Dos Incidentes, Pareceres e Vicissitudes várias. Porque "Quando a ralé se põe a pensar, está tudo perdido", lá dizia Voltaire...
terça-feira, 30 de abril de 2019
quarta-feira, 24 de abril de 2019
terça-feira, 23 de abril de 2019
Meanwhile in Érgástulo - Parte Vigésima Primeira
Na senda do queixume infra, poderá pensar-se que sou, ao fim e ao cabo, uma ingrata da quinta casa e uma preguiçosa sem vergonha.
Isto porque sua excelência o patronato acabou, afinal, por nos dar a tarde de quinta-feira santa.
Não sem antes, como está bom de ver e daí o presente queixume, nos lixar o esquema, bem lixadinho.
Foi o povão todo almoçar, a arrastar-se e de trombas por sermos as únicas avestruzes a trabalhar naquela tarde.
Foi tudo para o café arrastar-se mais um bocado porque a vontade de trabalhar não existia e nada foi feito para a fazer regressar.
Estávamos tristemente a regressar quando nos salta o velho patrão ao caminho.
'Que estão a fazer aqui?', pergunta aquela andorinha idosa. Estamos a vender perus, Sr. Dr., como está bom de ver. 'Nós vamos fechar à tarde, ninguém vos avisou, ninguém vos disse nada?', questiona com algum espanto.
Não, estupor de velho, quem é que haveria de nos avisar que temos a tarde livre senão o próprio chefe dos macacos, não me dizes? E depois ainda põe aquela cara de fronha enrugada, como quem não tem nada a ver com o assunto.
E assim se perde, à vontade, hora e meia de mini-férias.
Ser velho é muito triste, é só o que tenho a dizer.
Foi aqui que vim parar.
Isto porque sua excelência o patronato acabou, afinal, por nos dar a tarde de quinta-feira santa.
Não sem antes, como está bom de ver e daí o presente queixume, nos lixar o esquema, bem lixadinho.
Foi o povão todo almoçar, a arrastar-se e de trombas por sermos as únicas avestruzes a trabalhar naquela tarde.
Foi tudo para o café arrastar-se mais um bocado porque a vontade de trabalhar não existia e nada foi feito para a fazer regressar.
Estávamos tristemente a regressar quando nos salta o velho patrão ao caminho.
'Que estão a fazer aqui?', pergunta aquela andorinha idosa. Estamos a vender perus, Sr. Dr., como está bom de ver. 'Nós vamos fechar à tarde, ninguém vos avisou, ninguém vos disse nada?', questiona com algum espanto.
Não, estupor de velho, quem é que haveria de nos avisar que temos a tarde livre senão o próprio chefe dos macacos, não me dizes? E depois ainda põe aquela cara de fronha enrugada, como quem não tem nada a ver com o assunto.
E assim se perde, à vontade, hora e meia de mini-férias.
Ser velho é muito triste, é só o que tenho a dizer.
Foi aqui que vim parar.
sexta-feira, 19 de abril de 2019
quinta-feira, 18 de abril de 2019
Meanwhile in Ergástulo - Parte Vigésima
Ao velho patrão deu-lhe uma ventania na carapuça e resolveu presentear o proletariado com um dia de folga, à escolha entre a segunda-feira de Páscoa e a sexta-feira seguinte, que calha entre um feriado e o fim de semana. Sem desarmonias quanto à escolha, feita entre colegas, está tudo a esfregar as mãozinhas de contentamento. Afinal, houve um progresso significativo do ano passado para este: no ano anterior, foi-nos dada a tarde de quinta-feira santa, com má vontade e trombas até ao chão. Este ano, desfrutamos de um dia INTEIRO à nossa escolha para borregarmos alegremente!
Óptimo.
Excelente.
Maravilhoso.
Fantástico.
Para lá de estupendo.
Não que me esteja a queixar, nem nada que se pareça (estou, pois).
Quem de dera que todos os anos se lembrasse de ser generoso como está agora a ser.
Quem de dera que todos os anos se lembrasse de ser generoso como está agora a ser.
Porém, há que ser pragmático.
Nada está a funcionar hoje.
Nada.
Absolutamente nada.
Nem instituições públicas ou privadas.
Ninguém trabalha nesta cidade.
Neste edifício, somos os únicos que cá estamos.
Custa muito mais ter esta espelunca a funcionar, com os gastos de água e energia, do que fechar as portas - para todos - um mísero dia.
É que, embora o pessoal seja exímio na arte de disfarçar e fingir que tem imenso trabalho, todos sabemos que não há grande coisa para fazer - basta ver a facilidade e a descontração com que toda a gente se encosta aos umbrais das portas das salas uns dos outros, a conversar sobre a falta de gasolina e os folares da Páscoa.
Portanto, estamos a consumir recursos a fingir que trabalhamos, o que não deixa de ser cómico, é evidente, mas também é só parvo.
Moral da história: O QUE É QUE ESTAMOS TODOS AQUI A FAZER, CARALH*?
Foi aqui que vim parar.
quarta-feira, 17 de abril de 2019
segunda-feira, 15 de abril de 2019
terça-feira, 9 de abril de 2019
Meanwhile In Ergástulo - Parte Décima Nona
Neste sítio do demo, há, nada mais, nada menos, que 4 casas-de-banho, duas a cada ponta do escritório.
Obviamente, o proletariado, para despachar a coisa e não perder meio ano com as calças na mão e cu sentado na pia, serve-se da latrina que estiver mais próxima do seu gabinete.
A não ser que vá cagar, porque, nesse caso, vão à casa-de-banho mais longe, para não se darem à morte.
