Dos Incidentes, Pareceres e Vicissitudes várias. Porque "Quando a ralé se põe a pensar, está tudo perdido", lá dizia Voltaire...
sexta-feira, 30 de setembro de 2011
Pois que sou uma pessoa que ainda se espanta com o mal. Pois sim.
Está um ser descansadinho a passar os olhos pelas blogosfera, quando se depara com uma espécie de consultório em que o leitor coloca questões e o blogger responde.
E a questão da leitora era tão simplesmente esta: tenho um pseudo-namorado, muito lindo, muito querido, muito fofo, mas que insistiu em saber da minha vida sexual passada. Assim que soube, achou que eu era uma porca devassa e disse que antes de assentar e ter uma vidinha a dois comigo, queria também andar a aproveitar a vida e andar a foder pelos cantos. E eu disse que esperava.
Respira fundo.
Mais uma vez.
Vá lá, só mais uma vez...
Julgava seriamente que os tempos medievais já tinham terminado, mas parece que, algures neste país de mentalidade bovina, ainda existe.
'Tadinhos dos homens que se sentem aflitos porque a mulher tem um passado. 'Tadinhos dos homens que se sentem inferiores quando a mulher tem uma vida, igual à deles, por sinal. 'Tadinhos dos homens que sentem a sua suposta superioridade a fugir-lhes porque as mulheres são de carne e osso.
'Tadinhos.
'Tadinhos desses coirões que sentem os tomatinhos engelhados porque a mulher faz o mesmo que um homem. Oooohhh.
Vamos dizer todos: oooooohhhh!
É triste constatar que ainda se vive num tempo em que as baterias estão apontadas para um traço mental que determina que um homem que ande com meio mundo é um herói, mas uma mulher que tenha meia dúzia de homens no seu curriculum não passa de uma vadia sem eira nem beira.
É triste.
Triste que quando os homens perdem o seu lugar cimeiro na sociedade determinem que as mulheres não possam ter o mesmo comportamento que eles; a isto se chama não saber perder e jogar sujo.
Já cruzei o meu caminho com um espécime destes. E arrependo-me não lhe ter partido a boca toda apar do pontapé que lhe dei no cu.
Porém, uma nota é necessária: mulheres que toleram este tipo de conduta?
A sério?!
Está um ser descansadinho a passar os olhos pelas blogosfera, quando se depara com uma espécie de consultório em que o leitor coloca questões e o blogger responde.
E a questão da leitora era tão simplesmente esta: tenho um pseudo-namorado, muito lindo, muito querido, muito fofo, mas que insistiu em saber da minha vida sexual passada. Assim que soube, achou que eu era uma porca devassa e disse que antes de assentar e ter uma vidinha a dois comigo, queria também andar a aproveitar a vida e andar a foder pelos cantos. E eu disse que esperava.
Respira fundo.
Mais uma vez.
Vá lá, só mais uma vez...
Julgava seriamente que os tempos medievais já tinham terminado, mas parece que, algures neste país de mentalidade bovina, ainda existe.
'Tadinhos dos homens que se sentem aflitos porque a mulher tem um passado. 'Tadinhos dos homens que se sentem inferiores quando a mulher tem uma vida, igual à deles, por sinal. 'Tadinhos dos homens que sentem a sua suposta superioridade a fugir-lhes porque as mulheres são de carne e osso.
'Tadinhos.
'Tadinhos desses coirões que sentem os tomatinhos engelhados porque a mulher faz o mesmo que um homem. Oooohhh.
Vamos dizer todos: oooooohhhh!
É triste constatar que ainda se vive num tempo em que as baterias estão apontadas para um traço mental que determina que um homem que ande com meio mundo é um herói, mas uma mulher que tenha meia dúzia de homens no seu curriculum não passa de uma vadia sem eira nem beira.
É triste.
Triste que quando os homens perdem o seu lugar cimeiro na sociedade determinem que as mulheres não possam ter o mesmo comportamento que eles; a isto se chama não saber perder e jogar sujo.
Já cruzei o meu caminho com um espécime destes. E arrependo-me não lhe ter partido a boca toda apar do pontapé que lhe dei no cu.
Porém, uma nota é necessária: mulheres que toleram este tipo de conduta?
A sério?!
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
A Minha Condição É Ser Otária
Passa-se alguma coisa de errado com a minha pessoa.
Ultimamente tenho uma tendencia desmesurada para achar graça a homens gays.
Feios? Não.
