sábado, 16 de julho de 2011

Deixei Tudo Por Ela, Deixei, Deixei...

Coisas que deixei de fazer todos os dias, a toda a hora, durante não sei quanto tempo por causa desta merda para aí vem para a semana:

- Deixei de ler livros normais, daqueles que não versam sobre direito, desde que a merda das aulas começaram. E para aqueles que não sabem, este facto, na minha pessoa, não só é sinal de grande sacrifício, como é sinal de que algo vai irremediavelmente mal. Todas as horas de almoço, todos os minutos antes do deitar, todos os minutos do dia que eram reservados à leitura, desde Março até agora, foram na mesma reservados à leitura, mas à leitura de obras jurídicas. Jurídicas. Exclusivamente;

- Deixei de ir a Festivais e outros eventos para não me deitar tarde, para poder acordar cedo e estudar o dia todo sem interrupções ou cansaço extremo;

- Deixei de ir a sessões de café com amigos, amigos esses que por acaso até precisavam que estivesse lá para eles em momentos de dificuldade, mas que a minha agenda super preenchida entre casa e a biblioteca não permitia;

- Deixei de ter férias porque houve alguém que não foi capaz de me dar tempo de estudo para fazer 6 cadeiras e tive que roubar tempo do meu descanso;

- Deixei de saber o que é uma noite descansada, sem pesadelos, insónias ou outros distúrbios nocturnos, desde há 3 meses para cá;

- Deixei de ter paciência para as coisinhas normais do dia-a-dia, parecendo que estou em permanente estado de tensão pré-menstrual;

- Deixei de ver filmes e séries à noite para, mais uma vez, não me deitar tarde, para poder acordar cedo e não morrer de sono no tempo em que devia estar a usar para estudar;

- Deixei, portanto, de ver os meus programas preferidos;

- Deixei de ter objectivos imediatos que não os exames;

- Deixei que o meu quarto se transformasse numa central nuclear; tem lixo tóxico até ao tecto, espalhando uma nuvem de porcaria pela casa fora;

- Deixei de ter (ainda mais) amor à vida e já perdi a conta aos cigarros que fumo por dia;

- Deixei de preparar com o tempo devido as coisas para o casamento dos meus amigos, que devia ser uma cena gira e divertida para se ir fazendo. Não, nem pensar; comprei a roupa, os sapatos e os acessórios todos quase no fim-de-semana em que recebi o convite, para deixar tudo pronto e não perder tempo com pormenores, não me esforcei para escolher uma prenda gira e original e não pensei como é que vou fazer para domar a minha melena louca naquele dia (vou, portanto, mascarada de leão); está tudo pronto há tanto tempo que nem sei a cor da merda do fato;

- Deixei de tratar decentemente as pessoas que me rodeiam, o que leva a que as minhas relações sociais se limitem a falar baixinho para os apontamentos e casos práticos que fui fazendo;

Resumindo, deixei tudo o que me fazia feliz por causa desta coisa estúpida.
Mas como sou uma pessoa crescida, também este tempo resultou numa aprendizagem excelente, não só de conhecimento jurídico e judiciário, mas de outros elementos, reletivamente importantes: deixei de pensar que sou uma pobre infeliz por me ter metido em testes e exames quando podia ter uma vida descansada, deixei de me ter como uma coitadinha que está sempre com um pé na forca e outro no cadafalso da avaliação constante e tenho agora mais coragem em tempo de guerra do que tive em qualquer outra altura da minha carreira académica.

Ou isto ou estou a fingir que não penso a toda a hora no imenso sacrifício que pode nunca ter valido a pena.

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