terça-feira, 18 de janeiro de 2011

E Voltamos Às Mães Que, Como Diria Freud, São A Origem De Todas As Maleitas

As relações com os progenitores serão sempre complicadas, mais que não seja pelo eterno fosso entre gerações.
E, como diria o pai da psicanálise, tudo comecará pelas relações que cada um tem na infância com os pais, os famosos complexos mal resolvidos e uma série de infortúnios que completam as vidas dos seres humanos até os tranformar naquilo que eles verdadeiramente são:lixo.

O grande problema entre mim e quem me pariu foi sempre a comunicação. Não que seja só esse o problema, haverá outras condicionantes como se verá, mas o problema da comunicação foi sempre o maior entrave.
Não que não se fomentasse o diálogo e a partilha de problemas; muito pelo contrário. Porém, quando chegava a hora de conversar e contar aspectos sucedidos, havia sempre alguma coisa que corria mal. Se antes não sabia o que seria este factor estúpido que levava a que tudo fosse por água abaixo, hoje, do alto do meu quase quarto de século, saberei certamente identificá-lo. Identificá-lo, não resolvê-lo.

Veja-se a coisa deste prisma: se há encorajamento ao diálogo, como se fossemos todos amigos e colegas uns dos outros, o mais normal é chegar a casa e contar o que se passou, o que aconteceu a alguma colega, o que se passou na escola, as coisas que se gostariam de fazer, todas essas coisas que, de uma forma ou de outra, se confidenciam a amigos.
Bem que se tentou; porém, no que toca a confidências, sempre houve do outro lado uma aversão qualquer em ouvir algumas coisas saídas da boca de miúdas com 13 ou 14 anos. Se antes, não sabia qual era o grande problema em ouvir as coisas dos putos, hoje sei perfeitamente de que se trata. Identificar a questão, não solucioná-la.


O problema é que as mães serão sempre mães, terão sempre os seus limites bem definidos, as suas funções muito bem estruturadas, todas as suas baterias apontadas a um único objectivo. Que não é mais que o bem estar dos filhos, mantê-los saudáveis e limpos, sem se meterem em sarilhos, felizes e contentes. O que levava necessariamente a que situações em que outros se metiam, e que depois eram contados em casa, davam direito a sermões intermináveis acerca de não fazer o que esses tais outros fariam, como se fosse eu que tivesse feito a asneira e não os outros. E quem diz contar acontecimentos, também diz partilha de ideiais, o que levava inevitavelmente, a mais um sermão sobre os perigos do mundo.
Até que um dia, desisti de partilhar confidências. Não valia a pena. Porque para quem não tem encaixe mental para acompanhar o evoluir do tempos na pessoa dos filhos, também não tem encaixe para ouvir as confidências deles. Porque o que dali resulta é um sermão ou uma frase mais amargurada sobre o que os outros fazem, tu também podes muito bem vir a fazer.

Quer dizer que era julgada antes mesmo de fazer asneira. E isso serviu-me exactamente para quê? Para nada, a não ser deixar de contas as peripécias, minhas e dos outros, lá em casa.

Se fosse hoje, saberia que coisas as há com as quais não vale a pena encher a cabeça da progenitora; ou porque não compreende, e mesmo que faça o esforço, não aceita, e lá voltamos nós à velha estratégia do sermão que é para ti porque os outros fazem e tu também podes vir a fazer, por isso toma já lá, e não digas que vens daqui.. Se fosse hoje, já saberia que mãe há só uma, e é maravilhosa, só não está é aberta ao que seja demasiado estranho à Idade Média, tempo em que foi educada.

Tão simples como isto. Saber viver, ter jogo de cintura, saber o que se pode dizer e o que é preciso omitir. Perceber que, por mais que tentem ser modernaços, o obscurantismo está entranhado neles como a fuligem nas chaminés, e que por mais que se esfregue, não se consegue tirar.

O que não se está à espera é que as gentes das 'novas gerações' façam o mesmo; criticar, julgar e mandar sermões só porque os outros fazem, logo e inevitavelmente, vais fazer também. Se é medo e preocupação que têm, certamente haverá outras formas de lidar e contornar a questão que não necessariamente a 'castrar' confidências.
Porque esse é um caminho que fomenta tudo menos as amizades.
Esse é um caminho que faz com que as pessoas tenham a sua função muito bem definida, sim senhor, mas não convidam à partilha das emoções.
Esse é um caminho que, a dada altura, se bifurca inevitavelmente.
Porque sete séculos de Inquisição foram mais que suficientes.

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