Pois que continuo por aqui, sem grande coisa para fazer, mas a tentar, mesmo assim, manter-me ocupada com as mais variadíssimas coisas, como croché e aprendizagem de origami.
É mentira, mas podia muito bem ser a mais absoluta das verdades, se não preferisse andar sempre à procura de mais roupa para lavar, dedicar-me à decoração de interiores - actividade essa que o meu Ilustríssimo Marido apelida de trocar os potes de sítio - ler e ver todos os filmes e séries que passam na televisão. Um autêntico programa de idosa, nem mais. Até estou ligeiramente viciada na Miss Marple, por isso já se pode ver o tamanho da decadência.
Esta semana, eu e Esposo celebrámos dois anos de casamento. Para festejar em grande, organizámos um dia em cheio, que passou por ir petiscar a uns sítios em Lisboa para lá de bons entre outras actividades lúdicas.
Ora, a minha pessoa pode estar grávida até à rotunda da Centro Sul, mas não deixa de ser a mesma vaidosona que sempre foi. Maneiras que achei conveniente e bom de ver vestir a melhor farpela que neste momento consigo arranjar (uma coisa parecida com uma tenda de circo) e apostar forte e feio nos acessórios, a modos que para disfarçar o facto de parecer um hipopótamo com problemas de tiróide. E, de uma certa forma nostálgica e verdadeiramente bimba, e à semelhança do que fiz no ano passado, alguns acessórios que usei no dia do casamento propriamente dito voltam a sair à rua.
Sucede, porém, que com algumas nuances. Este ano não consegui usar muito tempo a pulseira. Anel de noivado nem pensar - já a aliança foi arrumada no cofre há umas belas semanas atrás.
Mas nada me deixou mais entristecida do que não poder calçar os meus ricos sapatinhos prateados. Quer dizer, calçar ainda é como o outro, anda com eles nem que quisesse, dado o tamanho descomunal dos meus cascos. De maneira que voltei às minhas lindas sabrinas tamanho 41 que adquiri recentemente e foi um pau.
Foda-se mais a isto.
Não há direito...
Dos Incidentes, Pareceres e Vicissitudes várias. Porque "Quando a ralé se põe a pensar, está tudo perdido", lá dizia Voltaire...
quinta-feira, 29 de setembro de 2016
quarta-feira, 21 de setembro de 2016
Rien `a Faire
Continuo por aqui, fazendo qualquer coisa no meio do caminho.
Por exemplo, estou a tentar há cerca de 7 dias concluir uma porra de um recurso que não tem pés nem cabeça. Certo é que ainda tenho tempo mas, pelo sim, pelo não, não vá o tédio e a preguiça apoderarem-se de mim, lá vou escrevendo umas palavrinhas de cada vez. O que me apetecia mesmo era mandar o caraças do recurso pela janela fora, tamanhos são os fundamentos que se encontram, mas sempre é melhor que olhar para o tecto sem fazer um rabo de um boi.
Estou também a tentar, há cerca de 4748938 dias, acabar de lavar e passar toda a roupa do petiz. Porém, cada vez que penso que vejo o fundo ao tacho e que aquela sim, é a última máquina que faço, há sempre uma avestruz que me oferece mais qualquer coisinha para o menino (não estou a ser mal agradecida, atenção) e toca de lavar tudo, por tudo a secar, esperar que seque devidamente e ir passando tudo a eito. Por este andar, devo ter texteis para ir vender à feira da Ladra quando o puto for para a escola.
Tenho também lido livros daqueles mesmo bons e visto filmes daqueles para lá de espectaculares, mas o meu jeitinho para trabalhar com aparelhos tecnológicos que não sejam computadores da pré-história, como aqueles a que estou habituada, é obviamente fora de série, por isso nem as imagens do que leio e vejo sou capaz de pespegar aqui, portanto, bardamerda.
Fora isso, tudo jóia.
Por exemplo, estou a tentar há cerca de 7 dias concluir uma porra de um recurso que não tem pés nem cabeça. Certo é que ainda tenho tempo mas, pelo sim, pelo não, não vá o tédio e a preguiça apoderarem-se de mim, lá vou escrevendo umas palavrinhas de cada vez. O que me apetecia mesmo era mandar o caraças do recurso pela janela fora, tamanhos são os fundamentos que se encontram, mas sempre é melhor que olhar para o tecto sem fazer um rabo de um boi.
