quarta-feira, 29 de julho de 2015

Bottom Line: Fodem Tudo o Que Gosto

Porque claramente não tenho o que fazer (ter, até tenho, mas está a dar-me uma preguiça descomunal e também não está aqui ninguém para ver), chegou a hora de fazer o comentário mais inútil e desprovido de sentido de sempre.

Parece que os meus queridos amigos, Nightwish, lançaram um novo álbum.


Novo, é como quem diz ... Deve ter saído lá para finais de Março, mas essa deve ter sido uma época em que realmente tinha coisas a fazer e a resenha final foi adiada.
Por um lado, até foi bom ter demorado tanto tempo a formalizar uma opinião definitiva. A verdade é que mudei algumas vezes de opinião, não radicalmente, é certo, mas pelo menos já não tenho vontade de rachar cabeças a eito.

Este é o álbum mais fraquinho de Nightwish.

Já consigo expressar esta opinião sem chorar muito nem berrar constantemente, mas é da aceitação que vem o primeiro passo para a cura, como dizem aqueles livros de filosofia pós-moderna. Custou-me admitir que esta gente que costumava fazer peças de arte em forma de música tenha escorregado uns valentes degraus até chegar a este patamar de quase mediocridade.

Problemas várias assolam Endless Forms Most Beautiful.

A começar no próprio título; o que é isto? Faltámos às aulas de gramática de inglês, foi? Ou apenas nos baldámos àquelas em que ensinaram que retirar (partes de) frases de um texto engraçado, e ao qual achámos um piadão, é simplesmente parvo? Aliado ao facto desta simples frase ter uma métrica horrenda ficar absolutamente estúpida quando enfiada às três pancadas num refrão, começamos muito mal.

Outro aspecto que se tornou problemático foi o facto de o álbum anterior ter sido conceptual. Torna-se quase um vício escrever dez ou doze canções sobre um único tema.
É compreensível que se tenha vontade de compôr e escrever sobre uma temática que dá gozo e que tem uma profundidade tal que nunca se torna repetitivo explorá-la. Resultou muitíssimo bem para o trabalho anterior, mas esse era assumidamente um álbum conceptual.
Este não é, mas acabou por ser, dada a quantidade de músicas sobre a mesma temática. Porém, em vez de ter um encadeamento lógico, como em Imaginaerum, em que é contada uma história com pés e cabeça, resulta uma amálgama de repetições dos mesmos conceitos.

Ainda outro pormenor que não deixa de ser triste é a qualidade da música em si, da melodia e do arranjo. Muito fraquinha, não em todas mas em algumas músicas.
Soam tal e qual uma daquelas bandas que tocam nas festas da aldeia, demasiado órgão, muito pouco trabalhado e muito árido no ouvido. É o caso de Endless Forms Most Beautiful, que dá nome ao trabalho. Cujo videoclip que acompanha está, também ele, catastrófico.

Infelizmente, não é caso isolado. Edema Ruh é um altar à brejeirice e podia muito bem ter sido composta pelo Emanuel ou pelo Clemente, que não teria saído pior. A letra é piegas e não se nota que foi escrita por um grande poeta.  Our Decades in the Sun tem uma letra fortíssima, mas um arranjo tenebroso, que arranha a alma e os ouvidos.  Yours is an Empty Hope é outro exemplo de como a métrica não anda grande coisa lá para os lados dos Conservatórios finlandeses. Tem muitas quebras e perde-se o sentido da música. Tão depressa se sente sono como desata tudo a partir cascalho... E My Walden parece música de festival da canção, apesar da letra ser um tanto ou quanto interessante.

O pior de tudo é que a maior parte das músicas neste álbum têm partes muito boas e extremamente bem orquestradas, com grandes picos e a parte vocal absolutamente estrondosa. E como é que isto pode ser mau, pensarão alguns? Porque fica tudo estragado já que a restante música soa pessimamente e quase que parece descontextualizada.
É claramente o caso de The Greatest Show On Earth que tem um verdadeiro poema na letra, com picos de orquestração muito bem feitos e em que a voz de Floor Jensen brilha em toda a linha, mas com partes mortas, sem interesse e que desviam a atenção do conteúdo da música com verdadeiros momentos 'WTF'. Também Élan tem uma letra lindíssima e seria uma grande música se não estivesse tremendamente mal composta e com laivos de música pimba.

Porém, nem tudo é mau; Alpenglow é francamente boa, a fazer lembrar os velhos álbuns, bem como Weak Fantasy, a trazer de volta o poderio metaleiro desta gente. Seguem-lhes o exemplo The Eyes of Sharbat Gula (a.k.a. a única música sem defeito neste trabalho) e Shudder Before The Beautiful que, apesar do nome estranho, é absolutamente extraordinária. A voz de Floor Jensen é maravilhosa e encaixa na banda como ninguém (vamos lá ver quanto tempo dura), sabe levar a melodia até à estratosfera e tem um grande potencial.

Resumindo, concluindo e baralhando: estou deveras aborrecida. Nunca pensei ter tantos defeitos a apontar a um trabalho de uma das minhas bandas de eleição. Endeusei Mr. Holopainen e bem que me lixei, que desgosto é a palavra que mais de apetece pronunciar quando penso nisto.

Vamos esperar que as actuações ao vivo sejam suficientes para encobrir as falhas (normalmente são) e que não repitam a brincadeira.

Mesmo.
A sério.

1 comentário:

Pedro M. disse...

Vi aqui o videoclip da outra vez e fiquei um bocado com aquela sensação de "o quê, a Bernardina pintou o cabelo e arranjou uma banda?". Mas não podia ser, porque mesmo com todas essas lacunas, falava melhor inglês do que a língua materna...