Casados? Não.
Estúpidos? Não.
Gays.
Com os restantes as coisas resolvem-se; com os feios, olham-se a outras qualidades, com os casados, espera-se por melhores dias, com os estúpidos o truque é desviar a atenção para outro lado.
Com os gays não dá. Escolheram outro rumo e, ao contrário dos hetero, sabem muito bem o que querem e têm os seus problemas muito bem resolvidos.
Primeiro, este:
Neil Patrick Harris
Nem vale a pena. É o que é, e é tão giro, e mais nada.
Mas, para mal dos meus pecados, há este:
Este!, senhores, este!, o homem mais perfeito a pisar a face da terra, com um sotaque tão sexy, com uma figura tão maravilhosa, enfim, a fina flor do Reino Unido.
Gay?
Não! Não sabe muito bem.
Ora, foda-se, ca merda! Ao menos que saiba, não ande para aí na indefinição.
Só gostava de saber que raio se passa comigo para só ir buscar gente que joga na outra equipa. Deve ser um trauma qualquer, talvez o Freud conseguisse explicar isto.
Que desgosto, que desgosto, que desgosto...
Ultimamente tenho uma tendencia desmesurada para achar graça a homens gays.
Feios? Não.
Casados? Não.
Estúpidos? Não.
Gays.
Com os restantes as coisas resolvem-se; com os feios, olham-se a outras qualidades, com os casados, espera-se por melhores dias, com os estúpidos o truque é desviar a atenção para outro lado.
Com os gays não dá. Escolheram outro rumo e, ao contrário dos hetero, sabem muito bem o que querem e têm os seus problemas muito bem resolvidos.
Primeiro, este:
Neil Patrick Harris
Nem vale a pena. É o que é, e é tão giro, e mais nada.
Mas, para mal dos meus pecados, há este:
Gay?
Não! Não sabe muito bem.
Ora, foda-se, ca merda! Ao menos que saiba, não ande para aí na indefinição.
Só gostava de saber que raio se passa comigo para só ir buscar gente que joga na outra equipa. Deve ser um trauma qualquer, talvez o Freud conseguisse explicar isto.
Que desgosto, que desgosto, que desgosto...
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Quesitos da Base Instrutória
Cinema XLIII
Até nem está muito mau, tendo em conta que o início do filme é uma pseudo-imitação do 23.
Acaba por desenvolver bem, apesar do fim mal amanhado e explicado às pressas.
Enfim, com o Craig não se pode pedir muito...
quarta-feira, 28 de setembro de 2011
Cinema XLII
Surpreendentemente, é excelente.
Até admira, sendo espanhol (olha o preconceito histórico aqui tão lindo...)
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
What Happened To Us?
O que é que sobra dos tempos áureos de estudo?
O que é que sobra dos tempos inesgotáveis de amizade?
O que é que sobra de tudo o que foi vivido?
O que é que sobra?
Só sobras. Restos.
O que aconteceu? Onde nos perdemos, onde fomos parar, para onde vamos?
Alguém que me forneça a merda de um mapa, estou farta de andar perdida.
O que é que sobra dos tempos inesgotáveis de amizade?
O que é que sobra de tudo o que foi vivido?
O que é que sobra?
Só sobras. Restos.
O que aconteceu? Onde nos perdemos, onde fomos parar, para onde vamos?
Alguém que me forneça a merda de um mapa, estou farta de andar perdida.
Do Outono
Quando era miúda, ainda na escola primária, nesta época era costumeiro fazer uma qualquer coisa relacionada com o outono. Pintar folhas secas, pegar em ouriços de castanhas, fazer composições sobre o outono.
Era um tempo santo.
Fazíamos tudo isto com a chuva a bater nas janelas, com o frio a despontar, já vestidos com os casacos quentinhos.
Hoje, já no fim de Setembro, só há sol e calor.
Nada de folhas a voar pelas ruas, nada de gotas de chuva fria a bater na cara, nada de ouriços de castanhas nas árvores.
Já não sei dizer se estou triste porque as estações mudaram de sítio ou se por causa de sentir falta destas coisas me sinto velha...
Era um tempo santo.
Fazíamos tudo isto com a chuva a bater nas janelas, com o frio a despontar, já vestidos com os casacos quentinhos.
Hoje, já no fim de Setembro, só há sol e calor.
Nada de folhas a voar pelas ruas, nada de gotas de chuva fria a bater na cara, nada de ouriços de castanhas nas árvores.
