quarta-feira, 27 de outubro de 2010

E Uma Bofa Nesses Dentes, Não?

Pois que cada um tem a sua consciência e governa a sua existência com ela.
Pois que existem normas básicas do viver social que têm necessariamente de ser respeitadas, sob pena de o infractor ir parar à pildra.

Pois que normas existem que não fazem com que o agente vá de cana, mas que aos olhos dos juízes sociais, são crimes intoleráveis e que fazem com que o prevaricador seja enfiado num pote de merda até ao pescoço.


Enfim, ter-se-á a ideia de que quando o agente infringe as normas que fazem com que não vá de cana, há uma certa impunidade, mesmo que não seja impunidade social, que já se sabe qual é o pote onde ser enfiam as pessoas que quebram regras da boa convivência social que não estão tipificadas como crime. Tipo, trair convicções, deixar os amigos em situações pouco recomendáveis, meter corninhos, não ter princípios, arrastar a asa a propriedade amorosa de outrem, etc., e apenas como exemplos não taxativos.


Problema: ninguém enfia ninguém em qualquer pote de bosta por causa de prevaricações sociais. Pelo menos, não se enfia toda a gente. Só alguns.

(Diga-se que, pois, no país do antigamente, condutas haviam que eram punidas com baldes de trampa pela cabeça abaixo e outros, igualmente mauzinhos, passavam ao lado. Porque convinha, obviamente.

E que não se venha, mais uma vez, com a conversa de que agora é uma pouca vergonha, que se pode fazer tudo e mais alguma coisa, que era um regabofe, que era exactamente igual ao que é hoje, com a (grande) diferença que antes não se falava, e agora, que miséria, temos um país livre, fala-se de tudo e mais alguma coisa.)


Quando se ouve falar de alguém que cometeu uma coisinha qualquer destas, ai meu deus, que susto e pouca vergonha, o mais usual é encolher-se os ombros, balbuciar qualquer asneira e seguir em frente como se nada fosse.


O caso muda de figura dependendo, porém, de quem é o agente prevaricador.

É que normalmente quando são os outros a fazer asneiras, como as acima enunciadas, parece que o impacto nem é assim tão grande, são coisas que acontecem, parvoíces, deixa lá, não te preocupes com isso, deixa andar, é gente que não merece sequer atenção.

Acho um piadão. Acho mesmo.

Fosse eu andar pela rua fora a encornar a torto e a direito, a trair amigos, a vender as convicções e os meus princípios, a flirtar com 500 gajos, não só toda a gente saberia automaticamente das minhas actividades ilícitas, como não hesitariam em mandar-me para a pildra, não contentes em enfiar-me somente um balde de merda pela cabeça abaixo. Toooda a gente atiraria pedras, julgaria, condenaria quando nem sequer tem nada a ver com o assunto.

Como são os outros, o que impera é mais a onda do não te chateies, que essa gente não merece.

Muito justo.

Com uns, dar a outra face. Com outros, adoptar a estratégia da mulher adúltera.

Pois sim.


Experimente-se então a estratégia da vingança, fazer aos outros o que os outros nos fazem, para ver se, no meio da maralha, passam despercebidas as más intenções.


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