Estou também a tentar, há cerca de 4748938 dias, acabar de lavar e passar toda a roupa do petiz. Porém, cada vez que penso que vejo o fundo ao tacho e que aquela sim, é a última máquina que faço, há sempre uma avestruz que me oferece mais qualquer coisinha para o menino (não estou a ser mal agradecida, atenção) e toca de lavar tudo, por tudo a secar, esperar que seque devidamente e ir passando tudo a eito. Por este andar, devo ter texteis para ir vender à feira da Ladra quando o puto for para a escola.
Tenho também lido livros daqueles mesmo bons e visto filmes daqueles para lá de espectaculares, mas o meu jeitinho para trabalhar com aparelhos tecnológicos que não sejam computadores da pré-história, como aqueles a que estou habituada, é obviamente fora de série, por isso nem as imagens do que leio e vejo sou capaz de pespegar aqui, portanto, bardamerda.
Fora isso, tudo jóia.
quarta-feira, 14 de setembro de 2016
Queixume Gestacional #8
E pronto, como não havia mais nada que fazer, nem mais em que pensar, entenderam por bem deixar-me a repousar.
Maneiras que estou de baixa, assim numas férias um tanto forçadas.
Isto porque parece que a piscina que aloja o meu rebento está a ficar sem água e, segundo o que me informaram, não é lá muito bom. Portanto, toca de vir para casa, descansar e hidratar para manter o bezerrinho o maior tempo possível no forninho.
Escusado será dizer que estou profundamente emocionada.
Ando sempre a inventar coisas para fazer para não cair no tédio da indolência e da ansiedade. Até agora tem corrido bem, mas deve ser só porque só passaram dois dias.
Resta saber o que vou fazer no resto do tempo...
Coçar-me, provavelmente.
Maneiras que estou de baixa, assim numas férias um tanto forçadas.
Isto porque parece que a piscina que aloja o meu rebento está a ficar sem água e, segundo o que me informaram, não é lá muito bom. Portanto, toca de vir para casa, descansar e hidratar para manter o bezerrinho o maior tempo possível no forninho.
Escusado será dizer que estou profundamente emocionada.
Ando sempre a inventar coisas para fazer para não cair no tédio da indolência e da ansiedade. Até agora tem corrido bem, mas deve ser só porque só passaram dois dias.
Resta saber o que vou fazer no resto do tempo...
Coçar-me, provavelmente.
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Do Estabelecimento da Maternidade
quinta-feira, 8 de setembro de 2016
Queixume Gestacional #7
Hoje é um dia triste, a juntar aos dias tristes que ultimamente me têm calhado em sorte.
Hoje actua no Coliseu dos Recreios uma das minhas bandas favoritas, Nightwish, e não vou poder estar presente.
Tudo porque as andorinhas que organizaram o espectáculo não têm lugares sentados nem fazem excepções para quem está grávida até às orelhas, como diz o meu Ilustre Esposo.
E eu, coitadinha de mim, que pareço a Mãe Terra de tão grande que estou, com os meus cascos inchados a níveis elefânticos, não tenho condições de suportar duas ou três horas de concerto, mais o tempo de espera, mais as filas, mais os empurrões e o possível moche que possa haver, ainda para mais depois de um dia de trabalho em cima do pêlo.
E tenho pena, muita pena. Tenho a certeza que será um concerto incrível, absolutamente memorável e que deixará saudades, mais que não seja porque estes caramelos têm a mania de vir a Portugal de dez em dez anos.
Enfim, o que é a parentalidade senão um sem fim de sacrifícios em nome do bem estar dos rebentos?
(Se o puto me sair a ouvir música pop, vai haver barafunda, caralho!)
Hoje actua no Coliseu dos Recreios uma das minhas bandas favoritas, Nightwish, e não vou poder estar presente.
Tudo porque as andorinhas que organizaram o espectáculo não têm lugares sentados nem fazem excepções para quem está grávida até às orelhas, como diz o meu Ilustre Esposo.