Digo eu, depois de longa observação, já que claramente parece que não tenho o que fazer.
Foi aqui que vim parar.
Obviamente, o proletariado, para despachar a coisa e não perder meio ano com as calças na mão e cu sentado na pia, serve-se da latrina que estiver mais próxima do seu gabinete.
A não ser que vá cagar, porque, nesse caso, vão à casa-de-banho mais longe, para não se darem à morte.
Digo eu, depois de longa observação, já que claramente parece que não tenho o que fazer.
Foi aqui que vim parar.
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Isto Só a Mim...,
Piadas de Propriedade Privada
sexta-feira, 5 de abril de 2019
Esta semana, tive a (in)felicidade de encontrar a minha antiga entidade patronal num qualquer tribunal desta ilustre comarca da metrópole.
Vinha com a sua nova prole, uma pobre miúda, verdinha até na pele, que foi apresentada como a minha estagiária. Sem qualquer laivo de personalidade própria, como está bom de ver.
Depois dos cumprimentos da praxe, vira-se para a moça e, referindo-se à minha pessoa, diz-lhe: "Está a ver aqueles processos todos mal feitos que estão para lá no escritório? Foi esta senhora que os fez."
Devia ter-lhe, nessa altura dito, que o tempo dele de lançar bocas ordinárias e de me espezinhar já tinha acabado, que era por causa daquela conduta miserável que toda a gente que trabalhava com ele o tinha deixado, que por causa da maldade intrínseca e da falta de calor humano tinha uma sociedade que destruiu e que agora estava fadado a trabalhar sozinho, como um reles advogado de vão de escada, coisa que criticou durante anos e alto e bom som.
Mas, feita estúpida, não fiz nada disso.
Limitei-me a rir e a simular pressa, que tinha mais que fazer.
Mas arrependi-me de não ter dito nada.
Porque agora ando a remoer estas merdas e nunca mais tenho sossego interno.
Merda para mim.
Vinha com a sua nova prole, uma pobre miúda, verdinha até na pele, que foi apresentada como a minha estagiária. Sem qualquer laivo de personalidade própria, como está bom de ver.
Depois dos cumprimentos da praxe, vira-se para a moça e, referindo-se à minha pessoa, diz-lhe: "Está a ver aqueles processos todos mal feitos que estão para lá no escritório? Foi esta senhora que os fez."
Devia ter-lhe, nessa altura dito, que o tempo dele de lançar bocas ordinárias e de me espezinhar já tinha acabado, que era por causa daquela conduta miserável que toda a gente que trabalhava com ele o tinha deixado, que por causa da maldade intrínseca e da falta de calor humano tinha uma sociedade que destruiu e que agora estava fadado a trabalhar sozinho, como um reles advogado de vão de escada, coisa que criticou durante anos e alto e bom som.
Mas, feita estúpida, não fiz nada disso.
Limitei-me a rir e a simular pressa, que tinha mais que fazer.
Mas arrependi-me de não ter dito nada.
Porque agora ando a remoer estas merdas e nunca mais tenho sossego interno.
Merda para mim.
Ai Sim?
Um destes dias, feita ursa, deixei o telemóvel em casa, com a pressa de sair e chegar a horas aos sítios, coisa muito comum nos seres humanos assalariados.
Como o mundo foi evoluindo, nada se faz se não se tiver um telemóvel à mão.
E não, não se trata somente de não saber o que se faz com as mãos quando se está parado, é mesmo uma necessidade básica. Por exemplo, já não se pode usar confortavelmente o homebanking de certas instituições bancárias porque o sucesso de uma transacção depende da inserção de um código enviado, através de sms, para o dito telemóvel.
Isto tudo para dizer que precisei de pagar umas contas e não consegui usar o homebanking porque deixei a porra do telefone em casa.
Então tive que usar a porra de um multibanco.
E fazer a triste figura que passo a vida a maldizer, de uma autêntica idosa a pagar 20 contas na máquina e a deixar atrás de si uma fila interminável de pessoas que bufam e desesperam.
No fim, a pagar uma conta qualquer, saiu-me, disparada pela boca fora, qual velha sem filtro, um eloquentíssimo "que gatunagem esta". Só para depois me arrepender de o ter dito em voz alta, já que estava atrás de mim uma senhora que, ouvindo a estupidez, se começa a rir sozinha.
E assim acaba a minha dignidade e moral para falar dos velhos, dado que cada vez mais, sou um deles.
Não há salvação para mim.
E você?
Como o mundo foi evoluindo, nada se faz se não se tiver um telemóvel à mão.
E não, não se trata somente de não saber o que se faz com as mãos quando se está parado, é mesmo uma necessidade básica. Por exemplo, já não se pode usar confortavelmente o homebanking de certas instituições bancárias porque o sucesso de uma transacção depende da inserção de um código enviado, através de sms, para o dito telemóvel.
Isto tudo para dizer que precisei de pagar umas contas e não consegui usar o homebanking porque deixei a porra do telefone em casa.
Então tive que usar a porra de um multibanco.
E fazer a triste figura que passo a vida a maldizer, de uma autêntica idosa a pagar 20 contas na máquina e a deixar atrás de si uma fila interminável de pessoas que bufam e desesperam.
No fim, a pagar uma conta qualquer, saiu-me, disparada pela boca fora, qual velha sem filtro, um eloquentíssimo "que gatunagem esta". Só para depois me arrepender de o ter dito em voz alta, já que estava atrás de mim uma senhora que, ouvindo a estupidez, se começa a rir sozinha.
E assim acaba a minha dignidade e moral para falar dos velhos, dado que cada vez mais, sou um deles.
Não há salvação para mim.
E você?
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