Já não sei dizer se estou triste porque as estações mudaram de sítio ou se por causa de sentir falta destas coisas me sinto velha...
quinta-feira, 22 de setembro de 2011
Salty as Fuck 4
Ter decidido parar de viver à espera que me caísse a picareta das notas em cima não foi, afinal, tão boa ideia quanto isso.
A verdade é que pensava que se deixasse as coisas em águas de bacalhau não poderia sofrer de arrependimentos posteriores.
Que é como quem diz, não faço planos que me deixem feliz até sairem as notas para depois não ter desgostos.
Não trago para o escritório os livros que me fazem falta e que por acaso usei em exame porque quando sairem as notas vou precisar de estudar outra vez para repetir exames.
Não penso em organizar o meu CV porque não sairam as notas e, até lá, a minha vida continua a ser nesta comarca, não vou a lado nenhum. Coisas assim.
No dia em que decidir que assim não poderei viver, que estou constantemente a procrastinar eventos que me fazem falta, as notas sairão e todos os eventos supra descritos, que já estarão feitos, terão um sabor amargo.
Porque os fiz acontecer antes de saber o resultado da minha passagem por aquele beco escuro do Largo de Santa Bárbara, em Lisboa.
E mai nada.
A verdade é que pensava que se deixasse as coisas em águas de bacalhau não poderia sofrer de arrependimentos posteriores.
Que é como quem diz, não faço planos que me deixem feliz até sairem as notas para depois não ter desgostos.
Não trago para o escritório os livros que me fazem falta e que por acaso usei em exame porque quando sairem as notas vou precisar de estudar outra vez para repetir exames.
Não penso em organizar o meu CV porque não sairam as notas e, até lá, a minha vida continua a ser nesta comarca, não vou a lado nenhum. Coisas assim.
No dia em que decidir que assim não poderei viver, que estou constantemente a procrastinar eventos que me fazem falta, as notas sairão e todos os eventos supra descritos, que já estarão feitos, terão um sabor amargo.
Porque os fiz acontecer antes de saber o resultado da minha passagem por aquele beco escuro do Largo de Santa Bárbara, em Lisboa.
E mai nada.
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
Salty as Fuck 3
Gritar está na ordem do dia.
Quem se puser à frente, ouve gritar.
Quem se puser atrás, ouve gritar.
Dos lados, o efeito é o mesmo.
Por isso, se não quiser que lhe gritem, não venha trabalhar.
Ah, e é má ideia gritar de volta; só faz com que se grite mais ainda do outro lado da conversa.
Fosse foder-se e já nada destas merdas existiriam.
Quem se puser à frente, ouve gritar.
Quem se puser atrás, ouve gritar.
Dos lados, o efeito é o mesmo.
Por isso, se não quiser que lhe gritem, não venha trabalhar.
Ah, e é má ideia gritar de volta; só faz com que se grite mais ainda do outro lado da conversa.
Fosse foder-se e já nada destas merdas existiriam.
Toma Lá Que É Democratico
Descaradamente roubado do perfil de Facebook do meu caro amigo P., mas que se lixe; nada melhor que isto para ilustrar o que há já um ano e meio ando a barafustar por todos os cantos.
Pronto e agora que já dei uma imagem daqui que penso de si, senhor bastonário, ponha cá fora as notasvou-me esticar ao comprido, já se está a ver, pode ser?
Pronto e agora que já dei uma imagem daqui que penso de si, senhor bastonário, ponha cá fora as notas
WTF??
Entrou-me uma mama desta senhora para o olho direito.
No entanto, ao menos, ela tem-nas.
Contra isto?
Batatinhas!
segunda-feira, 19 de setembro de 2011
A minha existência é como um processo executivo: parada à espera de despacho.
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Das Coisas fora dos limites do 202º CC
terça-feira, 13 de setembro de 2011
Will I Die The Next Day?
Dentro de dias, saberei o resultado da ideia mais infeliz que algum dia tive.
Apesar de ter passado por todo o processo com relativa coragem, sei que os dias de valentia e peito aberto chegaram ao fim.
Dentro de dias, saberei e sei que não traz nada de bom.
Podia fazer aqui o número de americano patriota, um discurso como o filme Pearl Harbor, qualquer coisa como a América sofreu mas no fim venceu, nunca se deixou ficar, combateu sempre e no fim os gloriosos triunfaram. Ça foda.Qualquer coisa assim que, tal como em The Beach, que se há-de fazer, hoje é dia de citar filmes merdosos, vou sobreviver, vou vencer, I will not die today, à laia de qualque estupidez que o desespero faz dizer.