E eu, coitadinha de mim, que pareço a Mãe Terra de tão grande que estou, com os meus cascos inchados a níveis elefânticos, não tenho condições de suportar duas ou três horas de concerto, mais o tempo de espera, mais as filas, mais os empurrões e o possível moche que possa haver, ainda para mais depois de um dia de trabalho em cima do pêlo.
E tenho pena, muita pena. Tenho a certeza que será um concerto incrível, absolutamente memorável e que deixará saudades, mais que não seja porque estes caramelos têm a mania de vir a Portugal de dez em dez anos.
Enfim, o que é a parentalidade senão um sem fim de sacrifícios em nome do bem estar dos rebentos?
(Se o puto me sair a ouvir música pop, vai haver barafunda, caralho!)
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Do Estabelecimento da Maternidade
quarta-feira, 7 de setembro de 2016
Ai Sim?
Tenho a infelicidade de trabalhar num escritório em que o patronato, depois de ter, durante as férias, deixado crescer uma barbinha sinistra, com a mania que é hipster, a meio do dia, atira com os sapatos e as meias para um canto e anda de chanatas de praia, para trás e para a frente, todo contente porque é bué rebelde.
E você?
E você?
Miss You So Much
Ainda não me consegui habituar.
Já passou uma semana e tenho sempre a sensação de o estar a ver em toda a parte. Quando olho de novo, afinal, era só um saco tombado a um canto, uma sombra de um casaco, uma partida que o cérebro pregou.
Ainda o oiço a esgravatar a caixa da areia ou a arranhar o sofá e os tapetes. Só para depois perceber que é só o frigorífico a fazer um barulho qualquer ou a vizinha de cima a andar pela casa ou as obras do 4º andar.
Ainda estou à espera de o ver pendurado na banheira quando puxo a cortina do duche para o lado.
Ainda vou todos os dias espreitar debaixo das mesas, no assento das cadeiras, e acho sempre que o vejo lá deitado a dormir. Só para depois perceber que nem mesmo querendo o consigo ver de novo.
Não me consigo habituar.
Não consigo compreender o que se passou.
Não consigo.
Ainda não consigo.
Já passou uma semana e tenho sempre a sensação de o estar a ver em toda a parte. Quando olho de novo, afinal, era só um saco tombado a um canto, uma sombra de um casaco, uma partida que o cérebro pregou.
Ainda o oiço a esgravatar a caixa da areia ou a arranhar o sofá e os tapetes. Só para depois perceber que é só o frigorífico a fazer um barulho qualquer ou a vizinha de cima a andar pela casa ou as obras do 4º andar.
Ainda estou à espera de o ver pendurado na banheira quando puxo a cortina do duche para o lado.
Ainda vou todos os dias espreitar debaixo das mesas, no assento das cadeiras, e acho sempre que o vejo lá deitado a dormir. Só para depois perceber que nem mesmo querendo o consigo ver de novo.
Não me consigo habituar.
Não consigo compreender o que se passou.
Não consigo.
Ainda não consigo.
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Lado Contrário do Espelho
terça-feira, 6 de setembro de 2016
Nonsense Talking ... Nº Qualquer Coisa
(Depois de, à vontade, uns dez minutos a conversar, o cliente olha para mim, muito admirado)
- Ah, a Dra. está grávida?!
- Não, é um problema de gases.
- Oh... a sério?!
- Não, claro que não, homem! Estou grávida, sim!
- Ah, bem me parecia.
Um génio, este...
- Ah, a Dra. está grávida?!
- Não, é um problema de gases.
- Oh... a sério?!
- Não, claro que não, homem! Estou grávida, sim!
- Ah, bem me parecia.
Um génio, este...
Queixume Gestacional #6
A verdadeira merda toda desta situação é que, não obstante, continuo com uma fome de loba e só consigo desocupar a mente de coisas negras e tristes se pensar em queijadas.
Daquelas desta terra, que vêm embrulhadas em papel pintalgado.
Às vezes tão secas que parece que foram ao forno duas ou três vezes até ficarem tipo cortiça.
Daquelas que são cada vez mais pequenas e cada vez que se abre um pacotinho só apetece pegar nas putas das queijadas e pregar com elas nas ventas de quem as vendeu.
