terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Eu e a Administração VIII

Naquela casa a que chamavam Conservatória, em que supostamente se prestava um serviço público, em que o importante era satisfazer os interesses dos cidadãos nas suas necessidades administrativas, nunca tal serviço era prestado convenientemente, ora porque as folhas estavam mal agrafadas, ora porque faltava uma linha, ora porque faltava uma cópia da Bula Manifestis Probatum, ora porque, pura e simplesmente, não sabiam fazer um registo mais complexo e, por isso, o requerimento era recusado.

Nesse dia, um cidadão mais afoito, que se auto-proclamava contribuinte pagador dos salários desta corja preguiçosa, não foi de modas e, enquanto mandava repetido murros no balcão, batia com os pés no chão, berrou três ou quatro impropérios em bom vernáculo português que, numa tradução simplista, significava dê-me o livro de reclamações imediatamente.

Obviamente que ninguém dos presentes precisou de disfarçar para poder olhar livremente ou de arrastar os pés no chão, como quem não quer a coisa, para poder assistir à cena; até os funcionários que não estavam ao balcão se levantaram dos seus lugares para poder ver mais de perto a cena macaca que ali se desenrolava. Já os que estavam, de facto, a atender ficaram com caras de coelhinho prestes a ir para o tacho, cheios de medo que o próximo cidadão a atender lhes fosse ralhar naqueles preparos.

Tristes de merda.
Quando estão a fazer a vida negra às pessoas (e mandatários também, que embora não sejam bem pessoas, um dia esperam vir a ser) que lá vão fazer descansadamente as suas vidinhas, estão todos contentes a ser arrogantes e malcriados, cheios de vento e bazófia; quando chega alguém que tem coragem de dizer aquilo que toda a gente pensa mas que não diz, já está tudo cheio de medinho e com a falta de respeito na boca.

É tão, mas tão bem feita.
Quem me dera ter sido eu a fazer o estardalhaço, por todas as vezes que vim de lá frustrada, irritada, maltratada e escorraçada de um serviço que ajudo a pagar.

Arrotem, cabrões.

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