Não o vou fazer.
Venha o que vier; até porque já sei o que lá vem.
Apesar de ter passado por todo o processo com relativa coragem, sei que os dias de valentia e peito aberto chegaram ao fim.
Dentro de dias, saberei e sei que não traz nada de bom.
Podia fazer aqui o número de americano patriota, um discurso como o filme Pearl Harbor, qualquer coisa como a América sofreu mas no fim venceu, nunca se deixou ficar, combateu sempre e no fim os gloriosos triunfaram. Ça foda.Qualquer coisa assim que, tal como em The Beach, que se há-de fazer, hoje é dia de citar filmes merdosos, vou sobreviver, vou vencer, I will not die today, à laia de qualque estupidez que o desespero faz dizer.
Não o vou fazer.
Venha o que vier; até porque já sei o que lá vem.
Coisa Qualquer Estupidamente Longa Que Se Me Deu Para Escrever Só Porque Não Tenho Sono
A única vantagem, talvez, de estar doente é a de estar deitada a pensar naquilo que se passa à volta, enquanto o mundo dá as suas costumeiras voltas.
E o que resulta dessa observação e subsequente análise de factos é a realidade.
O que acaba por ser uma merda é que a realidade é, em si, uma grande, grande porra. Não vou escrever merda outra vez, acabei de o fazer há segundos. E por outro lado, repeti-me mesmo agora...
Merda é, nestas frases, o adjectivo; nem sei se isto ainda se chama adjectivo, o acordo ortográfico é uma verdade incontornável neste momento, mas creio dá para perceber que o qualificativo está lá. Merda, aqui, neste momento, é um qualificativo.
A minha vida profissional é uma merda. Não que algum dia, no último ano e meio tenha sido alguma coisa de jeito, afinal, um estagiário é isso mesmo, nada de jeito. Porém, de nada de jeito até merda ainda vai um passo considerável, e parece que, algures na minha dormência, ele foi dado.
Ou o deram por mim ou, mais provavelmente, dei-o e não dei conta.
Como pude estar a dormir tão profundamente que não vi isto chegar é um mistério mas, pelos vistos, há mais mistérios profissionais para os quais não encontro verdade ou solução.
Não que isso interesse alguma coisa para o caso, mas gostava da vida que levava.
Gostava, mesmo que fingisse que não e que atirasse para o ar meia dúzia de larachas, de quem me acompanhava naquela que parecia uma longa viagem até ao fim, até ao momento da chegada ao porto da carteira profissional definitiva.
Não obstante, quem comanda o navio mostra a sua verdadeira face e tudo o que foi visto e vivido até à data deixa de ter qualquer tipo de significado.
Passou a não existir. Uma miragem. Uma ilusão. Nunca aconteceu.
Talvez estivesse somente à espera de mostrar a verdadeira face. Talvez alguma coisa fez despoletar o que agora é a realidade. Talvez tenha sido sempre assim, mas um clique mágico fez com que as luzes da consciência se acendessem e mostrassem como tudo se passa.
Talvez. Uma destas hipóteses. Todas elas. Nenhuma.
O que é, afinal, a realidade?
A realidade agora chama pelo nome de abandono e um par de coices.
E, mesmo que finja e que arranje maneiras de lidar com este novo cenário, há coisas que magoam.
E magoam, não somente pelas pessoas que o fazem, mas porque não há maneira de se perceber o porquê da mudança. E a procura por essa resposta é uma demanda sem fim.
Alguma coisa se quebrou e não tem conserto.
Nem sequer vou andar de gatas à procura dos cacos, na esperança infantil de remediar e ter de voltar os velhos dias dourados.
Viver com o vazio deixado, olhando para o lado, não querendo ver, esse tem sido o verdadeiro desafio, vencido com sucesso, diga-se, pelo menos à superficie.
Hoje vi a minha vida profissional futura.
Olhei-a nos olhos e soube que, pelo menos, em certos aspectos, tinha bocados mortos que esperavam, desesperados, ser cortados e deitados fora.
Soube, ali mesmo, que uma vez mortos, os velhos dias dourados não voltavam e precisavam de ser separados do resto para não minar o que ainda tem salvação.
Hoje percebi que tenho o bisturi no bolso há meses, à espera que lhe deite a mão para fazer o que necessita ser feito.