Queijadas da terra do demo, portanto.
Merda para mim.
Daquelas desta terra, que vêm embrulhadas em papel pintalgado.
Às vezes tão secas que parece que foram ao forno duas ou três vezes até ficarem tipo cortiça.
Daquelas que são cada vez mais pequenas e cada vez que se abre um pacotinho só apetece pegar nas putas das queijadas e pregar com elas nas ventas de quem as vendeu.
Queijadas da terra do demo, portanto.
Merda para mim.
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Do Estabelecimento da Maternidade
domingo, 4 de setembro de 2016
sábado, 3 de setembro de 2016
sexta-feira, 2 de setembro de 2016
quinta-feira, 1 de setembro de 2016
I Love You, Lenine
Entre todos os dias estranhos que já passei, nunca nada se assemelha aos dias de perda.
Perda.
Essa palavra estúpida, tão vaga e ao mesmo tempo tão tenebrosa, que aprendi a temer mais do que qualquer outra coisa, mais do que o fim da minha própria existência.
Perda.
Esse vazio avassalador, essa montanha russa de desespero e solidão. Essa porta negra que se abre e nunca mais se fecha.
Perda.
Ontem perdi um amigo. Um grande amigo. O melhor dos amigos. Estava destinado a ser também o melhor amigo do meu filho por nascer. Estava destinado a ser a nossa imagem de marca para toda a vida. Estava destinado a ser o dono da nossa casa para todo o sempre. Mas partiu antes de tempo, muito antes do tempo dele e muito, muito antes do que pudéssemos esperar. De repente veio a doença que não pudemos prever e, num ápice, veio a morte, que o envolveu no seu abraço, o tocou com as suas enormes asas e o levou, levou para longe, para longe de mim, para longe da casa que era dele, para longe de todos nós, que o amávamos como se fosse um igual.
Ontem perdi um familiar, dos mais próximos. Um familiar equivalente a pai, mãe, marido, filho, avós que já não tenho, irmãos que nunca tive. Perdi o primeiro fruto de amor, construído por mim e por Ele, a primeira pedra do nosso lar. Perdi aquele que estava destinado a ser a primeira companhia da outra parte de nós que está a chegar. Desculpa, Filho, que te privei do conforto, do carinho e do calor do nosso felpudo, que te teria adorado e teria adorado mordiscar-te os pés, acordar-te cedo para brincar ou enfiar-te o nariz húmido no ouvido logo pela fresca.
Ontem perdi uma parte de mim. E agora só resta vazio e solidão onde ele um dia esteve. Vagueio pela casa à sua procura, tão grande sem a sua presença pequenina, só encontro restos onde ele tocou, onde ele brincou e onde um dia dormiu sossegadamente. Ele esteve aqui e agora partiu. Foi-se. Foi-se embora para sempre, para um lugar muito, muito longe, para um sítio para o qual não o posso acompanhar, onde não o voltarei a ver. Foi descansar longe da sua casa, longe dos sítios que sempre conheceu, longe de mim. Longe de mim.
Ontem pedi ajuda. Olhei para cima e pedi ajuda, pela primeira vez em muitos anos. Um sinal, pensei, um milagre, um só milagre e eu converto-me, passo a seguir e a adorar quem quer que me esteja a ouvir. Por favor. Mas ninguém ouviu. Ninguém quis saber. Ninguém veio em meu auxílio, nem meu nem dele, que se finou com todo o peso do sofrimento do mundo nas suas costas pequeninas. Ninguém veio porque não havia ninguém para vir. E eu, que quis acreditar, por um minuto, um segundo que fosse que havia compaixão e amor no universo e que tudo o que a racionalidade me diz seria tudo mentira, fui enganada e deixada à minha sorte. Bem aventurados os que têm fé, porque nunca estão verdadeiramente sozinhos, têm sempre a esperança consigo.
Ontem perdi-me. Perdi-o. Para sempre. E eu, que já sofri tantas perdas, a quem já foram roubadas tantas presenças importantes, que assisti ao sofrer e definhar de tantas pessoas boas e de uma riqueza extraordinária que preencheram a minha vida de uma forma única, nunca me senti tão derrotada, tão devastada, tão sozinha, tão impotente e tão miserável como hoje.
