de sua graça sem gracinha nenhuma: "a prova não se fez, não por especial mérito da defesa, mas porque o Ministério Público, que tem o ónus da prova, não logrou provar aquilo a que se propunha".

Grandessíssimo e alternadíssimo cabrão. "Não por especial mérito da defesa"?! Oi?! Mas então?!
O que me parece é que há uma grande falta capacidade de enxergar convenientemente e uma invejazinha porca a segredar-lhe ao ouvido.
Incapaz de admitir o mérito alheio, não resiste à desonestidade, lá está, de atacar o que não merece reparo.

Atribui esta mui ilustre tirada ao facto daquele animal, cheio de calos na mão direita, já se vai perceber porquê, não ver uma mulher desde a implantação da República e, por isso, ter feito um veto ao banho mais ou menos desde a Revolução dos Cravos e que a porcaria entranhada tenha chegado ao cérebro. Fiz-lhe aquele arzinho de nojo porreiro em que me tornei perita e mandei-o foder-se. Quando chegar a sentença, levas com ela pelas trombas abaixo, borrego da porra.

Pensava eu, na minha inocência, que tinha sido um episódio isolado e que coisas destas não ocorrem assim tão frequentemente quanto isso.
Enganei-me. Não porque sou de facto inocente mas porque tenho, afinal, memória curta. Porque efectivamente me esqueci para quem trabalho há já 5 anos. E porque me esqueci da cepa de que este charolês é feito.

Estive entretida a fazer uma qualquer peça processual que, falta-se-me a modéstia, estava porreira, pá. Bem feitinha, cheia de referências doutrinárias, outras tantas jurisprudenciais, estava mesmo boazinha, a gaja. Vai parar à mesa da besta, para análise. Volta para a minha, pela mão do próprio. "Pode enviar", diz ele, "acrescente só aqui que vai juntar este e este documento. No global, não está mal. Continue."
"Não está mal", ó meu coirão de merda?!
Cai-te um tomate por fazer um elogio a cada 5 anos?
E "não está mal" porquê, porque não foste tu que fizeste, não é? Porque se fosses havias de fazer uma bela coisa, que as coisas que tu fazes são todas para cima de espectaculares, as que os outros fazem ou são uma merda ou não estão mal. Peça em que não se corrige nada é uma chatice; mais valia ter sido feito por um aluno da primária porque assim dava gozo na hora de mandar vir, era um festival. Certo?

Palmas para o reconhecimento pelo trabalho prestado. Vale muito a pena uma pessoa esforçar-se.
A tromba que fiz deve ter reflectido o texto supra, porque o carneiro olhou para mim e, com um sorrisinho macaco, ainda diz: "Não se pode elogiar muito as pessoas que a seguir só fazem asneiras".

Fiquei eu muito abespinhada com o procurador punheteiro para nada.
Vivo com um há estes anos todos e é disto a toda a hora.
Não sei de que me queixo.

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