Hoje percebi que, mais tarde ou mais cedo, vai ter que acontecer.
Hoje percebi que estou numa espiral de contagem descendente, que não consigo parar, que já vai adiantada demais para ser, sequer, travada.
Hoje percebi: é o princípio do fim.
E, um por glorioso momento, percebi também que é a coisa certa a fazer.
E o que resulta dessa observação e subsequente análise de factos é a realidade.
O que acaba por ser uma merda é que a realidade é, em si, uma grande, grande porra. Não vou escrever merda outra vez, acabei de o fazer há segundos. E por outro lado, repeti-me mesmo agora...
Merda é, nestas frases, o adjectivo; nem sei se isto ainda se chama adjectivo, o acordo ortográfico é uma verdade incontornável neste momento, mas creio dá para perceber que o qualificativo está lá. Merda, aqui, neste momento, é um qualificativo.
A minha vida profissional é uma merda. Não que algum dia, no último ano e meio tenha sido alguma coisa de jeito, afinal, um estagiário é isso mesmo, nada de jeito. Porém, de nada de jeito até merda ainda vai um passo considerável, e parece que, algures na minha dormência, ele foi dado.
Ou o deram por mim ou, mais provavelmente, dei-o e não dei conta.
Como pude estar a dormir tão profundamente que não vi isto chegar é um mistério mas, pelos vistos, há mais mistérios profissionais para os quais não encontro verdade ou solução.
Não que isso interesse alguma coisa para o caso, mas gostava da vida que levava.
Gostava, mesmo que fingisse que não e que atirasse para o ar meia dúzia de larachas, de quem me acompanhava naquela que parecia uma longa viagem até ao fim, até ao momento da chegada ao porto da carteira profissional definitiva.
Não obstante, quem comanda o navio mostra a sua verdadeira face e tudo o que foi visto e vivido até à data deixa de ter qualquer tipo de significado.
Passou a não existir. Uma miragem. Uma ilusão. Nunca aconteceu.
Talvez estivesse somente à espera de mostrar a verdadeira face. Talvez alguma coisa fez despoletar o que agora é a realidade. Talvez tenha sido sempre assim, mas um clique mágico fez com que as luzes da consciência se acendessem e mostrassem como tudo se passa.
Talvez. Uma destas hipóteses. Todas elas. Nenhuma.
O que é, afinal, a realidade?
A realidade agora chama pelo nome de abandono e um par de coices.
E, mesmo que finja e que arranje maneiras de lidar com este novo cenário, há coisas que magoam.
E magoam, não somente pelas pessoas que o fazem, mas porque não há maneira de se perceber o porquê da mudança. E a procura por essa resposta é uma demanda sem fim.
Alguma coisa se quebrou e não tem conserto.
Nem sequer vou andar de gatas à procura dos cacos, na esperança infantil de remediar e ter de voltar os velhos dias dourados.
Viver com o vazio deixado, olhando para o lado, não querendo ver, esse tem sido o verdadeiro desafio, vencido com sucesso, diga-se, pelo menos à superficie.
Hoje vi a minha vida profissional futura.
Olhei-a nos olhos e soube que, pelo menos, em certos aspectos, tinha bocados mortos que esperavam, desesperados, ser cortados e deitados fora.
Soube, ali mesmo, que uma vez mortos, os velhos dias dourados não voltavam e precisavam de ser separados do resto para não minar o que ainda tem salvação.
Hoje percebi que tenho o bisturi no bolso há meses, à espera que lhe deite a mão para fazer o que necessita ser feito.
Hoje percebi que, mais tarde ou mais cedo, vai ter que acontecer.
Hoje percebi que estou numa espiral de contagem descendente, que não consigo parar, que já vai adiantada demais para ser, sequer, travada.
Hoje percebi: é o princípio do fim.
E, um por glorioso momento, percebi também que é a coisa certa a fazer.
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Posição Doutrinária
segunda-feira, 12 de setembro de 2011
Leituras XLII
Escrita fluída e clara, personagens com estrutura, que podiam ser reais tornam a leitura deste livro um afago para os olhos.
Mais uma obra bilhante de Liss.
Muito bom!
quinta-feira, 8 de setembro de 2011
Da Filhadaputice que em Mim Habita
De quando em vez, dá-me para pensar no que há-de vir. No futuro profissional, familiar, pessoal.
