segunda-feira, 14 de maio de 2018

Vamos Lá Falar da Eurovisão

Ultrapassadas as lágrimas pelo facto de ter estado longe da noite mais 'eurovisiva' do ano, vamos a factos: nada muda na Eurovisão.

A Eurovisão foi sempre, é sempre, será sempre um festival da música pop.
Claro que aparecem músicas de todos os estilos, mas eventualmente acabam sempre por vencer canções pop.
Há excepções, claro; Salvador Sobral e Lordi são dois nomes que surgem imediatamente na mente e que fogem a este paradigma, mas a esmagadora maioria centra-se na música pop.
E não há mal nenhum nisso.
Há pop muito mau e há pop muito bom. Calha que na Eurovisão só se veja maioritariamente pop muito mau, com muita perna de fora, mamas em todas as direcções, letras de treta e acordes que ferem os ouvidos.

Este ano não foi diferente.

Ou achavam que ia ser? Lá porque o Salvador ganhou com uma música diferente, a partir de agora já havia qualidade a rodos no festival, não querem lá ver?

Não, meus amigos.
Isto é só a Eurovisão a ser a Eurovisão. É o festival a ser o que sempre foi: uma agremiação de música ligeira, a que se dá a importância que tem durante os três dias de cada espectáculo e depois nunca mais ninguém se lembra disso até ao ano seguinte.
Serve essencialmente para passar um bom bocado e fazer amigos entre vários países, celebrando as diferenças dentro da união. E mais nada, não vale a pena enervarem-se muito.


Ganhou, portanto, Israel, o meu país preferido.
Não com a minha música preferida (já lá vamos), mas com uma vitória espectável.

'Toy' é o espírito pop-fácil da Eurovisão, tirado a papel químico, como diria a minha saudosa Avó. Lá está, é o que sempre foi. A rapariga é diferente e fez uma interpretação para lá de diferente, igual a si própria. Não vejo qual possa ser o espanto daquela vitória; afinal estava mais ou menos prevista, ou não viram as apostas ao longo de todo este mês que passou?

Agora, se me perguntarem, acho que há muita estupidez a vir à tona com a vitória da moça.
Aparentemente ninguém gosta da música, que é parva, que é música carrinho-de-choque, que não tem conteúdo e tal, que a gaja é uma badocha, que a música é horrível.

Pois a mim só me ficou no ouvido, a gaja é gorda.
E tanta gente que anda por aí só encher a boca a chamar gorda à miúda só porque não gostam da música.
Não há vergonha?? O que é que o aspecto tem a ver com a qualidade da música?

Parece-me que, afinal, a Eurovisão é vista por cerca de 100 milhões de pessoas que estão ali para passar um bom bocado e por outros 100 milhões de frustrados acéfalos que só sabem insultar quando não conseguem perceber. Preferem ir pelo caminho fácil porque, coitadinhos, não chegam mais mais e até um festival de canções é suficiente para despoletar o espírito suíno que desce em cada um. Já no ano passado toda a gente falava mal do Salvador, não porque fossem capazes de dizer, olha não gosto da música, não é o meu estilo, mas antes por causa do cabelo do rapaz, por causa da barba, por causa do casaco, por causa do não-se-quê, porque isso é que era muitíssimo importante, não era?

Lamento, mas de cada vez que ouço alguém seguir pelo caminho do insulto à cantora por causa de uma música que não gostam só penso no dinheiro que o Estado desperdiça com a educação destes animais da quinta e choro muito, que o dinheiro que todos os meses mando para as Finanças é todo gasto em literalmente merda com pernas.

Adiante.

Se calhar é do meu Semitismo assumido, mas parece que há sempre polémicas à volta de tudo o que meta Israel pelo meio. Ora porque a vitória foi política, ora porque foi pelo lobby, ora porque foi encomendado, ora porque é em Jerusalém, não, em Tel Aviv, não, não, em Jerusalém, porra mais a isto, já não se pode ganhar em paz.
Deixem-se de coisas, sim? Não é a ganhar a Eurovisão que se resolve nada e também não tem assim tanta força que possa mudar alguma coisa. Não sei se se lembram, mas aqui há 44 anos fez-se uma Revolução neste país usando como senha a canção que levámos à Eurovisão, demos-lhe uma conotação política e histórica como nunca nenhum país deu, e não foi por causa disso que ganhámos o que quer que seja, até há um ano atrás. Portanto, comei antes uma peça de fruta, pode ser?

Da derrota da canção portuguesa, nem me vou alongar muito. Achei injusto, porque a música nem era assim tão má nem estava assim tão mal interpretada que justificasse uma classificação tão rasca. Por amor de deus, levámos uma canção pimba DUAS VEZES à Eurovisão, mas estão a brincar comigo ou quê?! O mais triste é que este triste evento acaba por dar razão àquele invejoso do José Cid, que nunca naquela vida de triste ganhou o que quer que fosse e mesmo assim fala mal como se tivesse o rei na barriga, que não se calava a dizer que a música não prestava, como se ele e só ele pudessem alguma vez interpretar convenientemente os desígnios 'eurovisivos'. Porra mais a isto...

Por último, acho importante deixar uma nota acerca da música vencedora: ainda bem que, mesmo que não pareça, a mensagem que se pretende passar é uma imagem de força e empoderamento das mulheres. Aliás, é uma vitória para a diferença, porque, como já vimos, é muito mais relevante que ela seja gorda do que cante uma música alegre. pelo menos, e independentemente da qualidade da canção, não foi pela via fácil, como a coleguinha do Chipre, que tinha uma música de rebolanço, com direito a mamas, pernas e tudo à vista, na costumeira coisificação da figura feminina. Isso já não importa uma boi, não é, interessa é chamar nomes à garota.

Andamos há mais de um século a queimar sutiãs na rua, a lutar para poder votar e ganhar tanto como os homens e continuamos a calar e a achar muito normal que uma mulher seja enxovalhada porque tem um aspecto diferente, porque tem peso a mais ou a menos e nem pestanejamos quando vemos uma mulher a ser objectificada, porque isso é muito normal, ser gorda é que é mau para os rins, ser estúpido dá saúde.

Fiquemo-nos por aqui antes que isto se torne um discurso género farta-até-à-cona versão Eurovisão 2018.

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