segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Sic Transit

Nos tempos áureos em que nada mais havia para fazer senão pensar na morte da bezerra, tinha a forte convicção de que a todas as mulheres fazia falta, pelos menos uma vez, um cabrãozinho na sua vida, daqueles mesmo bons de roer, o bad boy, o destruidor de corações, o rasgador de cuecas, a queca milionária que depois saía de mansinho para nunca mais voltar/nunca mais devolver a chamada/nem sequer responder a um reles sms.
Um cabrão faz muita falta a uma mulher, dizia eu, que assim as mulheres aprendem a nunca mais querer uma merda tão grande como aquelas, uma vez que o tenham querem é vê-lo dali para fora e nunca mais voltam a cair numa história daquelas.
Dizia eu, na minha arrogância, estupidez e burrice atroz, que ninguém no seu perfeito juízo quereria de boa vontade um playboyzeco de meia tigela a chagar os cornos para só ter o proveito pela metade, a coisa boa levam-na logo, o que é chato, tipo dar a mão, dar beijinhos, ir ao cinema, aturar crises, deixa lá, fica lá com isso, quero lá saber, deita-te mas é aqui e baza pinar.
Dizia eu, oh triste sina de cérebro escurecido, que uma vez que uma gaja apanhar um gajo desses passa a saber cheirá-los à distância, numa destas nunca mais me apanham, isso é que era doce, quando muito agora é a minha vez de me vingar, levas com ela, mas também não levas mais nada e anda de lambreta daqui para fora.

Dizia eu.

Porque nos meandros da realidade a coisa passa-se exactamente ao contrário.
Quanto mais cabrão é, mais saída tem. E quanto mais cabrão camuflado é, daqueles mesmo perigosos, que parecem anjos de candura e depois têm o diabo na alma, daqueles que parecem princípes mas são tubarões, que a metáfora do sapo já não tem cabimento aqui, mais apreciado é.
Quanto mais sabem que aquilo não é boa rês, mais correm atrás, mais ficam à espera, mais gostam de gastar horas de sono e de sossego a pensar naquilo que não podem ter.

Estou velha, é a conclusão.

Na minha velha visão do mundo, em que impera uma versão de justiça obviamente obliterada pela estupidez constante, percebo que não sou feita para o mundo da cabrice actual, e que mais vale dedicar-me desde já à pesca para, no dia de amanhã, não ser apanhada a dizer coisas como no meu tempo não havia nada disto, não havia pouca vergonha ou isto é o fim do mundo!

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