Cheguei à conclusão que até gostava de ter filhos, satisfazer o meu instinto maternal, deixar uma marca no mundo, um pouco de mim, já que não acredito na vida para além da morte e creio mesmo que deixar descendência na terra é um dos caminhos para ser lembrado.
Filhos.
Esses seres que nascem do acto do amor, os quais se carregam durante quase um ano e depois se observa e se cuida durante uma vida inteira. É capaz de ser um projecto interessante.
Ter filhos para preencher qualquer coisa e satisfazer o instinto animal de lamber crias que nasceu comigo.
É mentira.
Instinto maternal ou não, que mais parece daquelas balelas que os romances de cordel inventam para colmatar um trauma de infância do autor, a verdade é que engordar 325kg por causa de um rebento, ter que abrir as pernas e, por um buraco do tamanho de uma ameixa, fazer sair uma coisa do tamanho de uma melancia, noites sem dormir e preocupações desde o berço até à cova não é aliciante. Não é. Mesmo para quem venha cá dizer que é a melhor coisa do mundo, e o meu filhinho é tão lindinho e o caraças a sete, só conversa de merda de quem passa a vida a tapar o sol com a peneira e não tem mais nada que fazer senão anular-se como mulher para passar a ser mãe a tempo inteiro. ai que futil que eu sou, batam-me lá, ó mãezecas de família da classe média que acabo de falar mal de ter filhos, que foi para isso que o criador colocou as mulheres no mundo
O que é que é, então, positivo no facto de se pôr uma criancinha no mundo?
Mamas.
Para quem como eu que estava na fila das carcaças quando deus (deve ser certo) distribuiu mamas pelas mulheres, ter mamas que se vejam, luzidias, cheiinhas e grandes é um sonho, uma quimera que se almeja mas que nunca chega.
Como não há dinheiro para operações plásticas, há que optar pelo plano natural da coisa. A gravidez é a operação às mamas dos pobres, até acho que foi o Ricardo Araújo Pereira que o disse...
Pasme-se, afinal, que não dura para sempre, o efeito pode ser muito bom durante uns meses valentes, mas eventualmente há lugar a desinchamento definitivo das ditas.
Mas porquê, porquê, senhores, se estava tudo tão bem como estava, a criança nascia, as mamas mantinham-se grandes, éramos todos felizes, e isto da natureza sempre tinha os seus aspectos positivos?!!
Não, qual quê.
Não só não se limitam a desinchar como ainda ficam com aspecto de saco plástico de supermercado, ainda mais pequenas que anteriormente.
Era o último reducto da minha esperança, que sou pobre e não tenho dinheiro para mamas boas e artificiais.
Era a minha luzinha ao fundo do túnel para ter um mamalhal daqui até Colares.
Não há. E ainda por cima com a ameaça de levar o pouco que tenho.
Foda-se. É pior que o imposto extraordinário que o Senhor dos Passos nos pôs a pagar.
Cheguei à conclusão que até gostava de ter filhos, satisfazer o meu instinto maternal, deixar uma marca no mundo, um pouco de mim, já que não acredito na vida para além da morte e creio mesmo que deixar descendência na terra é um dos caminhos para ser lembrado.
Filhos.
Esses seres que nascem do acto do amor, os quais se carregam durante quase um ano e depois se observa e se cuida durante uma vida inteira. É capaz de ser um projecto interessante.
Ter filhos para preencher qualquer coisa e satisfazer o instinto animal de lamber crias que nasceu comigo.
É mentira.
Instinto maternal ou não, que mais parece daquelas balelas que os romances de cordel inventam para colmatar um trauma de infância do autor, a verdade é que engordar 325kg por causa de um rebento, ter que abrir as pernas e, por um buraco do tamanho de uma ameixa, fazer sair uma coisa do tamanho de uma melancia, noites sem dormir e preocupações desde o berço até à cova não é aliciante. Não é. Mesmo para quem venha cá dizer que é a melhor coisa do mundo, e o meu filhinho é tão lindinho e o caraças a sete, só conversa de merda de quem passa a vida a tapar o sol com a peneira e não tem mais nada que fazer senão anular-se como mulher para passar a ser mãe a tempo inteiro.
O que é que é, então, positivo no facto de se pôr uma criancinha no mundo?
Mamas.
Para quem como eu que estava na fila das carcaças quando deus (deve ser certo) distribuiu mamas pelas mulheres, ter mamas que se vejam, luzidias, cheiinhas e grandes é um sonho, uma quimera que se almeja mas que nunca chega.
