quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Saga Luz e Escuridão



Anda por aí uma febre de vampiragem. Na literatura, entenda-se.
Por todo o lado só se vêem livros e mais livros sobre a temática, uns que todos conhecem, outros clássicos, outros de autores que enriqueceram à conta das personagens com dentinhos aguçados, outros que só de olhar para a capa da vontade de proibir a liberdade de expressão. Enfim, para todos os gostos, para todas as medidas de personalidades, para todos os bolsos ( uns mais que outros... ).

De repente, tudo o que é gente leu alguma coisa sobre vampiros nos últimos tempos, e anda-me tudo de cabeça às voltas por causa do Robert Pattinson, ou lá como se chama o Cedric do Harry Potter... Por estas bandas, também se leu qualquer coisa sobre vampiros, mas sem nunca chegar a pegar no motivo do vendaval vampírico, que é como quem diz Stephenie Meyer e a sua saga Luz e Escuridão, basicamente por duas razões, uma de preservação de neurónios, outra por já saber o que a casa gasta.

Como boa menina, li há uns tempos Nómada, da mesma autora, para ficar com uma ideia da escrita e do estilo da senhora, para não falar mal gratuitamente só porque se arma em intelectual.
O resultado foi desastroso. Não é que a senhora escreva mal, até tem jeito para prender o leitor, para o fazer virar febrilmente as páginas, tentando chegar ao fim da história. O problema é exactamente o conteúdo, que é zero, principalmente em Nómada, que não tem nada para contar a não ser que o mundo foi invadido por aliens que se montam no rabo dos humanos e passam a ser eles, e entretanto há uma rapariga que resiste. E de resto não há mais nada.
Tinha-se toda a relutância em gastar tempo e dinheiro a ler mais livros que falem do nada. E a febre continuava, e depois chegaram os filmes adaptados, e já vem outro a caminho. Perde-se a paciência, e ainda por cima nem se pode participar no “debate” porque nem falar mal se pode...porque não se conhece.

Graças aos queridos R. e R., que me livraram de uma vida apartada de vampiros, da pobreza, porque comprar aqueles livros todos era bancarrota na certa e da ignorância, leu-se tudo de uma assentada.



Er... enfim, é qualquer coisa melhor que Nómada. Não que a história faça muito sentido, vampiros e tal, mas tem quase aquele envolvimento a la Potter, dos mitos inseridos na vida normal de todos os dias, dando a sensação que poderia ser real. O elemento bom da escrita da autora está lá, é cativante, prende o leitor até ao fim. Não é muito profunda, mas não se crê que isso seja importante para a novela em questão.
Já as personagens, algumas são de se lhe tirar o chapéu, em alguns casos, outros, de se lhes enfiar o chapéu pela cabeça abaixo e mandá-los conduzir um camião a seguir.

Desde quando é que existem vampiros vegetarianos e bonzinhos? Só mesmo para se poder dizer que ele, vampirão, é o bom da história... São vampiros, a natureza deles é atacar pessoas porque precisam de comer, não me parece que alguém levasse a mal se o fizessem, bolas!
Bella Swan é uma maricas, sedenta de atenção e amor ( depressa, um balde, vou vomitar ) e uma cobardolas do pior, que está sempre prestes a desfalecer quando a acção está no auge, já para não falar na quantidade de vezes em que arranja maneira de cair num buraco. Gosta tanto do vampirão que mal consegue respirar, que morre sem ele, que a sua alma se despedaça ( réplica do vómito ), em resumo, uma galinha tonta; depois de ser transformada em vampira, é a maior. Toda boa, confiante, contida, madura, forte e poderosa... tanta coisa com os vampiros recém-nascidos serem maus e incontroláveis, que andam por aí a morder e a arranhar toda a gente, e depois a senhora é mansa que nem um cordeiro, porque se controla e sabe que não o deve fazer... Uau.
Já o vampirão, Edward, é outro galinha, sempre a protegê-la de tudo e mais alguma coisa, parece mais pai dela que qualquer outra coisa.
E depois há o lobisomem, Jacob, aquela personagem que merecia um tacho de água a ferver pelas ventas abaixo... a sério, quem é que cria uma personagem tão estúpida, céus??? Cheio de fanfarronice, idiota e sem miolos; ainda me hão de explicar se Bella gostava tanto do vampirão, qual é a cena com o lobisomem? Quase morreu quando Edward a abandona, pois vai-se logo pendurar no pescoço do outro, e fica triste por magoá-lo, fica toda dividida e faz um grande drama quando tem de escolher entre os dois.
Escolher entre os dois??? Mas então e o amor infinito pelo vampiro? Pois.
A melhor parte disto é que quando ela é transformada em vampira, o lobisomem é só amiguinho e mais nada... e ainda no que diz respeito ao lobo malcheiroso, vai-se logo apaixonar pela filha de Bella e Edward mal ela nasce ( uma coisa qualquer relacionada com instinto animal, que se manifesta quando menos se espera ), que tem um nome estrambólico, mesmo que cresça rapidamente, não era de esperar que alguém lhe chegasse a roupa ao pêlo? Mesmo a sério, para o matar a pô-lo a andar da história? Bella ainda tenta fazê-lo, mas depois dá em coisa nenhuma, porque matar é errado e la-la-la. Ora bolas, raio de moralismo estúpido!

Mas o moralismo idiota toma o grande destaque no que toca a sexo.
Nunca se viu tanto preconceito implícito; aquela conversa do tradicionalismo do vampiro, que tem cento e tal anos, serve muito bem para camuflar o preconceito e o cinismo, podre, falso do americano típico. Muito liberais, tão à frente, tão modernos, e depois sexo só depois do casamento, transmitindo o que realmente pensam numa história educativa para jovens mentes. Hipócritas dum raio! Só há cenas verdadeiramente ardentes depois do casamento, quando as duas almas se unem como iguais... Nem se sabe como as personagens sobreviveram às aulas de educação sexual na escola...




No fim, quando a história se encaminha para a acção, pura e dura, tudo se resume ao diálogo, e ao sacrifício de Bella.
Aqui, crê-se que a autora leu Harry Potter de mais, e que se inspirou vergonhosamente no poder do amor e do sacrifício do feiticeiro inglês adaptando-a alegremente à história da vampira palerma.
E viveram felizes para sempre, claro está.

Enfim, assim caminha a literatura vampiresca.
O conceito não deixa de ser interessante, e é sempre bom ler sobre as fantasias mais negras na cabeça de um escritor.
Não dá para esquecer que é um livro para jovens, mais que não seja pelas mensagens escondidas de moral e bons costumes, pela pouca profundidade de algumas personagens, pela previsibilidade do final.

É a vampiragem nas ruas.

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