terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Queixume Pós Gestacional #5

Não é segredo para ninguém que sou uma ferverosa apoiante do sistema nacional de saúde.
Toda a vida me servi dele. Toda a vida fui bem tratada, bem atendida, a tempo e com resultados bastante positivos.
Nunca me coibi de fazer boa publicidade ao serviço público e confesso que sempre tive algumas dúvidas quanto à idoneidade de uma pessoa que falasse mal gratuitamente desta  instituição.
Não digo que não existam problemas, que existem e são bastante graves, ou que as pessoas não têm de que se queixar. Não é verdade; há muito ainda que fazer e muito o que melhorar. Apenas, até à data, não tinha tido qualquer experiência no sistema nacional de saúde que não fosse boa.

Até levar o puto ao centro de saúde de Almada para fazer o teste do pézinho.
A começar pelo facto de ter que se agendar o dito teste, o que para uma coisa que tem de ser feita até ao 6º dia de vida dos petizes e haver mais bebés em Almada que couves numa horta, faz imenso sentido.

Mas o que mete mesmo nojo é o escrutínio a que nos sujeitam.
Assim que, respondendo ao que me foi perguntado, disse que tinha sido seguida, durante a gravidez, por obstetra em clínica privada foi o descalabro.
Quando disse que tinha parido no Hospital de Cascais em vez de no bendito Garcia de Orta, foi o fim. Parecia que, ao invés, havia dito que nunca fui ao médico durante os nove meses e que tinha dado à luz numa casa de banho pública.
Fui sujeita a uma série de perguntas invasivas da minha privacidade, acerca das minhas escolhas e dos profissionais que me tinham seguido. Tiveram a lata e o descaramento de me perguntar inclusivamente o porquê de ter feito semelhantes opções.

Como não ficaram de todo contentes com as respostas, mas que é isto, gente que vai ao médico onde quer, mudaram o alvo da atenção para o rapaz e fizeram-lhe uma inspecção digna do Dia da Defesa Nacional.

Escusado será dizer que implicaram com tudo: com o peso, com a roupa que trazia vestida, com o tamanho da fralda, com o modo como pousámos o ovo com o miúdo lá dentro. E fizeram questão de frizar que a minha pessoa estava a amamental mal, sem querer saber se tinha leite ou não (a verdade é que não tinha e, duas semanas depois, a merda do leite sumiu-se para nunca mais voltar, mas isso não era importante para aquela vacaria).
Resumindo, tudo fizeram e disseram para que nos sentissemos os piores pais do mundo, em especial, a porca da mãe que não tinha nada que ir parir do outro lado do rio e de arranjar a obstetra que lhe apetecia, mas onde é que isto já se viu.

Portanto, puta que pariu esta merda toda.
Anda uma pessoa, no seu inocente socialismo, a dizer maravilhas do sistema de saúde que o Estado arranjou para depois lhe calharem estas escanchadas de merda, velhas como a terra que nunca nas suas vidas miseráveis devem ter frequentado um curso de enfermagem que não fosse um dado nas Novas Oportunidades (com todo o respeito pelas Novas Oportunidades), que fodem a cabeça o pessoal mais que imberbe nestas andanças da maternidade.

Deveria ter pena delas, que não conhecem mais da vida que aquilo que a revista Maria lhes mostra ou aquilo que as pessoas dos bairros problemáticos de Almada lhes trazem, mas não tenho. Porque aposto que com as pessoas do bairro não falam elas assim, que ainda há respeito pelas classes desfavorecidas. Pelas classes mais ou menos é que não há respeito nenhum.

Para o caralho com as gentinhas de merda.
Cada vez que penso que tenho que lá voltar para porras de vacinações e o caralho, até fico com cólicas em sítios que nem sabia que era possível ter cólicas. Ainda hoje, quando fomos ao passeio das vacinas dos dois meses, uma daquelas charolesas me perguntou se já tinha marcado a consulta e que pediatra é que tinha escolhido para o puto. E tu com isso, ó desocupada dum raio? És tu que marcas as consultas ou estás à espera de  me dar lições de deveres maternais? Se calhar estavas à espera que levasse o miúdo ao médico de clínica geral que atende 56747463 crianças por dia e não toma atenção a nenhuma, como o que vocês aí têm, em vez de o levar a um pediatra, não?

Foda-se mais a isto.

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