Como não há dinheiro para operações plásticas, há que optar pelo plano natural da coisa. A gravidez é a operação às mamas dos pobres, até acho que foi o Ricardo Araújo Pereira que o disse...
Pasme-se, afinal, que não dura para sempre, o efeito pode ser muito bom durante uns meses valentes, mas eventualmente há lugar a desinchamento definitivo das ditas.
Mas porquê, porquê, senhores, se estava tudo tão bem como estava, a criança nascia, as mamas mantinham-se grandes, éramos todos felizes, e isto da natureza sempre tinha os seus aspectos positivos?!!
Não, qual quê.
Não só não se limitam a desinchar como ainda ficam com aspecto de saco plástico de supermercado, ainda mais pequenas que anteriormente.
Era o último reducto da minha esperança, que sou pobre e não tenho dinheiro para mamas boas e artificiais.
Era a minha luzinha ao fundo do túnel para ter um mamalhal daqui até Colares.
Não há. E ainda por cima com a ameaça de levar o pouco que tenho.
Foda-se. É pior que o imposto extraordinário que o Senhor dos Passos nos pôs a pagar.
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Das Coisas fora dos limites do 202º CC
terça-feira, 6 de setembro de 2011
Ossos do Ofício
É triste quando se está rodeado de gentes com olhar brilhante do cansaço, ladeados por maços de papel que nunca mais acabam, mais os livros abertos e os códigos de leis brilhantes e incompreensíveis, num espaço onde toda a gente corre para todo o lado, em busca de consolo, sem conseguir chegar a lugar nenhum.
Olham uns para os outros e perguntam em voz baixa, como se tivessem uma infecção vaginal, embaraçosa situação, estás com prazos?, tentando transmitir com o olhar a sua solidariedade mas não parecendo mais que baratas esgroviadas.
É triste tratar a profissão como uma doença venérea, mas quem cá está sabe muito bem que não há outro remédio senão tratá-la exactamente como merece.
Olham uns para os outros e perguntam em voz baixa, como se tivessem uma infecção vaginal, embaraçosa situação, estás com prazos?, tentando transmitir com o olhar a sua solidariedade mas não parecendo mais que baratas esgroviadas.
É triste tratar a profissão como uma doença venérea, mas quem cá está sabe muito bem que não há outro remédio senão tratá-la exactamente como merece.
sexta-feira, 2 de setembro de 2011
Dos Fenómenos
O que gosto mesmo, mas mesmo, mesmo, é daquelas gentinhas que, sendo da Margem Sul dos quatro costados, pretendem não pertencer àquela terra em época de festa do Avante.
Acho graça, a sério que acho.
Armados em burguesinhos de alto calibre que não se mistura com a escumalha dos esquerdalhos, fingem, por três dias, que não são dali, que são superiores, porque são de direita numa terra de comunistas.
Estejam descansados, fofos, que ninguém vos tira a pinta de pseudo-monarcas que não têm onde cair mortos, ok?
Acho graça, a sério que acho.
Armados em burguesinhos de alto calibre que não se mistura com a escumalha dos esquerdalhos, fingem, por três dias, que não são dali, que são superiores, porque são de direita numa terra de comunistas.
Estejam descansados, fofos, que ninguém vos tira a pinta de pseudo-monarcas que não têm onde cair mortos, ok?
quinta-feira, 1 de setembro de 2011
Leituras XLI
Intenso, vívido, tocante, C.J. Sansom leva o leitor ao âmago da época Tudor e da reforma religiosa como se possuisse uma máquina do tempo, de tal forma que o transporta para a cena da ficção.
Surpreendente, claro e denso, mais uma livro memorável e maravilhoso.
Da Família
Ter avós é assim a modos que engraçado. Ter avós chonés é ainda mais engraçado.
Gosta o meu avô de bradar aos quatro ventos e para quem o quer ouvir que no tempo dele é que era bom, que não havia corrupção, que não havia escândalos, que não havia gatunagem, que as pessoas viviam bem e eram felizes, e tudo graças a um só homem, que era grande e fenomenal. Salazar, pois então.
