quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Anti-Age

Uma pessoa não se apercebe do passar do tempo.
É-se pequeno, é-se novo, o tempo divide-se entre a escola, os trabalhos de casa, a brincadeira. Sempre assim, com ligeiras nuances, até à faculdade, em que a vida já obriga a outros sacrifícios como estudar de vez em quando para os exames, faltar às aulas para ficar no bar a jogar às cartas, ir a festarolas da cerveja, sair com amigos, até ao dia em que chega a benção dos finalistas e se fica a pensar, porra, como esta merda passou a voar.
Daí até à entrada no mercado de trabalho é um saltinho, não contando com as trapaças e rasteiras que um certo Bastonário de uma certa Ordem corporativa de uma certa profissão liberal vai pondo no caminho.
Tudo passa num sopro, daqui a nada já se está há um ano na mesma casa, com as mesmas pessoas, a fazer uma coisa gira, mesmo com a solidão que aperta nesta terra do demónio, perita em comarcas da Grande Lisboa Noroeste.
Quando se dá por ela, está-se velho. Velho, antigo, arcaico.
Ou um limbo que ninguém percebe muito bem qual é, em que já não se transpira juventude por todos os poros, mas também ainda não se anda de peles caídas.
Os miúdos do liceu já tratam por você, por a senhora, mas a velhota da papelaria ainda chama menina, já para não falar na gorda do café que ainda trata por tu, mas essa é malcriada de raíz, portanto, não deve contar bem para o totoloto.
Até que chega o dia, em que não havendo mais nada que fazer, procede-se à compra de creme anti-rugas.
Porque está a chegar a mítica idade do quarto de século, e segundo literatura de qualidade na matéria, é preciso começar a prevenir os efeitos da passagem do tempo no cartão de visita do ser humano, que não é outro lugar que não o trombil.
Porém, só se percebe que o tempo também passa para o próprio e não somente para os outros, quando se chega a casa e se mostra aos progenitores a nova aquisição.
Não há direito a comentários.
Apenas um olhar trocado entre os dois e um ligeiro murmúrio que soava terrivelmente a 'ainda ontem estavamos a comprar-lhe fraldas'.

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