terça-feira, 12 de outubro de 2010

Hoje Sinto-me Sindicalista


E o sindicalismo é defender os interesses e direitos fundamentais de um certo grupo de pessoas. Mesmo que esse certo grupo de pessoas tenha tendência a perder os direitos pelas próprias acções. Mesmo que esse certo grupo de pessoas seja tão cego que nem se importe de sacrificar os interesses como consequência de condutas próprias.


E hoje sinto-me sindicalista.


Sindicalista de mulheres.


Que as mulheres, coitadas, são todas burras e parvinhas e não se sabem defender sozinhas, nem velar pelo que lhes é mais caro, ou sequer ter consciência dos seus actos e por isso precisam de um sindicato para serem defendidas. Que são todas umas inimputáveis, umas idiotas que precisam de ajuda em todos os quadrantes da vida para poderem caminhar decentemente.


Ora, ora, até parece que assim é! Até parece que alguma vez alguma mulher precisou do que quer que fosse para sobreviver; crê-se que está mais que provada a auto-suficiência das mulheres em toda a linha, e que a denominação de sexo fraco não passa de um incidente histórico muito triste oriundo de religiões duvidosas.


Porém, mulheres as há que são estúpidas e que fazem com que o género inteiro fique mal visto e se envergonhe de as ter no seu seio.

Mulheres as há que nem são dignas de usarem a designação de mulher.

Mulheres as há que mereciam ser desqualificadas daquilo que são.


E que não se levantem já ventos e tempestades; pessoas poucos espertas há nos dois sexos, pessoas mesquinhas e mázinhas há em todo o lado.

Do que se fala aqui é da estúpidez que parece intrincada como sujidade ressequida e que torna a estúpida que a transporta uma vergonha sem perdão, não porque seja pecado, se é que isso existe, ser estúpida, mas sê-lo de forma a que os que advogam uma fragilidade e inferioridade das mulheres tenham, de facto, razão.

E dar razão a porcos machistas e sem visão da realidade é, para além de parvo, um atentado aos direitos de qualquer pessoa.


Mas não.


Não, ora essa. O que é mesmo bom é ser submissa e ir ao encontro dos desejos dos homens, ou de outras mulheres, porque não?, fazer tudo o que eles querem, perder a dignidade e o orgulho para correr atrás mesmo que seja só para levar patadas.
O que é mesmo bom é não ter consciência, consciência do ridículo e rastejar, rastejar sempre por causa de um pouco de afecto, por causa de uma migalhas de carinho, rastejar por causa de uma afeição que nem sequer tem nada de verdadeiro.


O que é mesmo bom é ir com o vento e brincar às casinhas de papel, que são atiradas ao chão com uma rabanada de vento, e depois sobra nada, e vir, muito tristemente, queixar e chorar a sorte que nunca traz nada de bom.
O que é mesmo bom é baixar a cabeça de cada vez que há vontade de passar um bom bocado e, quando não há, sobreviver de duodécimos, qual Orçamento de Estado chumbado.


Não, não que o sindicalismo aqui não funciona. A culpa disto é toda dos homens que são uns porcalhões sem sentimentos, que apenas procuram um consolo momêntaneo, anda cá, deita-te aqui, tira a roupa, ai, ui, já está, vai à tua vida. O sindicalismo aqui não entra porque a culpa não é nossa, é da corporação masculina que comanda as nossas vidas e as desfaz como bem lhe apetece, que culpa temos nós, o sindicato devia era defender-nos desses monstros, não era vir atirar pedras quando nós é que somos as vítimas.


E o sindicato manda-vos dar uma curva. Não são os homens que são monstros, uns cabrões, uns playboyzecos baratos que andam a fazer pouco das virgens inocentes. São as meninas que de inocentes e virgens de alma não têm nada que se vestem de Ovelha Choné e se vão enfiar na cueca do Lobo. Porque, minhas filhas, o sindicato não faz nada por vocês quando são vocês as culpadas de haver tantos e tamanhos lobos.


Pois que a idade já pesa e já não permite que se ande a dormir na forma; a culpa da existência de cabrões, que me desculpem os homens, que hoje é só malhar no ceguinho, é das mulheres que deixam que eles assim sejam, que caem não na conversa do bandido que parecia bom mas que afinal era um valdevinos, mas na conversa do tratante que nunca fingiu ser o que não era.

A proliferação desta espécie de homens velhacos é da responsabilidade das mulheres intervenientes.


Hoje sinto-me sindicalista.

Tenho uma espécie de embaraço que estas mulheres andem por aí, umas vezes felizes da vida e meia hora depois na fossa séptica, por causa de tratamentos emocionais que inflingem a elas próprias, para logo a seguir se andarem a queixar da vida por causa dos homens, do mundo.

E o meu sindicalismo, da velha guarda, ultrapassado, cruel e sem sentido, leva-me a querer que estas mulheres sejam levadas ao Campo Pequeno para que façam delas o que Otelo queriam que se fizesse aos reaccionários.

O meu sindicalismo, que tem vergonha de pertencer ao mesmo grupo das que se consideram coitadinhas e por isso tudo é justificável, apela a que ao mesmo tempo as odeie, por tudo aquilo que representam, e chore por elas porque nunca vão ter melhoras.

Hoje sinto-me sindicalista. Por um sindicato que não existe porque estaria condenado ao fracasso.

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