Tirando o facto de este mesmo homem, ainda há poucos anos, ser militante do PS e acérrimo defensor da democracia, quando confrontado com o facto de, nos tempos que ele apelida de bons, haver corrupção e escândalos, mas o povo não sabia porque havia uma coisa chamada censura, as pessoas não viviam nada bem porque havia, vá, fome e miséria como não há memória, haver gatunos como há agora, apenas tal facto não era mencionado com muita frequência, e que as pessoas não seriam necessariamente felizes porque havia falta de muita coisa que nada tinha a ver com a doce demagogia da liberdade e democracia, tinha somenta a ver com as dificuldades económicas, a falta de trabalho, a falta de cuidados, enfim, a falta de tudo o que o bom do Estado Social trouxe, ele acha que é tudo mentira e que o estão a tentar enganar e a denegrir o bom trabalho que esse grande homem fez.
Obviamente que dizer isto ao velhote ou mandá-lo plantar batatas é exactamente a mesma coisa, pois que se chega a esta provecta idade e a capacidade de armazenamento de informação, compreensão e processamento está com a reserva de energias muito em baixo.
Ali um momento de confusão, a informação a chegar ao cérebro com grande lentidão, uns minutos de silêncio e depois a tirada brilhante: Mas eu andei descalço quando era menino e comia só pão de milho!, anuncia ele, com a voz embargada da emoção de ter derrotado o seu interlocutor com esta conclusão que arreda todos os argumentos.
Mas, ó avô, isso era mau! Não vês, andavas descalço e passavas fome! Como é que isso era uma coisa bem feita pelo teu bendito Salazar?! (sim, eu ainda tento...)
Mais um momento de silêncio, mais uns minutos de confusão, mais a informação a chegar com os bofes de fora ao cérebro que, coitado, também já está cansadito.
E era isso que agora fazia falta! Fome e pobreza para as pessoas verem!, diz ele.
Mas não é isso que tu dizes que há agora e que no teu tempo não havia?, pergunto eu.
Silêncio...
E pronto, fundiram-se as lâmpadas todas e gera-se a barafunda, e acaba o homem a falar mal dos Governos e a bendizer o ditador.
Abençoada velhice que faz esquecer as argruras da vida.
Gosta o meu avô de bradar aos quatro ventos e para quem o quer ouvir que no tempo dele é que era bom, que não havia corrupção, que não havia escândalos, que não havia gatunagem, que as pessoas viviam bem e eram felizes, e tudo graças a um só homem, que era grande e fenomenal. Salazar, pois então.
Tirando o facto de este mesmo homem, ainda há poucos anos, ser militante do PS e acérrimo defensor da democracia, quando confrontado com o facto de, nos tempos que ele apelida de bons, haver corrupção e escândalos, mas o povo não sabia porque havia uma coisa chamada censura, as pessoas não viviam nada bem porque havia, vá, fome e miséria como não há memória, haver gatunos como há agora, apenas tal facto não era mencionado com muita frequência, e que as pessoas não seriam necessariamente felizes porque havia falta de muita coisa que nada tinha a ver com a doce demagogia da liberdade e democracia, tinha somenta a ver com as dificuldades económicas, a falta de trabalho, a falta de cuidados, enfim, a falta de tudo o que o bom do Estado Social trouxe, ele acha que é tudo mentira e que o estão a tentar enganar e a denegrir o bom trabalho que esse grande homem fez.
Obviamente que dizer isto ao velhote ou mandá-lo plantar batatas é exactamente a mesma coisa, pois que se chega a esta provecta idade e a capacidade de armazenamento de informação, compreensão e processamento está com a reserva de energias muito em baixo.
Ali um momento de confusão, a informação a chegar ao cérebro com grande lentidão, uns minutos de silêncio e depois a tirada brilhante: Mas eu andei descalço quando era menino e comia só pão de milho!, anuncia ele, com a voz embargada da emoção de ter derrotado o seu interlocutor com esta conclusão que arreda todos os argumentos.
Mas, ó avô, isso era mau! Não vês, andavas descalço e passavas fome! Como é que isso era uma coisa bem feita pelo teu bendito Salazar?! (sim, eu ainda tento...)
Mais um momento de silêncio, mais uns minutos de confusão, mais a informação a chegar com os bofes de fora ao cérebro que, coitado, também já está cansadito.
E era isso que agora fazia falta! Fome e pobreza para as pessoas verem!, diz ele.
Mas não é isso que tu dizes que há agora e que no teu tempo não havia?, pergunto eu.
Silêncio...
E pronto, fundiram-se as lâmpadas todas e gera-se a barafunda, e acaba o homem a falar mal dos Governos e a bendizer o ditador.
Abençoada velhice que faz esquecer as argruras da vida.
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Piadas de Propriedade Privada
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