quinta-feira, 23 de junho de 2016

Queixume Gestacional #1

A primeira coisa que fiz quando descobri que carregava uma nova vida na minha pança foi deixar de fumar.
E por acaso, nos primeiros tempos, e para minha própria surpresa, foi coisa que não me custou nada; de um dia para o outro, a bolsa do tabaco foi arrumada numa gaveta, juntamente com os 257895 isqueiros e nunca mais pensei no assunto. O que, para quem fuma há 15 anos, foi um feito e tanto.

Claro que nessa altura passava meio dia com a cabeça enfiada na pia a vomitar todo o conteúdo do estomago até ao sangramento, sendo que a outra metade era passada enjoada como uma pescada, evitando até beber porque até a porra da água me dava vómitos. Portanto, pensar em fumar não estava nos meus planos mais próximos.

E nisto entrei no 2º trimestre. Deixei de ter vómitos, deixei de ter enjoos, deixei de parecer uma bulímica em fase aguda. E continuei a deixar os cigarros de lado.

Porém, sinto a falta do tabaco como se não houvesse amanhã.
Quando ninguém está a ver, ganhei o hábito de esgueirar-me para as salas dos meus colegas fumadores e enfiar o nariz nos maços de tabaco que guardam nas gavetas ou deixam em cima das mesas, inalando profundamente aquele aroma divino, matando, com o nariz, as saudades dos tempos em que me armava em chaminé da siderurgia.

Nunca mais acendi um cigarro. Nunca mais dei uma passinha que fosse.

E, porra, tenho tantas saudades.

Há uma avestruz aqui no escritório que teima comigo que eu devia fumar porque assim passo a vida ansiosa e isso passa para o puto. Ainda me explicarão convenientemente esta teoria... Não fumo na mesma. O meu guilty pleasure passa agora por cheirar ao longe, muito ao longe, o fumo que os outros expelem. Whatever.

Porém, nunca o tabaco me fez tanta falta como quando tenho picos de trabalho e preciso severamente de me concentrar.

Por exemplo, agora; tenho uma merda dum recurso para acabar, chato, enfadonho, difícil, sem fundamento.
A inspiração não vem. Antes, ia lá fora, fumava dois ou três cigarros e quando me voltava a sentar, em frente ao computador, sabia mais ou menos o que escrever.

Agora, levanto-me e vou lá fora na mesma, mas dou três voltas ao jardim e volto para dentro, frustrada e completamente vazia de novos pensamentos jurídicos.


Moral da história: ainda surgirá uma nova teoria médica em que, para além de associarem o tabaco a uma data de malefícios para a saúde, ainda o vão relacionar com uma inteligência maior e descoberta de novas invenções ou qualquer porra que o valha.

Podem crer.

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