Hoje. Hoje a vida parece continuar. Aparentemente, apenas. Para mim, parece que parei no tempo, num tempo negro, fundo, insondável, incerto, interminável, onde algures, no fim dessa estrada, está ele e a sua presença que já não posso sentir, apenas recordar.
Adeus, meu amor pequenino.
Adeus, Lenine.
Perda.
Essa palavra estúpida, tão vaga e ao mesmo tempo tão tenebrosa, que aprendi a temer mais do que qualquer outra coisa, mais do que o fim da minha própria existência.
Perda.
Esse vazio avassalador, essa montanha russa de desespero e solidão. Essa porta negra que se abre e nunca mais se fecha.
Perda.
Ontem perdi um amigo. Um grande amigo. O melhor dos amigos. Estava destinado a ser também o melhor amigo do meu filho por nascer. Estava destinado a ser a nossa imagem de marca para toda a vida. Estava destinado a ser o dono da nossa casa para todo o sempre. Mas partiu antes de tempo, muito antes do tempo dele e muito, muito antes do que pudéssemos esperar. De repente veio a doença que não pudemos prever e, num ápice, veio a morte, que o envolveu no seu abraço, o tocou com as suas enormes asas e o levou, levou para longe, para longe de mim, para longe da casa que era dele, para longe de todos nós, que o amávamos como se fosse um igual.
Ontem perdi um familiar, dos mais próximos. Um familiar equivalente a pai, mãe, marido, filho, avós que já não tenho, irmãos que nunca tive. Perdi o primeiro fruto de amor, construído por mim e por Ele, a primeira pedra do nosso lar. Perdi aquele que estava destinado a ser a primeira companhia da outra parte de nós que está a chegar. Desculpa, Filho, que te privei do conforto, do carinho e do calor do nosso felpudo, que te teria adorado e teria adorado mordiscar-te os pés, acordar-te cedo para brincar ou enfiar-te o nariz húmido no ouvido logo pela fresca.
Ontem perdi uma parte de mim. E agora só resta vazio e solidão onde ele um dia esteve. Vagueio pela casa à sua procura, tão grande sem a sua presença pequenina, só encontro restos onde ele tocou, onde ele brincou e onde um dia dormiu sossegadamente. Ele esteve aqui e agora partiu. Foi-se. Foi-se embora para sempre, para um lugar muito, muito longe, para um sítio para o qual não o posso acompanhar, onde não o voltarei a ver. Foi descansar longe da sua casa, longe dos sítios que sempre conheceu, longe de mim. Longe de mim.
Ontem pedi ajuda. Olhei para cima e pedi ajuda, pela primeira vez em muitos anos. Um sinal, pensei, um milagre, um só milagre e eu converto-me, passo a seguir e a adorar quem quer que me esteja a ouvir. Por favor. Mas ninguém ouviu. Ninguém quis saber. Ninguém veio em meu auxílio, nem meu nem dele, que se finou com todo o peso do sofrimento do mundo nas suas costas pequeninas. Ninguém veio porque não havia ninguém para vir. E eu, que quis acreditar, por um minuto, um segundo que fosse que havia compaixão e amor no universo e que tudo o que a racionalidade me diz seria tudo mentira, fui enganada e deixada à minha sorte. Bem aventurados os que têm fé, porque nunca estão verdadeiramente sozinhos, têm sempre a esperança consigo.
Ontem perdi-me. Perdi-o. Para sempre. E eu, que já sofri tantas perdas, a quem já foram roubadas tantas presenças importantes, que assisti ao sofrer e definhar de tantas pessoas boas e de uma riqueza extraordinária que preencheram a minha vida de uma forma única, nunca me senti tão derrotada, tão devastada, tão sozinha, tão impotente e tão miserável como hoje.
Hoje. Hoje a vida parece continuar. Aparentemente, apenas. Para mim, parece que parei no tempo, num tempo negro, fundo, insondável, incerto, interminável, onde algures, no fim dessa estrada, está ele e a sua presença que já não posso sentir, apenas recordar.
Adeus, meu amor pequenino.
Adeus, Lenine.
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